Resposta #2: Aspirante a Game Designer (Parte 1)

Bem-vindo, você, futuro Game Designer. Ignore o fato dessa postagem ser Resposta #2, pois a Resposta #1 não tem qualquer conexão com o tema de hoje. O questionamento de hoje não foi feito diretamente a mim, mas senti a necessidade de respondê-lo aqui. O principal motivo é que o número de pessoas interessadas em criar jogos de tabuleiro está crescendo. Bastante. Não é raro aparecerem pessoas perdidas, atrás de material ou de pelo menos um guia de como proceder.

Então, durante essa semana, tentarei responder o seguinte questionamento:

Recentemente tenho me interessado bastante por Game Design, especialmente criação de jogos de tabuleiro. Como faço para começar de fato?

Essa pergunta é fictícia, mas foi inspirada em uma postagem recente no Facebook. Portanto, a ideia é elaborar um pequeno guia tentando explicar mais ou menos como funciona esse começo e, espero, que ajude as pessoas que desejam trilhar esse caminho.

Antes de começar, gostaria de destacar que durante essa postagem teremos diversos links. Todos eles são referentes a postagens daqui do blog, com o intuito de aprofundar algum tópico específico. Assim, você pode ler no seu ritmo. Visitando os links que aparecem durante a leitura inicial, após uma leitura completa ou sem visita-los. Em suma: quero que você tenha aqui um apanhado de informações úteis para facilitar sua iniciação como criador de jogos de tabuleiro. Então, sem mais delongas, vamos começar.

Como quase tudo nessa vida, Game Design existe no âmbito teórico e prático. Isto é, você pode estudar por livros, fazer um curso sobre o assunto ou até mesmo uma graduação. Outra opção, é você simplesmente meter a cara e passar por várias dificuldades até, finalmente, ter uma pequena noção do que está fazendo. Sinceramente, não sei qual o melhor caminho, mas eu estou no segundo grupo de pessoas. Portanto, a postagem será enviesada para este caminho. Afinal, não posso falar da teoria do que não estudei. Se esse tipo de conteúdo não interessa a você, entendo perfeitamente e peço desculpas por ter perdido seu tempo lendo até aqui. Entretanto, acredito que uma leitura atenta e completa dessa postagem vai lhe poupar, no mínimo, seis meses de pancada na cabeça.

Lição primordial da coluna Aprendendo Errando. Teremos muitos links dessa coluna durante essa resposta. Visite-os para não repetir os meus erros.

Antes de criar seu primeiro jogo, é importante que você tenha bagagem. Isto é, você precisa ter jogado outros jogos. E não apenas “outros” jogos, mas sim vários jogos. Quer um número mágico? Jogue pelo menos 150 jogos. Sendo que não é simplesmente sentar e jogar. Você precisa analisar esses jogos. Como assim, analisar? Identifique as mecânicas do jogo, encontre falhas, verifique o balanceamento. Começou a complicar, não é mesmo? Vamos colocar um pé no freio e falar um pouco sobre essa análise.

Para identificar as mecânicas de um jogo, você precisa pelo menos saber quais existem. Para tal, recomendo visitar a respectiva seção na Ludopedia (português) ou no BGG (inglês). Lá, você encontrará definição de cada mecânica e os jogos que utilizam aquela mecânica. De começo vai ser difícil, mas com o tempo virão naturalmente. Apesar de existirem 51 mecânicas, a maioria dos jogos não usam mais que cinco. Aqui no blog também tem um Glossário, no qual eu explico algumas delas e outros termos importantes. Se não conseguir identificar as mecânicas, você pode verificá-las nas fichas dos jogos nos portais já citados.

Como vou encontrar falhas no jogo? Simples, force o sistema. Tente estratégias inusitadas. Pressione botões que os demais jogadores não imaginam. Com o tempo, você vai começar a entender como o sistema dos jogos funcionam. Sim, dos jogos. Mesmo você jogando jogos diferentes, os sistemas muitas vezes se repetem por conta das mecânicas e das suas mesclas. Existem certas soluções que são clássicas e você vai começar a perceber a existência delas.

