Lição #1: Jogue muitos jogos diferentes

Tudo começou em 2011, quando eu estava bastante empolgado com a descoberta dos jogos de tabuleiro. A escassez de jogos era demais, para minha sorte encontrei os Print & Plays, jogos disponibilizados de graça para imprimir e jogar. Depois de jogar Zombie in my Pocket eu pensei: “Nossa, seria massa eu criar um jogo meu nesse estilo solo, fica até fácil de ir testando”. E foi assim que nasceu (mais ou menos) o Rogue’s Quest.

Rogue’s Quest foi minha primeira empreitada na criação de jogos de tabuleiro, antes disso eu só havia criado sistemas de RPG. Por conta do meu background em RPG e meu gosto duvidoso por personagens ladinos foi que surgiu a ideia de criar esse jogo. Segue breve descrição do jogo:

Você é um ladino que está prestes a invadir um castelo para coletar o máximo de tesouros que conseguir. Rogue’s Quest é baseado em turnos, primeiro o Turno do Ladino, quando ele realiza suas ações como mover-se, atacar, roubar, abrir fechaduras; Depois é Turno dos Guardas, quando os guardas poderão mover-se e tentar lhe encontrar. Você deve se manter escondido dos guardas ou os alarmes serão ativados. Para vencer a partida, você deve sair vivo do castelo. Sua pontuação será a quantidade de tesouros que conseguiu do castelo.

Só tem um pequeno detalhe. Eu tive essa ideia em 2011, com menos de 5 meses no hobby. É aqui que entra nossa Lição de hoje. Nessa época eu tinha apenas 9 jogos de tabuleiro modernos nas costas. Isso, não é nem de longe uma quantidade boa para iniciar a criar seus próprios jogos.

Os nove jogos que conhecia na época

Quando se conhece uma quantidade tão pequena de jogos, a tendência é criar um clone de algum jogo. Ou ainda pior, se você tentar criar algo diferente, provavelmente vai enfrentar muitos problemas pela frente. Isso acontece por um motivo muito simples: falta uma base sólida de conhecimento sobre mecânicas para que você consiga elaborar seu próprio jogo de um modo coerente.

Claro que tendo jogado RPG por mais de 10 anos é alguma base, mas não se iluda. RPG possui uma natureza completamente diferente dos jogos de tabuleiro modernos. Consequentemente, se você for se utilizar dessa sua base, você deixará o jogo muito focado nos aspectos de RPG (grande utilização de dados para realização de testes, tendências a criar sistemas de personagens mais complexos e utilização de fichas que usem lápis). Isso não é bom para um jogo de tabuleiro moderno, pois as mecânicas usadas em RPG tem um propósito diferente das utilizadas em jogos de tabuleiro. Tirando talvez o combate tático, as demais mecânicas são focadas em criar uma boa atmosfera de interpretação e criação de histórias, fatores menos presentes nos jogos de tabuleiro.

Então, recomendo fortemente que você jogue muitos jogos diferentes antes de tentar criar o seu primeiro jogo. Ao conhecer jogos diferentes você começa a aprender novas mecânicas e, mais importante, as variações já criadas. Dado a quantidade de mecânicas atuais, é difícil criar algo completamente novo. A criatividade e inovação do game designer atual consiste, na maioria das vezes, de pegar uma mecânica clássica e alterá-la de algum modo que a deixe consistente com o jogo que está sendo criado e, melhor ainda, transforme ela em algo mais interessante, divertido ou estratégico. Essas pequenas variações fazem os jogadores pensarem de um modo diferente e tentar soluções novas para aquela nova situação.

É importante ter esse conhecimento sobre outros jogos para que a criação seja mais tranquila. Caso contrário você se frustrará com um jogo cópia de outro ou um jogo cheio de problemas que você não consegue resolver. Como eu. Rogue’s Quest nunca ficou pronto realmente e provavelmente nunca estará, pois dificilmente retomarei seu desenvolvimento.

Entretanto, apesar de todas as frustrações e dificuldades, aprendi algumas lições com Rogue’s Quest. Essa é apenas a primeira delas. Até a próxima!

16 Comments

  1. Joao BG
    3 de fevereiro de 2017

    São muitos jogos nessa vida!

    Responder
  2. Emerson Andrade
    3 de fevereiro de 2017

    Concordo com tudo do texto. Muito bom 🙂

    Responder
  3. Matheus Ulisses Xenofonte
    23 de maio de 2017

    Acho que isso serve pra produzir quase tudo nessa vida: culinária, literatura, RPG, software… Inventar a roda é muito mais difícil do que só trocar os materiais.

