Lição #39: Prefira jogos rápidos em eventos

Essa Lição pode ser um pouco de nicho, mas é algo que aprendi após participar de vários eventos de Playtest. Eu digo de nicho, pois a Lição de hoje é especial para você, colega Game Designer, que possui vários jogos em diversos estágios de desenvolvimento. Talvez a Lição também seja um pouco polarizadora também, pois acredito que irá haver discordâncias fortes. Entretanto, uma coisa é fato: eu senti na pele a diferença. Tanto em termos de satisfação pessoal, como em termos de coleta de Feedback e também em termos de saúde mental. Pois bem, hoje eu quero falar sobre Playtest em eventos sob a ótica dos jogos rápidos e longos.

Eu não sou um participante de inúmeros eventos Brasil a fora, mas tive a oportunidade de participar de alguns enquanto eu morava em Recife. Não estou falando de qualquer tipo de evento, estou falando de eventos focados em Playtests. Então, já participei de várias edições do Playtest PE e do Spatótipo (que é um evento itinerante). Também tive a oportunidade de participar do evento Protótipo em Jogos, organizado pela Game of Boards, loja do Rio de Janeiro. E também do Espaço Criativo, em João Pessoa. Juntando tudo, acredito que foram 9 eventos. Não é lá muita coisa, mas aprendi bastante em cada um deles.

Primeiro evento, ainda em busca dos outros 2 jogadores para fechar uma mesa com 4 pessoas. Partida durou algo em torno de 2 horas e foi a única do dia.

Nos primeiros eventos, eu levava meus dois jogos na época. Afinal, eu estava no começo e não tinha tanto material para mostrar. Os primeiros eventos foram gratificantes, mas pouco aproveitados. A falta de experiência me impedia de usufruir o máximo da experiência. Eu tinha vergonha de convocar as pessoas, me restringindo aos mais conhecidos e perdendo a oportunidade de testar com outras pessoas. Eu também não confiava tanto em mim como Game Designer. Eram meus primeiros jogos, depois de um longo hiato por conta de uma primeira experiência terrível com criação de jogos. Então, em várias horas de evento (começando às 15h e indo até umas 20h) eu testava apenas um jogo. Tanto pela demora da partida quanto pela minha abordagem, que era muito devagar mesmo. Nesses eventos você precisa ser dinâmico e manter a rotatividade da mesa.

Com o passar do tempo, eu fui me acostumando com o processo e também acumulando mais jogos. Então, meu objetivo passou a ser testar pelo menos cada jogo uma vez. Acredito que foi no meu terceiro evento que atingi esse objetivo. Levei três jogos e testei todos. O detalhe, é que cada jogo demorava entre 45 minutos e 1 hora e meia. Foi uma vitória testar todos os jogos pelo menos uma vez. Foi um corre-corre danado em busca de pessoas, para casar os tempos entre as mesas distintas (afinal, não existe apenas eu no evento). Para montar o setup de diferentes jogos em diferentes momentos. Como não eram tantos participantes, tive até a oportunidade de usar mais de uma mesa, o que facilitou o processo de testar jogos distintos em momentos distintos.

Nesse momento, eu percebi como era complicado participar desses eventos de Playtest. São extremamente gratificantes e produtivos, mas é, literalmente, um trabalho. É diferente de ser monitor de mesas, pois existe todo um fator emocional de você estar apresentando seu jogo para o público. No começo é bem esquisito, mas com o tempo a gente vai acostumando e torna-se até rotineiro. Sendo que até o momento eu não tinha percebido a Lição de hoje… Até o evento da Game of Boards.