Como vou verificar o balanceamento? Em geral, os jogos modernos possuem vários caminhos para a vitória. A ideia é que eles estejam balanceados entre si, ou que pelo menos passem a impressão de estarem. Nenhum jogador quer perder a partida simplesmente porque “escolheu” o caminho incorreto. Você precisa verificar se os demais jogadores tiveram uma boa chance de vitória e, com algum bom senso e humildade, perceber se o vencedor da partida de fato mereceu sair vitorioso. Esse processo talvez precise de uma boa dose de reeducação. Afinal, nós sempre somos merecedores da vitória, não é mesmo?

Maiores aglomerados de informação sobre jogos de tabuleiro: Board Game Geek (BGG) e Ludopedia.

Um ótimo exercício para realizar esse tipo de análise crítica dos jogos, é você escrever resenhas sobre eles. Não precisa criar um blog ou canal no Youtube. Você pode dar notas e deixar comentários tanto na Ludopedia como no BGG. Faça mini-resenhas. Eu tenho feito aqui no blog primeiras impressões com o Desafio 100N. Recomendo que façam o mesmo, tanto o desafio como escrever sobre os jogos que conheceu. E durante toda essa sua pesquisa, você terá ideias. Anote tudo, pois será muito útil quando você for de fato criar seu jogo.

Essas ideias geralmente chegam como críticas sua aos jogos que conheceu, isto é, modificações para melhorar algum jogo. Nada impede de aplicar essas ideias em uma criação sua. Mesmo que o jogo seja inspirado em algum outro, a tendência é que eles se tornem diferentes ao colocar ou remover alguns elementos e, principalmente, depois de uns bons meses de desenvolvimento.

Certo, Roberto, conheci 150 jogos e joguei todos com uma visão crítica. Se, nesse ponto, você ainda estiver se divertindo nas jogatinas. Excelente. Você tem tudo para gostar de ser um Game Designer. Caso contrário, essa é a primeira barreira “mental” que você vai enfrentar. Se você não consegue se divertir jogando um jogo e analisando-o, acredito que criar um jogo será muito custoso para sua saúde mental. Você vai se frustrar, você vai cansar e, muito provavelmente, você ou vai desistir no meio ou finalizar o jogo antes que ele esteja de fato finalizado simplesmente para se livrar. Então, reflita bem antes de prosseguir.

Note que o número mágico não é um teto mágico. Isto é, não é porque você jogou 150 jogos que você agora pode criar todos os tipos de jogos imagináveis. Game Design requer constante aprendizado. Você não pode parar de jogar e de conhecer novos jogos. Caso contrário, você ficará estagnado. Então, 150 jogos é apenas o começo da brincadeira. Com 150 jogos, talvez, você possa criar seu primeiro jogo sem tantas dificuldades.

Com toda essa bagagem, você também começou a se conhecer como jogador. Você prefere Party Games? Prefere Eurogames? Prefere abstratos? Você não sabe do que estou falando? Visite o Glossário para compreender que esses termos são estilos de jogos. Muito provavelmente, dependendo do seu gosto, você terá mais partidas para determinado estilo de jogo. Isso não é problema nenhum, inclusive isso faz parte desse processo. Para definir qual será o seu primeiro jogo, eu recomendo você criar algo que você conhece bem. Jogou 150 jogos? Ok. Agora você precisa que pelo menos uns 30 sejam do estilo que você pretende criar. Não importa conhecer mil jogos e querer criar um estilo que você só tem uma bagagem de 10 jogos. Você precisa não só conhecer o estilo que está criando, mas também gostar. Você precisa criar um jogo que jogaria repetidas vezes.

Então, chegou a hora da verdade. Chegou a hora de criar um jogo, mas vamos deixar isso para sexta-feira. Até lá.

