Lição #47: Cuidado com Concursos

Eu sempre achei interessante a ideia de concursos de Game Design. Especialmente quando uma Editora se prontifica a fazê-lo para assinar contrato com o vencedor. Parece aquela alternativa Win Win. O Game Designer, geralmente desconhecido, consegue publicação e a Editora consegue um bom jogo. Entretanto, tudo isso é uma ilusão, pelo menos nas terras tupiniquins.

Antes de reclamarem de vira-latismo, comentei terras tupiniquins, pois participei apenas de um concurso fora e deu tudo certo. Na realidade, deu mais do que certo. Foi prometido apenas a arte, mas o jogo terminou por ser publicado por uma Editora mesmo. Que sequer estava envolvida no processo. Enquanto que aqui no Brasil, foram três concursos. Dois deles ainda não concluíram o ciclo. E o outro, dependendo do ponto de vista, também não. E isso, é um péssimo sinal. Fora um que não participei, mas já soube que deu errado. Então, apesar da amostra pequena, é inegável que existe um problema.

Se você acompanha o blog, vai saber que participei do infame Concurso da Papaya; de uma competição de protótipos da Game of Boards; e do concurso da Precisamente. No caso das Editoras houve promessa de publicação e no caso da Game of Boards a Red Box (editora) interviu e também se prontificou de analisar a publicação do vencedor. Não me recordo bem se foi promessa, mas quando eu disser a história vocês vão entender o que está acontecendo.

O Concurso da Papaya foi, de longe, o mais traumático e mais problemático. Na realidade, dos que participei, foi o único que deu 100% errado. O concurso foi anunciado no dia 06/02/2017 e as inscrições foram até dia 10/03/2017. Eu enviei vários jogos, pois era permitido. Pediram um vídeo de até 60 minutos, o que é tempo demais. Aqui, já dá para perceber o amadorismo. Quem é que precisa de 60 minutos pra expor um jogo? O tempo foi tanto que eu botei uma partida completa no vídeo. O avaliador iria sofrer demais no processo. Que também foi bem estranho. A Papaya convidou pessoas externas e não checou nada. Isto é, haviam jurados que conheciam os concorrentes a nível de amizade. O pior não é cometer essa gafe, o pior é dizer que checou e existirem casos assim.

Houveram vários prazos no meio do caminho e nenhum foi cumprido. Era perceptível que existiam dois elementos: descaso e amadorismo. O próprio Editor não visualizou os vídeos, pois antes da convocação dos jurados (que demorou mais de um mês após o envio de todos os jogos), tive vídeo com nem um minuto de visualização. Passou-se uma era. Então, finalmente, tivemos o resultado da semifinal. Meu jogo foi selecionado e enviamos os protótipos. Depois de 4 meses com nossos protótipos, fomos informados que tinham sido jogados apenas 4 dos 12 jogos. É um jogo por mês? Piada demais.

O que aprendi nesse concurso? Não entre em concurso sem cronograma bem organizado, seus jogos ficam presos por tempo indefinido. E também não faça como eu… Não envie todos os seus jogos, enviei meus 3 jogos que tinha completos na época e fiquei na pendura com todos eles. Na realidade, você pode enviar e quebrar o compromisso do concurso, mas esse não sou eu. É, eu pago pelos erros dos outros. Paciência. Game Designers são, de longe, o elo mais fraco de todo o processo. A gente se submete a cada coisa e costuma sempre se dar mal sem ter nenhuma consequência pro outro lado. Até hoje não vi mais o protótipo que enviei. E olhe que solicitei mais de uma vez. Parece até que perderam o jogo ou revenderam as peças.

Sanderson Virgolino vencendo tudo com Cangaço.

Deixando de lado esse concurso tenebroso da Papaya. Vamos para a competição da Game of Boards. Esse funcionou relativamente bem. Existiu uma premiação em dinheiro e cupom de desconto. Fica aqui o lembrete. Geralmente, competições com premiações imediatas funcionam. Afinal, seria meio feio concluir o concurso e não dar a premiação que não requer um pós-trabalho para ser gerado, como a publicação de um jogo. Sendo que como falei, a Red Box resolveu assinar o contrato do vencedor: Cangaço. Essa competição aconteceu em 01/07/2017. Cangaço ainda não foi publicado. Sim, 3 anos depois. O jogo possui página na Red Box e livro de regras. Alias, demorou tanto que a Red Box mudou até de nome e virou Buró. Espero que realmente seja publicado para encerrar esse ciclo e contar como um caso de “sucesso”. Sim, entre aspas, pois 3 anos não é brincadeira. O maior problema dessa competição, entretanto, não foi essa demora, mas sim o quão obscuro foram as avaliações. Eu falei toda a experiência aqui no blog em uma postagem gigante com 4 partes. Se você é uma Editora ou qualquer outra entidade interessada em fazer concurso (ou apenas um entusiasta que gosta de participar e saber das coisas), recomendo a leitura.

