Resposta #4: Livros sobre Game Design

Já devo ter comentado em vários momentos durante os textos aqui do blog, que meu funcionamento como Game Designer é completamente prático. Eu, simplesmente, não leio nenhum material “consagrado” sobre o assunto. Isto é, nada de livros, artigos científicos ou coisas similares. Entretanto, isso não significa que não estudo o assunto. Mas estudo ele pelas vias mais informais: escuto podcasts, leio blogs, jogo bastante e analiso bastante. Então, minha abordagem como Game Designer é bastante empírica. Sendo assim, pode soar estranho eu recomendar livros sobre Game Design, mas é justamente aqui o plot twist!

As recomendações de hoje não serão feitas por mim. Eu simplesmente não teria a capacidade, pois não li nenhum livro sobre o assunto. Entretanto, sei que muitos leitores tem interesse em conhecer mais sobre o assunto através dos livros e, por isso, tentei encontrar uma maneira de expor esse material aqui no PinheiroBG. Sendo assim, traduzi uma postagem sobre o assunto diretamente do Entro Games, um blog de Chris Backe, pois achei que ele conseguiu apresentar uma boa quantidade de livros e expor um ponto importante: quem poderia se beneficiar mais do livro. Então, para quem está em busca de livros e não sabe qual adquirir ou até mesmo qual ler. Clique aqui para ver a postagem original. Ou siga em frente para minha tradução livre a seguir.