12 Comments

  1. Fred Barcelos
    15 de fevereiro de 2018

    Eu prometi pra mim mesmo que ia parar de discutir sobre game design… Mas vamos lá!

    Responder
    1. Roberto
      15 de fevereiro de 2018

      Pelo visto você contou até 10 e decidiu manter a promessa, né? Bom, se não quiser discutir o assunto, pode deixar também suas críticas e sugestões sobre a postagem… Abraço.

      Responder
  2. Fred Barcelos
    16 de fevereiro de 2018

    Olá Roberto, desculpe pelo intervalo entre meus comentários, eu precisava escrever em um computador, não num celular, a resposta que quero lhe dar. (se prepara que lá vem textão rsrsrs)

    O que tenho a dizer diz respeito a jogos médios e complexos, não à party/family games.

    Estou nesse hobby há pouco tempo, setembro de 2015 pra ser exato. E claro que logo no início de 2016 já estava tentando criar um jogo. E claro que não foi pra frente a ideia, apesar de estar, na época, envolvido com um grupo de pessoas focadas em desenvolvimento. Preferi guardar meu projeto e esperar obter mais experiência pois logo percebi, que o “buraco era mais embaixo” nessa questão de desenvolver seu próprio jogo.

    Então, fui conhecendo jogos, jogadores, produtores de conteúdo nacionais e internacionais e fui aprendendo um bocado. Primeira lição: A opinião dos produtores de conteúdo reflete APENAS a opinião deles próprios, e de mais ninguém! Não quero me aprofundar nos problemas que vejo nos produtores de conteúdo (e em suas opiniões sobre os jogos) pois seu post é sobre game design, porém vejo uma relação próxima entre os problemas que vejo tanto em quem produz conteúdo quanto em quem está trilhando o caminho da elaboração do próprio jogo: falta humildade!

    (Estou pegando leve, pois esse assunto, pra mim, beira o desrespeito! Desrespeito aos desenvolvedores de jogos)

    Vou usar você, Roberto, como exemplo. Nos seus posts sobre sua coleção (que são excelentes por sinal, aliás gosto muito do seu blog como um todo, o acompanho há algum tempo) você mencionou que se desfez de Terra Mystica depois de ter jogado com todas as 14 raças, num total de 20 partidas… Bom, pra mim você não tem como avaliar o jogo! Você não tem partidas suficientes com cada uma das raças para avaliá-las e esse fato, repito a palavra, esse fato, faz com que você não apenas avalie e julgue um jogo complexo, que levou anos de desenvolvimento, sem ter o conhecimento necessário para tal!

    Me parece ser o grande “calcanhar de Aquiles” dos colecionadores de jogos: Colecionadores não jogam os jogos, eles apenas os conhecem!

    E julgam! Ah, como julgam! Influenciando negativamente outros jogadores, principalmente os novos no hobby, com opiniões/análises/reviews, na minha opinião, irresponsáveis e desrespeitosos com o jogo e com seus autores. Frases como “O jogo/personagem/estratégia é claramente desbalanceada!” ou “No fim o jogo é decidido na sorte dos dados ou do saque de cartas!” (eu mesmo cheguei a acreditar por um tempo que um jogo não podia ter como cerne a rolagem de dados, pois “claramente” isso tiraria as decisões dos jogadores e deixaria tudo à mercê da sorte). Eu já cansei, estou farto, decepcionado e até mesmo frustrado, com a arrogância (muitas vezes involuntária, vinda da simples ignorância) de achar que por que ele, o colecionador, jogou um número considerável de jogos, usando o seu “número mágico”, 150 jogos, ele, como jogador, achar que tem o conhecimento (ou bagagem) suficiente para avaliar/julgar um jogo com apenas uma, duas ou três partidas… Pelo pouco que vi, jogos complexos, exigem dezenas de partidas, e esse número aumenta consideravelmente quando esses jogos possuem alguma aleatoriedade ou assimetria.