Criador e criatura (Guilherme Bacciotti e Imigrantes)

Por fim, o último concurso que participei foi o da Editora Precisamente. A ideia do concurso era bem similar ao da Papaya, isto é, a Editora publicar o vencedor. Entretanto, foi muito melhor organizado e muito mais profissional. Os prazos foram todos cumpridos até onde me recordo. Entretanto, é mais um concurso que está sem fechar o ciclo. O resultado saiu 31/08/2019 tendo o jogo Imigrantes como vencedor. Estamos quase um ano depois e o jogo ainda não saiu. Não vejo tanto como problema essa demora, um ano é aceitável. Entretanto, a situação está bem estranha. Tirando uma notícia sobre ser publicado em 2020, não tive mais outras notícias do Imigrantes. Inclusive, a Editora está fazendo marketing de outro jogo nacional, como se o Imigrantes tivesse sido esquecido. Eu já passei por isso e sei como o autor deve estar se sentido com a situação. Espero que tudo dê certo e o jogo realmente saia. A Precisamente mostrou ser bem profissional e atenciosa com os Game Designers.

Bom, além desses três concursos que participei, tivemos um concurso da Calamity Games em parceria com a Queen Games. Eu, já calejado de concursos, não participei. Também conheço a reputação da Queen, que sequer envia para o Brasil. Achei estranhíssimo ela fazer um concurso dessa natureza. Para completar, já apareceram alguns casos de Game Designers extremamente conhecidos que não foram pagos pela Queen Games. Então… Acho que fiz bem em pular esse concurso. Todos os prazos que deram foram ignorados e o concurso não teve resultado e, aparentemente, nunca terá nada além, pois a parceria da Queen Games com a Calimity Games acabou.

Demorei a fazer essa postagem, mas depois desse último concurso acho que seria uma boa abrir os olhos dos Game Designers novatos. Concurso pode ser algo bem legal, mas fiquem atentos nessas oportunidades dadas por Editoras. Geralmente não dá certo. Você vai perder tempo, investir seu emocional e expectativas em coisas que nunca vão acontecer. Vale mais a pena ir atrás das Editoras por e-mail mesmo, especialmente da maneira que montam os concursos aqui: não existem parâmetros, aceitam todos tipos de jogos. Recentemente, participei de um concurso da Button Shy e esse sim faz sentido. Existe um escopo que deve ser obedecido, proporcionando um ambiente em comum para os concorrentes. A chance dele funcionar é muito maior, pois você irá fazer algo que a Editora de fato quer publicar. Pode acontecer de não ter nenhum jogo que ela queira? Pode, mas é bem difícil, viu? Ainda mais um concurso aberto para o mundo inteiro. Fora que como é um jogo pequeno, os riscos envolvidos são bem menores.

Ficou curioso com o concurso que falei lá no começo que deu mais do que certo? Foi o concurso da Gen Can’t que já falei por aqui. O vencedor conseguiu a premiação normal, que seria ter a arte do jogo feita pela Beth Sobel e, eventualmente, foi publicado por uma Editora mesmo. Inclusive, fizeram arte nova para o jogo. Isso sim que é respeito pela competição e pelo Game Designer. Qual o jogo? Welcome to Dino World.

Então, qual a Lição que fica? Participe de concursos sim, mas pese bem antes tudo: prazos, premiações, condições. Existem vários concursos interessantes e reais mundo a fora, resta você participar dos corretos. Vou deixar a indicação de um que participei e não citei que é o Hippodice. Não citei simplesmente porque é um concurso tradicional e que dá certo por muitos e muitos anos. Não é uma Editora que organiza, mas na realidade isso é a melhor parte. Propícia uma abertura para várias Editoras entrarem no processo em busca de algum jogo que interesse a eles. Não há garantias de publicação, mas a seriedade aqui é notável. Boa sorte e sucesso!

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