    Responder
    1. Roberto
      23 de maio de 2017

      Com certeza. O problema é que muitas vezes a pessoa se ilude. Acha que tem uma ideia genial, mas na verdade essa roda já existe nas mais diversas variações…

      Responder
  4. Osny
    22 de junho de 2017

    Conheci hj sua página…
    Gostaria de fazer uma sugestão, você poderia fazer uma postagem explicando as mecânicas existentes para jogos de tabuleiro, no board game geek tem uma sessão inteira deixada a explicação, seria de grande valia para aqueles q não conhecem muito bem a língua da rainha!!!
    🙂
    Parabéns pela página, estou seguindo e acompanhando, pois estou na fase de brainstorming para desenvolver o meu jogo!!

    Responder
    1. Roberto
      22 de junho de 2017

      Seja muito bem-vindo Osny. =D

      Sobre a sua sugestão, eu criei o Glossário justamente para expor termos e mecânicas que possam ser desconhecidos para alguns leitores. Dá uma olhadinha lá (último item do menu superior). Talvez a informação esteja muito sucinta, se estiver me avisa que tento melhorar. 😉

      Obrigado pelo comentário. Abraço.

      Responder
  5. Mateus de Melo
    27 de novembro de 2018

    Conheci sua página hoje. Queria te agradecer muito por esse compartilhamento de conteúdo de grande valor para quem pretende se aventurar na criação de jogos de tabuleiro modernos. Sou um novato no assunto, mas já quero desenvolver o meu primeiro jogo para ir aprimorando a técnica e, quem sabe, chegar num nível profissional. Confesso que comecei com uma ideia bem simples e vi que vou ter muito o que suar. Mas páginas como as suas sempre nos dão um norte. Parabéns.

    Responder
    1. Roberto
      28 de novembro de 2018

      Seja bem vindo, Mateus! Obrigado pelos elogios e pelo comentário. De verdade.
      Sinta-se a vontade para perguntar ou deixar sua opinião em qualquer postagem.
      Abração.

      Responder
  6. Rodrigo Estevam
    17 de abril de 2019

    Olá Roberto!

    Sou novo por aqui e estou desenvolvendo um boardgame que mistura pesca e travessia de passageiros no mar e gostaria de indicações de jogos já existentes com temas semelhantes, para saber se estou plagiando algo sem ter consciencia, e ter referencias e noção se minhas idéias são originais e inovadoras de alguma maneira.

    Conheci o mundo dos tabuleiros modernos há cerca de 12 anos em uma visita à Ludus Luderia em SP, mas acabei não me aprofundando tanto no hobby (conheço cerca de uns 20 títulos apenas), apesar de jogar qse diariamente online no BGA, porém sempre os mesmos jogos (puerto rico, 7 wonders, carcassone, colt express). Sei que é altamente recomendável conhecer muito mais jogos e mecânicas antes de iniciar um projeto, por isso, além de vários sucessos “obrigatórios” que ainda não tive contato, peço ajuda para apreciar também jogos com temas similares ao meu.

    Bem, acho que o estilo é mais próximo de euro, e as principais mecânicas que consigo identificar são area movement, pick-up and deliver, ações simultâneas e take that.

    Parabéns pelo blog, estou lendo todas as lições e alguns outros posts tb.

    Grato..!

    Responder
    1. Roberto
      17 de abril de 2019

      Fala Rodrigo,

      Primeiramente, muito bem-vindo ao blog. Que bom que está gostando do conteúdo.

      Surpreendente tanto tempo jogando e conhecer tão poucos títulos… Já deve ter centenas de partidas desses jogos, né? =)
      Bom, vou tentar listar alguns jogos… Espero ajudar.

      “Mistura pesca e travesseria de passageiros no mar” é um tema diferenciado. Geralmente pesca não envolve outros elementos que não a pesca em si.
      Coincidentemente, um jogo lançado aqui no Brasil por um autor brasileiro envolve pesca… Eu ainda não joguei, mas é de um amigo meu de Recife. Então, em breve devo conhecer. Chama Treta do Anzol.
      Agora outros jogos nesse estilo, eu diria: Survive Escape from Atlantis (é um bom jogo de sacanear o amiguinho com esse aspecto que cruzar as pessoas em um mar, usando barquinhos), Lifeboats (é um jogo de negociação pura sobre jogar pessoas de um barco para fora dele hehehe), Fleet (é um jogo de pescaria só com cartas, puxando pro Euro).