Board Game Design Advice, por Gabe Barrett
Este tomo foi editado pelo apresentador do podcast Board Game Design Lab. Essencialmente, Gabe conversou com dezenas de game designers bem sucedidos e perguntou a cada um deles o mesmo conjunto de questões. Esse livro é uma coleção dessas respostas. Com o caminhar da leitura, você vai perceber que existem padrões em algumas respostas, mas também existem caminhos bem diferentes para o sucesso e você vai perceber vários pontos críticos que são importantes fazer corretamente.
Para quem é? As questões em si são voltadas para game designers que já criaram e testaram pelo menos um jogo ou que estão no meio de um ciclo de Playtest. Se você está iniciando em game design, o livro pode lhe apontar alguns bons hábitos para ter em mente, mas também pode soar uma leitura um pouco prematura.
The Board Game Designer’s Guide, por Joe Slack
Oferece, em linhas gerais, um fácil processo com 4 passos para criar jogos maravilhosos. O livro de Joe inicia com um prefácio por Jamey Stegmaier (outro nome cujo blog é uma leitura essencial para game designers), e depois apresenta um guia completo com passo-a-passo. Ainda possui um glossário de termos utilizados no decorrer do livro, uma lista parcial de Editoras e uma dose sadia de realidade é apresentada durante todo o livro.
Para quem é? Novos game designers irão usufruir o máximo deste livro, mas game designers experientes também podem conseguir algumas sacadas que não viram em outros locais.
A Crowdfunder’s Strategy Guide, por Jamey Stegmaier
Jamey Stegmaier provavelmente não precisa de introdução, mas caso não conheça: ele é um dos fundadores da Stonemeier Games, Editora responsável por Viticulture, Scythe e Charterstone. Seus jogos, coletivamente, conseguiram sete dígitos em arrecadação monetária por meio dos financiamentos coletivos. Seus materiais para game designers — especialmente aqueles sobre financiamento coletivo — são uma leitura obrigatória. Sua jornada se tornará muito mais fácil com esse livro. ‘Colocar seus apoiadores em primeiro lugar’ provavelmente é a sabedoria mais persistente do livro. Decisões feitas baseadas neles tornam o processo muito mais fácil. Eu também aprecio a atenção de Jamey aos detalhes, especialmente coisas como checklists, o momento correto de realizar uma determinada atividade e detalhes técnicos sobre manufatura que podem evitar você cair em armadilhas.
Minha única crítica é que o livro é de 2015. Com o andamento veloz na industria dos financiamento coletivos, faz com que o livro necessite de conhecimentos mais atuais. Em todo caso, o livro contem princípios, não táticas, logo é bastante resistente ao futuro.
Para quem é? Qualquer game designers planejando fazer um financiamento coletivo — idealmente, a leitura deve ser feita o quanto antes.
Girls on Games, por Elisa Teague
Subintitulado ‘A Look at the Fairer Side of the Tabletop Industry’, o melhor modo de começar meus comentários são com uma frase: você precisa comprar esse livro.
Com exceção do prefácio, todos os pedaços dessa antologia são escritos por uma mulher. Elas escrevem — franca e abertamente — sobre suas dificuldades em um meio dominado por homens. O livro foi financiado pelo Kickstarter em 2014 e conseguiu quase oito vezes sua meta de financiamento. O livro é bastante claro e abre seus olhos para a realidade das mulheres, proporcionando uma excelente leitura. São apenas 125 páginas e é uma das leituras mais leves da lista.
Para quem é? humanos que estão respirando oxigênio.
Think Like a Game Designer, por Justin Gary
É apresentado como um guia passo-a-passo para destravar seu potencial criativo. Possui cinco partes maiores que focam primariamente em game design e criação de grandes jogos, com uma parte final focando em como ganhar dinheiro com isso. No caso do nome ser pouco familiar, Justin é o game designer de Ascension e campeão de Magic. “Existe um processo simples e aprendível de como se tornar um grande game designer,” ele discute na introdução. O livro é bem organizado e não utiliza nada muito rebuscado para se fazer entender. Apesar de boa parte do livro serem baseados nas postagens do seu blog, possui um excelente recurso no final do livro que vale o seu preço.
Para quem é? Game designers novatos ou pessoas pensando em criar seu jogos. Alguns game designers mais experientes podem encontrar algumas palavras de sabedoria também.
Ticket to Carcassonne, por Steve Dee
Se você não captou imediatamente que o título do livro é uma união de dois jogos famosos: Ticket to Ride e Carcassonne, este livro é para você. A narrativa se perde um pouco em certos momentos, mas o livro ajuda o leitor a ter uma visão geral da industria recente dos jogos de tabuleiro. O livro é focado nos jogos em si, juntamente com estratégias para estes jogos. Talvez seja uma maneira de apreciar os jogos se você ainda não jogou eles. Seria algo similar a um Gameplay. Pessoalmente, me lembrou como é importante me colocar no lugar dos jogadores — que as estratégias eles estão usando, podem não ser necessariamente as que você estava vislumbrando na sua criação.
Para quem é? Game designers bem iniciantes que ainda precisam ter um apanhado da história recente dos jogos de tabuleiro, ou desenvolvedores (developers) que não jogaram muitos dos clássicos modernos.
Eurogames – The Design, Culture, and Play of Modern European Board Games, por Stewart Woods
Com sua pegada com linguagem e histórico mais acadêmico, Eurogames não é uma leitura fácil como alguns dos livros listados aqui. Seu objetivo está em oferecer um olhar formal sobre o mundo dos jogos. O livro é datado de 2012 e usa uma pesquisa do Board Game Geek realizada em 2007. Então, não é um material tão recente assim. Em todo caso, não precisaria ser tão atualizado, pois proporciona uma boa base.
Para quem é? Qualquer pessoa interessada no passado do mundo dos jogos ou de uma linguagem mais acadêmica sobre jogos — ou qualquer pessoa interessada em um livro para dormir (foi mal, Stewart).
Theory of Fun for Game Design, por Raph Koster
A versão que comento aqui é edição de 10º aniversário, e foi escrita por um veterano da industria dos video games. Eu até posso ouvir você agora — o que você está tentando fazer aqui, Chris? — e eu sinto a necessidade de lembrá-lo que game design para video games é bastante similar com jogos de tabuleiro de várias maneiras. O foco do livro não é em meeples ou dados. Ele começa com um jogo clássico: jogo da velha e passa um capítulo inteiro falando sobre como o cérebro funciona. Em outras palavras, este não é um livro sobre como fazer um jogo. É sobre algo muito mais importante do que isso.
Você pode achar que alguns conceitos não são tão importantes assim ou que alguns elementos do livro não tem nada a ver com sua ideia brilhante. Grandes jogos — e os game designers que criam eles — levam em conta muito mais do que cartas, dados e meeples. É isso que esse livro quer fazer você pensar.
Para quem é? Qualquer board game designer, iniciante ou veterano.
The Game Inventor’s Guidebook, por Brian Tinsman
Parte antologia, parte guia. O livro foca em criar e apresentar jogos para companhias que vendem jogos para o mercado de massa. É de 2008 e não menciona o conceito de financiamento coletivo. Deste modo, você pode ignorá-lo e pensar quase como uma relíquia de um tempo diferente. Eu recomendo aqui como uma leitura mais leve que começa contando as histórias dos jogos que você já ouviu falar, até conversas com pessoas que você já ouviu falar (Reiner Knizia) e vários pensamentos sobre o processo de conseguir publicar seu jogo.
Para quem é? Novos game designers interessados em história casual e informação sobre como apresentar seu jogo para as Editoras (pitch).
Challenges for Game Designers, por Brenda Brathwaite e Ian Schreiber
Quando um livro é formatado e vendido como um livro-texto, normalmente significa que ele será bem seco. Estou feliz (aliviado, na verdade) de dizer que este não é o caso. Este livro é estruturado como um livro acadêmico e contem exercícios similares à deveres de casa.
O subtítulo é ‘Non-Digital Exercises for Video Game Designers’. Então, nós não somos tanto a audiência do livro. Dito isto, eu uso qualquer material e recurso que me ajude a chegar onde estou querendo. E esse livro proporciona uma excelente visão geral da maioria das coisas sobre game design. Os destaques aqui são os desafios no final de cada capítulo — criados para engajá-lo no assunto que você estiver aprendendo, são criativos e bem bolados.
Para quem é? Game designers novatos procurando uma abordagem mais estruturada para apresentar e game designers de todos os níveis em busca de exercícios acadêmicos.
The Kobold Guide to Board Game Design, por Mike Selinker
Este é uma antologia criada por vários game designers bem sucedidos, ou você pode ver como uma pequena olhada dentro das melhores mentes do meio. Cada parte é facilmente lida em alguns minutos e oferece diferentes sacadas com relação a algum aspecto do game design. Um dos trechos fala sobre como desenvolver um jogo (o que é bem diferente de criar um jogo), tem também uma apresentação hilária do Steve Jackson sobre grandes erros em prototipagem que garante algumas risadas sobre os erros alheios.
Para quem é? Game designers que estão se preparando para ir atrás de Editoras ou simplesmente qualquer game designer interessado em criar jogos para que eventualmente alguma Editora pegue para publicação.