    Um exemplo:

    Tenho 157 partidas (online, no site yucata.de) de “As Viagens de Marco Polo” (não sei quantas presenciais tenho, acredito que por volta de vinte, fora as partidas solo usando um deck que automatiza um adversário, feito por um usuário do bgg). E, por acaso, escrevo essa resposta logo após terminar uma partida presencial, e mesmo depois de sei lá, 200 partidas? Me surpreendi com a jogada inicial de meu adversário! Eu posso dizer que conheço o jogo. Depois de tantas partidas, entendo o balanceamento dos bônus de contratos e das cidades e ainda acho incrível como os autores conseguiram criar um jogo que lide com tanta aleatoriedade de bônus (em contratos, cidades e personagens) aliados à aleatoriedade de dados! Realmente esse jogo me impressiona! Agora, vai assistir ao vídeo do After Match sobre as maiores decepções do ano de 2016 https://www.youtube.com/watch?v=Ba7KdaM3QFA … Marco Polo está lá, como uma das maiores decepções do ano… Depois do incrível número de UMA ÚNICA partida jogada! Ainda lembro de um dos participantes da gravação dizer “Como pode um jogo de alocação de dados, com rolagem de dados, ter um personagem que escolhe a face dos dados?”. Te garanto, esse personagem está longe, muito longe de ser desbalanceado! Lembra que estou escrevendo depois de uma partida presencial? Pois então, foi uma partida de dois jogadores, eu fui o primeiro a escolher dentre três personagens possíveis, aquele que escolhe a face dos dados, aquele que não paga multas e aquele que usa dois meeples no mapa… Escolhi o que usa dois meeples e meu adversário, em seguida, escolheu o que não paga multa (e devolvemos o que escolhe a face dos dados para a caixa do jogo)… Interessante, não?

    Vou ressaltar o post que Ignacy Trzewiczek escreveu sobre esses “caras” (nas palavras dele) que jogam uma ou duas vezes o jogo e analisam “sabiamente” seu balanceamento, https://boardgamegeek.com/blogpost/67094/would-your-father-ebay-your-bike , é um post que você deve ler e refletir muito bem sobre o que ele diz.

    O que quero dizer afinal? Que jogos não possuem defeitos? São imunes a erros?

    Não! Não é isso que estou querendo dizer.

    Quero dizer que, por mais experiência que um jogador tenha, será ele realmente capaz de avaliar um jogo que levou, no mínimo, um ano (sendo generoso aqui) de testes e balanceamento, em poucas partidas?

    Não, ele não é!

    (Lembrando que me refiro à jogos complexos, não à party/family games).

    Existe um caso famoso de erro de balanceamento no jogo “A Few Acres of Snow” onde foi descoberto pelos jogadores uma falha no balanceamento do jogo, pois havia um caminho, que se seguido, levaria, inevitavelmente, à vitória. Então pode sim acontecer de um jogo ser testado à exaustão e mesmo assim ser lançado com falha, claro, somos humanos, e qualquer um pode errar. Agora, me pergunto se a falha nesse jogo citado (ou em qualquer outro) foi encontrada depois de apenas uma, duas, três ou quatro partidas? Duvido muito! (posso estar errado, mas se tivesse que apostar, apostaria em um fã do jogo com dezenas de partidas foi quem encontrou o problema)

    No início, eu não tinha o menor pudor em criar “regras da casa” para meus jogos. Bastava não concordar com uma regra ou um conceito no jogo, para eu ir lá e “brilhantemente” concertar aquela regra que não era interessante… Depois de jogar muito um mesmo jogo (no caso foi o Batalha dos Cinco Exércitos) eu percebi um erro de interpretação de UMA regra de minha parte e então voltei às regras originais e NUNCA MAIS alterei qualquer regra qualquer jogo que fosse! Descobri que os autores criam regras não só para equilibrar um jogo, mas aquele conjunto todo de regras e exceções trazem uma experiência, que torna a obra, única! Desde então tenho profundo respeito pelos jogos que tenho a oportunidade de jogar e tento, da melhor maneira possível, entender que tipo de experiência o(s) autor(es) do jogo quer(em) que eu tenha jogando seu jogo!

