Manual #2: Preâmbulo

Chegou agora e perdeu a primeira postagem dessa nova coluna? Leia antes de prosseguir. Hoje vamos preparar o preâmbulo do nosso manual. Parte curta, mas de extrema importância.

Quais são os elementos que considero como preâmbulo? Nome do jogo, versão do manual, número de jogadores, duração, idade mínima e contextualização temática. Eu diria que componentes também fazem parte desse bolo, mas prefiro deixar para uma próxima oportunidade. Então, vamos cobrir cada elemento em detalhes.

O nome do jogo é uma parte extremamente importante. Um jogo sem nome é um jogo sem identidade. Como você vai indicar que está falando do seu jogo? “Jogo de construir cidade” soa pior do que Distrito 6, não? Um jogo sem nome torna-se uma criatura genérica. É melhor ter um nome provisório ruim, do que não ter um nome. Então, você talvez se pergunte: qual o melhor momento de definir o nome do jogo? Quando ele for para o “mundo”, isto é, no primeiro Playtest com amigos. Entretanto, às vezes, você chega apenas com mecânicas para testar com os amigos. Sem nenhum tema. Nesse caso, realmente é complicado criar um nome. Acredito que o requisito mínimo para conseguir criar um nome razoável para o jogo é ter um tema, tirando os abstratos, obviamente. Distrito 6 já foi Dadópolis, mas com tantos “polis” aparecendo, eu decidi por algo mais diferente. O problema do Distrito 6 são as comparações com filme Distrito 9, ou talvez não seja um problema? Eu gosto do nome, pois criei com o propósito da sigla ser D6, afinal são 40 deles no jogo.

Eu sempre coloco a versão no manual. Assim, eu posso identificar o andamento do manual com relação às modificações que vou realizando no jogo. Com a ajuda do changelog, eu posso depois atualizar as regras sem grandes problemas, pois sei a diferença da versão 1.4 para a versão 1.6, por exemplo. Inclusive, posso rapidamente saber se posso utilizar um manual antigo e repassar as alterações mais recentes para um jogador que tenha ficado com o protótipo. Resumindo, a informação da versão é muito de uso pessoal, mas é uma informação bem útil para o bom andamento do projeto.

O número de jogadores é, muitas vezes, negligenciado no manual. Em geral, vemos essa informação apenas na caixa e pronto. Eu discordo. Uma informação tão pequena e de extrema importância deve, sim, estar no manual. E não só estar presente, mas também estar destacada no começo dele. Não há muito que falar sobre o número de jogadores, só o conselho de sempre: evite forçar mais jogadores do que seu jogo comporta e colocar menos jogadores do que ele de fato funciona. Ciberguerrilha é um claro exemplo disso. Criei ele para 5 jogadores, mas depois de um teste descartei o 5º jogador. O jogo funciona com 5 jogadores? Sim, mas o downtime e o caos aumentam demais.

A duração é um ponto importante e difícil de ser acertado. A única maneira de ter um valor o mais próximo da realidade possível é testar com diferentes grupos. Deste modo, é complicado definir a duração no começo do projeto. Entretanto, dependendo do jogo, é possível calcular jogando sozinho. Um jogo com turnos em sequência, por exemplo, você pode medir a duração de cada turno individual e fazer uma estimativa com a quantidade de rodadas de uma partida.

A idade mínima vai depender do seu escopo. Se você está criando um jogo para crianças, deve se preocupar com vários aspectos: complexidade, quantidade de texto, habilidades necessárias para jogar, etc. Eu não faço ideia de como é desenvolver um jogo para crianças, mas sei que a maioria dos jogos lançados de modo independente é classificado como 14+ anos. Simplesmente para evitar a burocracia necessária para aprovar um produto que seja para idades menores. Atualmente, para definir a idade mínima dos meus jogos, eu pesquiso jogos com mecânicas de complexidade similar.

Por fim, chegamos à contextualização temática. Esse trecho é importante para ambientar os jogadores no mundo que está se passando o jogo. Geralmente, quando leio um manual eu pulo essa parte. Em alguns é tão curta que até dou uma lida. Mas eu não sou uma pessoa particularmente ligada à temática dos jogos, meu interesse é nas mecânicas. Entretanto, é importante essa etapa, pois se um jogo possui um tema, você deve usufruir o máximo possível dele. Seja para facilitar a explicação de regras ou para deixar o jogador mais empolgado com seu jogo antes de colocá-lo na mesa. Tema é importante, às vezes até demais… Vide enxurradas de jogos com temas batidos, mesmo quando o tema não se encaixa tão bem com o jogo.

Por hoje é só. Essa foi a semana de abertura da coluna Escrevendo as Regras. Espero que esteja sendo útil. Deixe sugestões e críticas nos comentários. Até a terceira parte.

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