E é isto. Fechando aqui a tradução. Deixo aqui minhas desculpas se o texto ficou confuso em certos momentos. A tradução inicial foi complicada, pois Chris Backe usa muitos termos que são especificamente do inglês. Entretanto, eu dei uma segunda passada modificando descaradamente a tradução para facilitar a compreensão. Espero que tenha sido útil e proveitoso. Espero que tenha despertado seu interesse em algum dos livros. Até a próxima.

4 Comments

  1. Lair Amaro
    12 de outubro de 2018

    Muito bom, meu amigo. Ao que parece, nosso mercado editorial não se interessa pelo assunto.

    Responder
    1. Roberto
      13 de outubro de 2018

      Obrigado, Lair. Engraçado que eu nem saberia dizer se concordo ou discordo de você. Entretanto, tenho a impressão que você está correto sim.

      Responder
  2. Matheus Ulisses Xenofonte
    12 de outubro de 2018

    Eu já sou o contrário, prefiro livros a videos, podcasts e blogs (esse e o Games Precipice sãos os únicos que eu acompanho). Adorei a lista, The Game Investor’s Guide Book é meio datado mesmo, mas ele e o The Kobold Guide to Board Game Design abriram muito minha cabeça pra o lado comercial do processo e como ajuda você pensar nisso durante a criação do jogo. Vou adicionar os outros a minha lista de desejos e vou fazer uma recomendação, The Art of Game Design, que apesar de falar mais de video games é o livro mais completo sobre criação de jogos que eu já li.

    Responder
    1. Roberto
      13 de outubro de 2018

      Eu imaginei que seu caminho fosse diferente mesmo. Inclusive, essa postagem foi atendendo uma sugestão/pedido seu.
      Que legal eu estar nessa curta lista de blogs que você lê. =)

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top