    E, Roberto, quando você começou a desenvolver jogos, deve ter percebido que desenvolver é bem diferente de jogar (aliás sua dica de “2 é o dobro de 1” foi realmente incrível! Parabéns pelo trabalho aqui nesse blog!), mas infelizmente, o que mais vejo nos jogadores é arrogância, e na minha opinião os produtores de conteúdo chegam a ser IRRESPONSÁVEIS ao emitir suas opiniões com base em poucas partidas, sem o menor respeito à experiência que os desenvolvedores de jogos possuem. Falta muita, muita mesmo, humildade!

    Por enquanto é isso, e fica aqui mais uma vez meus parabéns pelo seu trabalho aqui! Acompanho pois você faz uma excelente divulgação de seus posts (facebbok e ludopedia), e claro, comento pouco, mas vou tentar corrigir esse erro!

    Até a próxima!

    Responder
    1. Roberto
      16 de fevereiro de 2018

      Eita que foi textão mesmo hehehehehe

      Li tudinho, mas não entendi muito bem o contexto da sua resposta com relação ao meu post… Talvez tenha achado que eu estou super-simplificando o processo de Game Design?

      Em todo caso, vou tentar manter a discussão… E vou responder alguns pontos que você colocou. Como sua postagem ficou muito grande, vou responder colocando uns recortes aqui para facilitar a compreensão do que estou falando.

      “A opinião dos produtores de conteúdo reflete APENAS a opinião deles próprios, e de mais ninguém!”
      Concordo. 😉 Uns 6 anos atrás eu comprei vários jogos baseados em Top’s de reviewers que eu considerava entender do assunto. Vários jogos me decepcionaram. No final das contas é tudo uma questão de gosto. O jogo pode ser perfeitamente balanceado e brilhante em suas estratégias, mas se eu não curtir o estilo… Não vai descer legal.

      “falta humildade!”
      Concordo… Já fui culpado disso no passado, com resenhas de fato. Hoje em dia evito esse tipo de conteúdo, apesar de colocar minhas breves impressões dos jogos aqui e, muitas vezes, elas serem bem contundentes.
      Hoje tento evitar esse tipo de comportamento, especialmente na área de Game Design. Não sei se foi endereçado também a mim. Mas se foi, eu gostaria de saber onde demonstrei algo assim, pois gostaria de corrigir esse defeito.
      Nessa postagem, em específico, acho que o único momento foi quando exaltei a qualidade do material sobre dizer que pouparia no mínimo 6 meses. Acredito ser uma realidade, pois comecei em 2011 e se eu tivesse lido um conteúdo similar ao meu, provavelmente não teria demorado tanto para de fato terminar meus jogos.

      “Bom, pra mim você não tem como avaliar o jogo!” (sobre TM)
      Entendo o ponto de vista, mas não vejo problema em expressar opinião sobre um jogo. Não me considero um expert em Terra Mystica, eu nem de longe sou um bom jogador do jogo, pois não me aprofundei em nenhuma raça. Mas acredito sim, que sou capaz de observar qualidades e defeitos do jogo após essa quantidade de partidas. Eu não posso julgar o balanceamento ou a parte matemática, mas “o jogo” como um todo, não vejo problema. Inclusive, infelizmente, Terra Mystica pode ser chamado de desbalanceado. Não que eu seja um expert e tenha calculado isso em minhas partidas, mas os dados coletados no jogo online não mentem e demonstram a superioridade (grande) de certas facções sobre outras. O problema é tão real que colocaram regra de leilão para escolha das facções, visando minimizar esse problema. O que pra mim, não minimiza, só aumenta colocando a responsabilidade do balanceamento sobre os jogadores.

      “Colecionadores não jogam os jogos, eles apenas os conhecem!”
      Concordo em partes, mas acho que você está exagerando aqui. Ta parecendo a “polícia dos colecionadores”. Eu vejo esse problema com reviewers, mas jogadores? Acho que cada um aproveita o hobby como achar melhor. O cara quer jogar cada jogo apenas 1 vez e pronto? Deixa ele.