      Sobre as mecânicas, eu diria que para:
      – Area movement é coberto pelo Survive de um modo que acho que seria no seu jogo… (não sei dizer de certo, pois a descrição foi meio curta).
      – Pick-up and deliver. Bom, tem diversos aí, diria para tu conhecer Merchants & Marauders pelo tema naútico da coisa e por ter a mecânica. Panamax também envolve água, mas é BEM pesadão, acho que foge do teu escopo, mas tu pode pesquisar sobre… Um jogo bem legal que envolve água e esse tipo de coisa (pegar algo e levar pra outro canto) é Oracle of Delphi.
      – Ações simultâneas. Aqui temos vários também… Mas depende de como tu quer usar. Eu recomendaria conhecer 7 Wonders para ver um jogo com Drafting que todo mundo jogo ao mesmo tempo.
      – Take that. o survive também cobre.. e acho que cobre de um jeito bem legal, pois é um take that meio “sem escapatória”, não é que você jogue uma carta no jogador pra lascar ele, mas é que todo turno você rola um dado para mover um bicho que poderá, potencialmente, ser ruim pra um jogador.

      Espero ter ajudado. Abraço.

      Responder
  7. Daniel A. Freire
    19 de agosto de 2020

    Eu joguei poucos jogos, no caso:
    1) Parque dos Dinossauros
    2) Queimem as Bruxas
    3) Sinal Perdido
    4) Kingdom Roads
    5) Fight Destiny
    Todos do Coisinha Verde, mas já estou criando um jogo com o seguintes elementos de design (progressão, marcadores, inventário e kill efect) além disso ele tem desafio de soletração. Tô escrevendo aos poucos, não sei se vai ser finalizado, mas já fiz minha primeira partida teste com familiares e já foram sugeridas algumas mudanças, enfim, mas acharam divertido. Vou comendo o mingau pelas beiradas, sem pressa de terminar, enquanto isso vou jogando coisas novas e descobrindo outras formas de jogar. Obrigado pela dica, Pinheiro.

    Responder
    1. Roberto
      19 de agosto de 2020

      Os cinco jogos são da Coisinha Verde? Engraçado você começar com eles, imagino que tenha contato com o pessoal de lá, né? Eu não conheço nenhum.

      Nada, e bem-vindo. 😉

      Responder
      1. Daniel A. Freire
        19 de agosto de 2020

        Sim, são. Comecei com Bairro Zumbi, mas nunca joguei, só orientei os amigos nas partidas. Um belo dia fiz uma pesquisa aleatória sobre RPG no YT e acabei encontrando o canal do Tarcísio Lucas, um grande nome do RPG Solo Brasileiro, a partir daí fui tendo contato com o mundo dos jogos brasileiros, kkkk e acabei por aqui no seu blog, pois como não tenho muita noção do que estava fazendo com meu jogo resolvi procurar orientação dos mais experientes. Hehe. Após o desenho de jogo minhas dúvidas estão centradas em (diagramação, ilustração, desenho gráfico, divulgação, vendas, financiamento coletivo). Muita coisa kkkkk

        Responder
        1. Roberto
          20 de agosto de 2020

          Ah, interessante. Talvez essas tuas outras dúvidas não sane por aqui hehehehe Mas espero que o conteúdo esteja sendo útil ainda assim. =D

          Responder
          1. Daniel A. Freire
            20 de agosto de 2020

            Se tiver recomendações a respeito ajudaria ainda mais, hehe. Essa coluna que escreve já nos dá um bom norte e evita ficarmos garimpando informações aqui e ali e tá ajudando muito. Vou olhar o Ludopedia para se encontro algo a respeito.

        2. Roberto
          21 de agosto de 2020

          Pìor que não tenho recomendações… Esse tipo de conteúdo eu até diria que é bem raro. Eu comecei um self-publish meu e estou fazendo tudo na louca, pois não encontrei muitas informações por aí hehehehe

          Acho que como é um conceito mais genérico (aplicado em várias áreas, não só jogos), a pessoa teria que ir atrás desse conteúdo genérico e aplicá-lo para sua realidade.

          Um podcast que está tentando fazer algo sobre isso é o https://www.ludopedia.com.br/podcast/47/nosso-work-e-playar
          Vi uns 2 ou 3 episódios e ainda não me deparei com nada muito útil não… Mas talvez te ajude. Tem inclusive um episódio só sobre financiamento coletivo.

          Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top