Nesse evento, eu fui obrigado a levar apenas um protótipo, pois era a proposta do evento: ter um jogo selecionado e apresentar ele durante o dia inteiro. Claro que, como sempre, eu levei todos os meus outros jogos na mala. Afinal, poderia surgir alguma oportunidade para apresentar algum para as Editoras presentes. O evento começou de manhã, apesar dos testes terem sido apenas durante a tarde e foi até de noite. Adivinha quantas mesas consegui do meu jogo Teotihuacã? Três vezes. Não vou dizer que foram poucas, mas foi exaustivo, desgastante e, na boa, foi um saco. Era um saco a tensão que eu tinha de tentar agilizar a partida, de dividir a mesa em duas para serem duas partidas 1×1 e conseguir mais em menos tempo. O evento foi estressante por conta disso. O processo todo foi muito não natural e foi aqui que caiu a ficha. Teotihuacã é um jogo longo, especialmente se as pessoas tiverem AP. A partida pode variar demais de duração. E depois desse evento, tive contato com apenas 10 pessoas. Algumas inclusive largaram a partida no meio, por conta da duração.

O ideal de um evento desse, é você usufruir ao máximo da quantidade de pessoas. Eu poderia ter testado com 50 pessoas diferentes, mas testei apenas com 10 pessoas. Testando com 50 pessoas, seriam 50 pessoas conhecendo meu jogo, conhecendo a mim e ao meu trabalho. Um evento desse porte, é uma excelente oportunidade para pessoas como eu (que moram longe dos grandes centros e possuem pouquíssimas oportunidade para divulgar seu trabalho). Então, você talvez diga que eu deveria ter preparado uma versão de demonstração. Eu digo que você talvez estivesse até certo, mas os dados de Playtest de partidas assim não são ideais. Na realidade, podem até ser contraditórios e lhe atrapalhar no desenvolvimento. O ideal do ideal é: conseguir divulgar seu jogo, mas também testar de maneira sadia e condizente com o jogo. O evento não é um evento de divulgação, mas serve para tal. O evento é um evento de Playtest, e deve ser encarado como tal.

Último Playtest PE que participei. Levei vários jogos rápidos, este da foto é Regicida (futuro ArkMago) e consegui rodar 3 ou 4 vezes, totalizando mais de 15 pessoas conhecendo o jogo. Fora outros jogos meus testados no evento e também jogos dos colegas!

Então, qual a conclusão? Desse momento em diante, eu tenho testado apenas jogos mais rápidos nesses eventos. Com eles eu consigo testar repetidas vezes com pessoas diferentes. Com eles a atmosfera é mais leve e eu não fico noiado com a duração das partidas. Os eventos posteriores ao da Game of Boards foram muito melhores aproveitados por mim e eu consegui ajudar outros colegas Game Designers com o tempo que ganhei.

Talvez você diga que estou completamente enganado, que é uma loucura deixar os jogos longos de lado e testar apenas jogos rápidos. Não é bem isso que estou dizendo. Existe um momento propício para testar jogos longos: em eventos gerais. Sabe aquele evento que mensal que tem na sua cidade que o povo vai para jogar? Marque uma mesa do seu protótipo com uma galera. Será mais proveitoso, você não ficará tenso achando que está perdendo tempo de um evento de Playtest em uma única partida e terá a tranquilidade de colher um Feedback mais redondinho. Ou marque até mesmo fora de eventos. Na sua casa ou em algum local público. O que importa é dedicar um tempo específico e sem correrias para seu jogo longo. Ele merece isso.

Então, é esse o recado: leve jogos rápidos (preferencialmente para várias pessoas) em eventos de Playtest. Para testar seus jogos mais pesados e com duração mais longa, marque as mesas. Abraço e até a próxima.

2 Comments

  1. Pepe
    23 de outubro de 2018

    Roberto,
    Continuo enrolado no trabalho (construção do prédio da escola), mas no próximo ano vou me dedicar a ajudar os desenvolvedores como você.
    Um abraço.
    Pepe – João Pessoa

    Responder
    1. Roberto
      24 de outubro de 2018

      Grande Pepe, obrigado pelo comentário e pela vontade de ajudar. Abração.

      Responder

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