Lição #19: Escreva as regras

Cedo ou tarde você precisará enviar seu jogo para editoras ou simplesmente serão tantos jogos na sua cabeça que você vai esquecer pequenos detalhes. O requisito mínimo para que seu jogo ser jogável é ter as regras. Inclusive, chegamos para mais uma ideia que tenho: criar uma coluna sobre como escrever regras. Talvez não tenha tanto conteúdo para uma coluna, ainda vou refletir sobre o assunto. Mas enquanto não me decido, dê sua opinião sobre isso. Sem mais delongas… Vamos para nossa lição.

Um jogo sem regras não é um jogo de fato, todas as informações estão na sua cabeça e se sua cabeça falhar o jogo deixou de existir. E acredite ou não, dependendo do jogo, é fácil esquecer as regras. É só você pensar em qualquer jogo que tenha informações como mão inicial de cartas, quantidade de rodadas, dinheiro inicial, em suma qualquer valor numérico que você precise decorar para o setup do jogo. Eu costumo me esquecer desses detalhes, que apesar de pequenos são muito importantes.

Mas aí vem a pergunta, em qual momento escrever as regras? Aí vem a resposta: depende. Eu acredito que a maneira mais saudável é escrever desde o começo, mesmo que sem muita estrutura. Como se fosse aqueles resumos que a gente encontra no BGG. Como nas etapas iniciais não é tão importante o manual ser capaz de transmitir o jogo em sua totalidade, não é necessário que o manual seja compreensível por pessoas que desconhecem o jogo. Afinal, nesse começo você vai jogar sozinho e com amigos, talvez desconhecidos, mas em todas essas oportunidades você estará presente e ensinará o jogo, e quem sabe até participará da partida. Vamos chamar esse primeiro estágio de manual rascunho.

Manual de Mataru Okara. Versão 0.2 (esquerda), apenas com lembretes, bem resumido e tudo em apenas uma folha; e versão 1.5 (direita), manual completo e usando quase uma folha inteira para explicar e exemplificar a ação de Ataque.

No manual rascunho você tem o jogo em sua totalidade, mas tudo bem resumido e direto. Enquanto estiver nessa etapa, siga a Lição #10 e não perca tempo com gráficos, pois como o jogo está em constante evolução, muito provavelmente você precisará modificá-los bastante até lá. Então, nada de figuras exemplificando mecânicas ou mostrando o setup.

Então, começando com o manual rascunho desde o primeiro Playtest Solo, fica fácil ir atualizando. Atualizar aos poucos é melhor do que de repente precisar escrever tudo de uma vez. Evita que alguma regra passe batido no decorrer das atualizações. Em Mataru Okara, eu esqueci uma regra crucial: qual era a diferença de um sucesso crítico para um ataque normal e, o pior, é que eu não esqueci que existe crítico, pois em um momento das regras eu digo como ele acontece. Só descobri quando fui checar as regras devido à pergunta do playtester: “ué, mas o que acontece quando é crítico?”. Então, não basta escrever o manual rascunho, você precisa mantê-lo atualizado.

Depois de diversas atualizações e Playtests, você eventualmente chegará em um momento crucial de todo jogo: Blind Playtest, e é nesse momento que seu manual rascunho deverá passar para o segundo estágio e se tornar um manual completo.

No manual completo você deseja que seu jogo esteja completamente compreensível. É necessário que o manual seja útil para aprendizado e para consulta. É nesse momento que você fará todas as figuras necessárias para facilitar a vida do leitor. Perceba que fazer o manual completo é uma trabalheira. Montar as figuras é a parte mais demorada e, dependendo de suas habilidades, ficará bem feio. Não tem problema ficar feio, ficando compreensível está ótimo.

Com o manual completo em mãos, seu jogo já pode passar pelo Blind Playtest, que servirá para verificar o quão bom está seu manual. Ao retornar de um Blind Playtest, provavelmente o manual precise de algumas alterações. Como todos os processos de testes de um jogo, este também é cíclico. Testa, altera, testa, altera. Eventualmente, quando você estiver satisfeito tanto com o seu jogo como com o manual você chegará na terceira e última etapa do processo: manual final. Parabéns e até a próxima lição.

2 Comments

  1. Matheus Ulisses Xenofonte
    26 de maio de 2017

    Gostei muito da matéria e sou totalmente a favor da coluna nova.

    Responder
    1. Roberto
      26 de maio de 2017

      Mais uma coluna saindo! Aceito sugestões de nomes “rimando” com as antigas… =P

      Escrevendo …?

      Responder

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