      “Te garanto, esse personagem está longe, muito longe de ser desbalanceado!” (sobre Marco Polo)
      Concordo e, inclusive, é o personagem mais sem graça do jogo (por isso não me surpreende nenhum de vocês dois terem escolhido) hehehehe É como se você “removesse” uma parte do jogo para esse jogador, que seria o gerenciamento dos números obtidos.
      Ele é bom para novatos, pois de fato torna o jogo mais simples, do ponto de vista de análise de variáveis para traçar uma estratégia que funcione. Ele é aquele tipo de personagem poderoso para iniciantes, mas que com o tempo o poder dele vai ser perdendo diante do poder dos outros personagens mais complexos.

      “Vou ressaltar o post que Ignacy Trzewiczek”
      Já li esse post do Ignacy… Só acho triste a unilateralidade da coisa. Pessoas podem dizer que o jogo é perfeito após uma partida, mas não podem dizer que é quebrado. Eu acho os dois prejudiciais, mas as pessoas só reclamam do negativista.

      “No início, eu não tinha o menor pudor em criar “regras da casa” (…)”
      Concordo muito com você. Se o game designer criou o jogo de um jeito, não sou eu quem vai modificá-lo para “corrigi-lo”.

      No mais, simpatizo e entendo sua revolta e seu textão. Só acho que infelizmente essa é a nossa realidade e provavelmente não mudará. Na realidade, acho que a tendência é piorar.
      O Brasil ainda é muito novo nos jogos de tabuleiro. Então, a opinião dos reviewers afetam algumas pessoas, mas o público ainda é pequeno. Imagine quando o mercado estiver grande e o público for BEM grande? Esses reviewers é que “guiarão” o mercado. Nos EUA, existem jogos que esgotam rapidamente ou entram em promoção (pois não vendem nada) simplesmente por conta de uma resenha de Tom Vasel.
      Quando o mercado brasileiro crescer o suficiente, eu vejo isso no nosso futuro.

      Não respondi exatamente todos os seus comentários, pois foram vários exemplos para expor a mesma ideia. Obrigado pelo tempo gasto em postar esse comentário e, claro, pelos elogios. Abração.

      Responder
      1. Fred Barcelos
        16 de fevereiro de 2018

        Roberto, novamente estou no celular (e no banco) então não vou poder dar a devida atenção à sua resposta. Mas o farei assim que possível, mas lendo brevemente o início de sua resposta concordo que não “amarrei” corretamente meu texto ao tema, depois que publiquei até comentei com minha colega de trabalho (com quem eu havia jogado está noite) que eu quase “fugi” do tema kkkkkk. Mas já adianto que não referi críticas à você, na verdade usei suas palavras como exemplos (como os “150 jogos”), até mesmo a parte do Terra Mystica não foi uma crítica à você, mas o usei como exemplo para criticar várias pessoas que conheço pessoalmente, e pela Internet, que fazem verdadeiras catástrofes com suas análises (o Maurício do After Match sim, foi uma crítica direta!). Bom quatro ler com calma suas respostas, e continuar a discussão (no sentido saudável da palavra, pois sou um admirador de seu trabalho neste blog e espero um dia ser seu admirador como game designer).

        Responder
        1. Roberto
          16 de fevereiro de 2018

          Entendi Fred, fiquei na dúvida se algo era endereçado a mim, pois não ficou claro… Afinal, a expectativa é que seja, tendo em vista que a postagem é minha, mas como não soou direcionado a mim, resolvi perguntar para ter certeza. hehehe

          Obrigado pela estima… Espero que meu primeiro jogo publicado não decepcione, apesar de acreditar que está longe do seu estilo preferido (é um filler).

          Aguardo sua resposta completa. Abraço.

