Lição #3: Crie jogos que jogaria bastante

Sejamos honestos, quando você conhece os jogos de tabuleiro modernos tudo são flores. Todos os jogos são sensacionais e interessantes. Bom, ao menos foi assim comigo. Eu conhecia exatamente nove jogos quando comecei a criação de Rogue’s Quest e todos eles eram legais. Até o momento que deixaram de ser…

Quanto mais jogos você conhece, mais estilos você descobre. Quanto mais vezes você joga um mesmo jogo, mais você percebe suas qualidades e falhas (especialmente suas falhas). Então, depois que conheci mais jogos e joguei mais vezes os jogos que tinha, percebi uma coisa: eu não gosto de jogos solo, só estava interessado neles pela empolgação inicial e pela falta de outros jogos. É importante também tentar perceber por quais motivos você não gosta de um determinado estilo. Sabendo seus motivos, você se conhece mais e sabe quais tipos de jogos evitar e quais buscar. Seja para comprá-los ou criá-los. Eis os meus com relação aos jogos solo:

  • A melhor parte dos jogos de tabuleiro é jogar com outras pessoas, especialmente com quem você gosta;
  • Eu não gosto de enfrentar uma “máquina”, o jogo se torna previsível ou excessivamente aleatório para evitar a previsibilidade. Por isso não sou muito fã de cooperativos também;
  • Gosto de jogos com interação, não precisa ser por combate, mas não vejo muito sentido em jogar algo que cada jogador fica no seu canto, sem influenciar nas jogadas dos outros. Inclusive, a tendência é não haver conversa na mesa, pois todos estão muito concentrados no seu jogo. Jogos solo não tem interação, pela razão obvia de você estar jogando sozinho.
Ladino sendo atacado por vários guardas em Rogue’s Quest.

Claro que nada impede de você gostar de jogos solo. Inclusive, é por conta dessa variedade de gostos que temos tantos jogos diferentes. Se todos os game designers gostassem das mesmas coisas estaríamos estagnados. Afinal, cada estilo bebe da fonte do outro, vide a crescente criação de híbridos (ameritrashs + euros).

Em todo caso, tudo isso reforça ainda mais a Lição #1. Se você fez como eu e começou a criar jogos conhecendo pouquíssimos jogos, você pode se deparar com um desmotivador dos grandes: você pode se descobrir não gostando tanto daquele estilo de jogo. Essa descoberta foi provavelmente o maior motivo pelo qual Rogue’s Quest nunca será finalizado.

Criar jogos não é uma tarefa fácil, ao menos jogos bons. Portanto, o processo de criação é longo e demorado. Você precisa se divertir durante esse processo, em especial no começo que é a parte mais interessante, pois a criação está fluindo e novos conceitos estão sendo elaborados. Quando chegar na parte de testes exaustivos, se você não gostar do estilo do jogo, não será possível dar a devida atenção aos testes e o processo será muito desgastante, mais do que já é.

5 Comments

  1. Emerson
    10 de fevereiro de 2017

    Sofri algo parecido com deck buildings. =P

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  2. Daniel A. Freire
    19 de agosto de 2020

    Eu participo de grupos de jogos brasileiros em redes sociais, principalmente do RPG Solo. Inclusive eu já fiz meu próprio Dominus e nem joguei ainda, tentei jogar outros feitos pelos colegas, mas achei muito difícil fazer uma narrativa improvisada. Agora com essa dica prreciso tentar mais vezes e ver o que realmente acho e não só o Dominus, mas outros tipos de RPG Solo, print n’ plays, cartas e tabuleiro. Valeu, Pinheiro.

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    1. Roberto
      19 de agosto de 2020

      RPG Solo é tipo livro-jogo?

      Responder
      1. Daniel A. Freire
        19 de agosto de 2020

        Livro jogo pode ser considerado um dos tipos, existe uma vasta gama de propostas para jogos solos, inclusive narrativos. Um narrativo conhecido é o Vampiro Sozinho na Escuridão do Jefferson Pimentel e o Notequest da Coisinha Verde, que já tem uma proposta de exploração de dungeons.

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        1. Roberto
          20 de agosto de 2020

          Ah, massa. =)

          Responder

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