Manual #1: Esqueleto Básico

Eu ia escrever uma postagem introduzindo essa nova coluna, mas decidi ser direto. A sugestão de criar essa nova coluna foi dada por mim mesmo, 6 meses atrás, na Lição #19. Como sou meio desconfiado das ideias provenientes da minha cabeça, demorou um bocado para sair a coluna, mas saiu! Cá estamos nós. Agradecimentos ao Matheus por ter incentivado a ideia na época. Bem-vindo a nova coluna: Escrevendo as Regras.

Perdeu a Lição #19? Dê uma olhada nela antes…

Lição #19: Escreva as regras

Se você lembrar da Lição #19, sabe que falo de um manual rascunho. Uma espécie de resumão das suas regras. Essa coluna vai além desse ponto. Aqui, iremos fazer o manual que você de fato vai apresentar para outras pessoas e até Editoras, é o que chamo na lição de manual final.

Apesar do nome usado na lição (manual final), perceba que o manual escrito pelo Game Designer não será, necessariamente, o manual final do jogo. Alguns Game Designers são melhores do que outros na escrita de manuais, mas é sempre importante que o manual passe por uma revisão externa antes de chegar ao público. Preferencialmente profissional. Se não for possível, tente colocar o máximo de olhos possíveis sobre seu manual para lhe apontar falhas, problemas e inconsistências.

Hoje, vamos iniciar do começo: como começar a escrever seu manual de regras. Pode parecer um começo besta, mas temos que começar por algum lugar. Durante essa “série”, eu vou explicar o meu processo de escrita de manual. Pode não ser o melhor, pode não ser o mais rápido, mas é o que tenho utilizado. Não sou expert no assunto, mas tenho alguma experiência. Até o momento, eu escrevi sete manuais e fiz Blind Playtest com cinco deles.

Ok, Roberto. Deixe de enrolar e diga qual o primeiro passo. O primeiro passo está indicado no título: você precisa montar um esqueleto básico do seu manual de regras. Como assim? O Esqueleto Básico são as Seções do seu manual. Em geral, um manual terá a seguintes seções: Componentes, Visão Geral, Preparação, Estrutura do Turno, Fim de Jogo e Créditos. Dependendo do jogo, eu recomendo destrinchar a seção de Estrutura do Turno em várias e inserir seções de Variantes no final do manual. Para facilitar o desenrolar dessa coluna, vamos utilizar como exemplo o manual do Distrito 6, que possui o seguinte esqueleto:

  • Componentes
  • Visão Geral
  • Preparação
  • Fluxo do Jogo
  • Rolagem
  • Alocação
  • Construção
  • Limpeza
  • Final da Partida
  • Moedas
  • Objetivos
  • Créditos

Muitas seções, né? Essa quantidade é devido à divisão em seções mais específicas. Por exemplo, durante uma rodada de Distrito 6 existem quatro fases: Rolagem, Alocação, Construção e Limpeza. Porque dividi em quatro seções? Para facilitar a explicação. Como o turno sempre flui da mesma maneira, isto é, as quatro fases sempre ocorrem, achei melhor dividir em seções. Isso não só cria uma estrutura mais compreensível, como facilita a consulta do manual em caso de dúvidas. Temos também Moedas e Objetivos no final do manual. Criei seções específicas, pois as Moedas podem ser utilizadas em diferentes fases do turno. Em vez de explicar a Moeda um pouquinho em várias seções, preferi fazer uma seção inteira dedicada ao assunto. Já os objetivos, eu separei por ser praticamente um anexo, que explica cada objetivo em detalhes para evitar confusões.

Além de todas essas seções, eu sempre coloco o título do jogo (obviamente), a versão do manual, número de jogadores, duração e idade mínima. Tudo isso no começo do manual. Antes de iniciar as seções, também coloco um texto temático sobre o jogo. Assim, a pessoa pode se ambientar com o jogo antes de qualquer regra entrar no seu caminho. Não utilizo capa, pois não faz sentido gastar mais tinta para imprimir um manual sem ser do jogo já publicado.

Antes de ir embora, deixo também uma lição anterior falando um pouco sobre um problema no manual do Distrito 6:

Lição #24: A culpa é sua

E por hoje é só. Próxima postagem será sobre o preâmbulo do manual. Até lá.

2 Comments

  1. Rodrigo Sampaio Rodriguez (Zuzu)
    20 de outubro de 2017

    Muito bom Roberto! O esqueleto é fundamental para concatenar idéias, e muitos de nós têm dificuldade de expressar de forma escrita aquilo que planejamos pro jogo.

    Uma coisa que aprendi é que precisamos ser SIMPLES ao máximo, SEM DEIXAR de falar o essencial. Passei por manuais onde o designer explicava tanto a regra e repetia tanto os termos que induzia o jogador ao erro (ou confusão), ao mesmo tempo que li manuais bem simplificados mas que não explicava regras cruciais, como não citar uma pontuação de fim de jogo que fazia a diferença nas partias.

    O esqueleto ajuda a organizar e a mostrar o que deve ser enfatizado. Falar tudo que deve ser falado e tirar todos os penduricalhos e excessos é o caminho, mas começa com um bom esqueleto / estrutura.

    Abraço!

    Responder
    1. Roberto
      20 de outubro de 2017

      Com certeza. Existe um trecho perfeito no balanceamento entre explicar demais e explica de menos. Que é bem difícil de conseguir. É importante não esquecer nada, mas também é importante não falar demais e deixar as coisas mais complicadas do que já são e com margens à interpretações. Ótimas colocações. Abração.

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top