          Responder
    2. Hudson Moraes
      15 de fevereiro de 2024

      Permita-me comentar sobre o seu comentário. E também compartilhar de seu entusiasmo pelo trabalho do Roberto. É realmente digno de muitos elogios.
      Eu tenho insistentemente tentado entrar nesse hobby desde o início da pandemia. E considero que ainda não consegui. Por diversas razões que vou me abster de comentar. Mas o fato de eu morar no deserto dos boardgames tem contribuído muito. Tudo isso para dizer que tenho zero experiência em euros. Literalmente zero. Mas imagino que de fato eles sejam bem mais complexos e difíceis de assimilar que os jogos que já tive oportunidade de experimentar.
      Terminada a introdução, vamos ao que interessa. Só queria acrescentar que essa realidade apontada, de serem necessárias várias partidas para um novato começar a entender a profundidade de um jogo, também abrange até mesmo os jogos abstratos. Me refiro aos jogos abstratos “raiz”. (Jogos como Pylos, Quarto, Othello, Jogo das Amazonas, Pentago, Abalone…) Os quais distingo do que chamo de jogos abstratos Nutella. (Jogos como Azul, Patchwork, Fotossíntese, Jaipur, ou qualquer jogo que, apesar de serem chamados de abstratos, possuem coisas como “artista ilustrador”.)
      Ou seja, um jogo simplicíssimo como Quoridor também necessita de umas boas 20 partidas para o cidadão começar a deixar de ser ingênuo.
      Sinceramente tenho dúvida se esse fenômeno não é ainda mais intenso nos abstratos simples do que nos euros. Mas, como nunca joguei um euro, prefiro não opinar.
      Enfim, concordo com você de que a avaliação de um jogo complexo com base numa única partida tem tanta validade quanto as do monte de gente que deprecia o xadrez mas se derrama em elogios por Onitama. Uma raça surpreendentemente abundante.

      Responder
      1. Roberto
        15 de fevereiro de 2024

        Opa Hudson, obrigado pelo comentário.

        Pois tente entrar no mundo dos Euros, talvez você goste. Não sei o quão distante da civilização você mora, mas talvez já tenha um grupo por aí. Dá uma pesquisada no Facebook, Ludopedia e afins. O ideal seria tu jogar uns Euros sem precisar comprá-los. Talvez fazer uma viagem pra ir em algum evento valesse a pena, dependendo das condições financeiras e distância. Em Março vou pro Spa dos Jogos aqui em Campina Grande – PB. Muita jogatina e muito jogo. 😉

        Responder
  3. Fred Barcelos
    20 de fevereiro de 2018

    Olá Roberto!
    Quero primeiro parabenizá-lo por sua primeira resposta (a segunda tbm) muito educada, obrigado mesmo. Estou cansado do ambiente hostil e ácido de um famoso grupo do facebook relacionado à jogos de tabuleiro (board games Brasil), e é um alívio ver como vc encarou e respondeu à meu comentário (que foi quase um desabafo, como vc bem notou eu me repeti em alguns tópicos, exatamente por aquelas questões me incomodarem há uns dois anos).

    Bom, vou me ater a sua resposta, pois quero salientar alguns pontos:

    “Não me considero um expert em Terra Mystica… Mas acredito sim, que sou capaz de observar qualidades e defeitos do jogo… Eu não posso julgar o balanceamento ou a parte matemática, mas “o jogo” como um todo, não vejo problema.”
    Concordo e acrescento que é exatamente a parte matemática e de balanceamento que me refiro quando digo que ninguém pode julgar um jogo com poucas partidas jogadas e, no entanto, qualquer um pode afirmar depois de uma única partida, que simplesmente, não gostou do jogo! O que defendo, é que o jogador não pode acusá-lo de ser desbalanceado com um punhado de partidas, mas pode sim, não gostar dele.

    “Acho que cada um aproveita o hobby como achar melhor. O cara quer jogar cada jogo apenas 1 vez e pronto? Deixa ele.”
    Também concordo! 😀 Acho que a grande questão do meu comentário foi exatamente essa (tanto que me repeti nele várias vezes), o que os jogadores dizem sobre os jogos depois de jogarem apenas uma partida (ou pouco mais que isso). Então fui procurar no seu post o porquê eu ter enfatizado tanto essa questão e acho que foi devido às duas frases a seguir:

    “Como vou encontrar falhas no jogo?” e “Como vou verificar o balanceamento?”

    Essas duas frases aliadas a “jogar pelo menos 150 jogos” devem ter disparado em mim toda minha frustração de ver excelentes jogos serem mal jogados e portanto mal avaliados por jogadores, reviewers (e não é só o After Match não, o próprio Tom Vessel falou uma besteira enorme sobre Oh My Goods, e tenho outros exemplos tbm) e colecionadores. (acredito que liguei os “150 jogos” à característica comum que vejo nos colecionadores de comprar os jogos e jogá-los pouquíssimas vezes devido o grande volume de novas caixas chegando)… Enfim, acho que foi por isso rsrsrs, mas repito, que entendi o conteúdo de seu post, é como se eu meio que aproveitasse que você tocou no assunto “jogue muito e avalie” para eu pôr pra fora essa minha repulsa por avaliações, no meu entender, pobres.

    E de qualquer forma, continue (sei que vc vai continuar) com seu excelente trabalho aqui no blog, obrigado por compartilhar sua experiência com o desenvolvimento de jogos, e até o próximo post!

    Responder
    1. Roberto
      20 de fevereiro de 2018

      Opa Fred,

      Realmente, a BG-BR é um ambiente bastante complicado… Na verdade, Facebook de modo geral. Um dos poucos ambientes de discussão sadia que tenho por lá é o grupo de Desenvolvedores e, ainda assim, tem algumas pessoas que aparecem apenas para criar problemas.

      Fico feliz que esteja gostando do bate-papo e que minhas respostas tenham lhe atingido de modo positivo, pois é sempre essa a intensão.

      Bom, com essa sua resposta acho que fechamos o ciclo e compreendo completamente o que acarretou a postagem e sua visão sobre o mundo dos jogos de tabuleiro.

      Só deixo o alerta final, que essas duas perguntas minhas (que você destacou no final da sua resposta para explicar sua frustração) são meramente exercícios para o Game Designer conseguir ter uma visão crítica dos jogos de tabuleiro, em vez de uma visão hobbysta. Assim, ele pode aplicar na criação dos próprios jogos, pois esse processo requer uma visão crítica e de auto-crítica muito apurada. Acredito, até, que exercícios como os indicados podem até ajudar os reviewers a terem uma visão mais realista sobre o jogo e jogarem pensando nas suas resenhas futuras, em vez de falarem baseados meramente no sentimento que teve durante uma única a partida, sem analisar friamente o jogo.

      Obrigado, novamente. Abração e até uma próxima oportunidade.

      Responder
  4. Hudson Moraes
    5 de maio de 2021

    “Crie um jogo que você jogaria repetidas vezes.”
    Então estou no caminho certo. Por enquanto só tenho criado variantes de xadrez. 🙂

    A grande dificuldade tem sido encontrar adversários. Acho que vou ter que aprender a programar. Para poder criar engines para meus próprios jogos.
    (Se crio variantes de xadrez, obviamente não pretendo ganhar dinheiro com isso. Pois isso não dá dinheiro nenhum. Faço para mim mesmo.
    Assim, objeções como – se não está encontrando adversários, é porque não está produzindo jogos interessantes – perdem um pouco o sentido.)

    Responder
    1. Roberto
      5 de maio de 2021

      Variantes de Xadrez deve ser bem difícil encontrar gente mesmo. Quem não gosta de Xadrez não vai querer e quem gosta talvez não queira também. Afinal, já tem o próprio Xadrez que é o jogo que a pessoa curte.

      Esse é o problema de fazer variantes dos jogos, é um bom exercício de Game Design, mas sempre vai ser ruim de testar, especialmente múltiplas vezes…

      Responder

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