Desafio da Caixinha: Diário do Designer

Na postagem anterior falei sobre o Desafio da Caixinha. Suas regras, prazos e até alguns dos protótipos que já foram divulgados. Hoje, faz dois dias que entreguei o jogo. Como prometido, falarei um pouco sobre o processo de criação. Bem-vindo ao meu primeiro Diário do Designer.

Para ser sincero, esse não foi o jogo que enviei para o Desafio. Como o Desafio possui um limite de apenas um jogo por Game Designer, optei por enviar o outro, pois ainda não estou completamente seguro da variante de times do jogo que falarei hoje. Como o Desafio da Caixinha tinha o requerimento de funcionar com 4 jogadores, optei por enviar o outro. Portanto, hoje eu falo de outro jogo criado para o Desafio da Caixinha, mas que não foi enviado. Obviamente, levarei ambos os protótipos para o Spa dos Jogos e, eventualmente, também farei um Diário do Designer do jogo que enviei.

O que posso dizer é que esse Desafio da Caixinha foi bastante produtivo. Pude arriscar algumas ideias que estavam à algum tempo nas minhas anotações e criei dois jogos em um curtíssimo espaço de tempo.

Pois bem, esse é o Diário do Designer do Circulando. Sim, eu já sei que sou péssimo com nomes. É um jogo abstrato de 2 ou 4 jogadores (duplas) bem simples.

A ideia inicial surgiu 12/07/2017. Basicamente, eu queria criar um jogo com a clássica dinâmica de ter três de suas peças em uma reta. Vários abstratos usam esse conceito e como eu queria algo apenas com cartas, comecei fazendo as cartas com 4 semicírculos ao redor de uma carta quadrada. Assim o jogador ia encaixando os círculos até fazer uma linha com três da sua cor (vamos chamar esse conceito de Trio) e vencer.

Apenas esse conceito não é suficiente para um jogo, até porque seria completamente resolvido pela sorte: o jogador que pegasse mais peças da sua cor venceria. Percebi isso tomando banho… Então, de noite eu retornei a pensar no jogo. Aproveitando o aspecto experimental da coisa, aproveitei para inserir um elemento que acho muito interessante: interação positiva. Basicamente, você realiza uma jogada que dará algo para o oponente, mas você também recebe um benefício por tê-lo ajudado. Com isso, surgiu a ideia de cada jogador ter um marcador que iria andar nesses círculos. Sendo que a pecinha só se move quando você joga cartas com semicírculos do oponente. Assim, você ajuda o oponente com os semicírculos dele, mas também se ajuda, pois é necessário mover sua peça.

Nesse momento, a condição de vitória do jogo era ter três círculos da sua cor, mas com o seu marcador em algum dessas três círculos. Com o conceito e regras todas elaboradas, parti para a produção do protótipo no dia seguinte (13/07/2017). Imprimi aqui em casa mesmo e testei sozinho. Deu tudo errado. Quais foram os problemas?

1. A movimentação estava muito fácil, pois tudo ficava muito perto;
2. A vitória dependia da sorte, pois é muito fácil bloquear o Trio do oponente;
3. As decisões eram ínfimas, não estava precisando de muita estratégia ou tática para vencer;
4. O jogo podia durar até acabarem os tiles, gerando um final anticlimático.

A priori eu pensei: que jogo bosta. Fui dormir pensando no jogo. Logo, não dormi né?

A noite mal dormida rendeu algumas ideias. Então, no terceiro dia de trabalho (14/07/2017) comecei a implementá-las. Como o movimento estava muito fácil, dificultei a condição de vitória: agora cada jogador tem três marcadores e deve ter cada um deles em um dos espaços do seu Trio. Assim, o jogador precisava de mais movimentos para chegar aos lugares com todas as peças. Isso gerou situações de bloqueio interessantes, tanto para travar o movimento do oponente, impedindo-o de seguir por um caminho; como para evitar uma vitória rápida, travando os espaços do Trio do oponente. O jogo ficou mais interessante, mas ainda estava muito fácil bloquear a formação do Trio adversário.

Testei algumas vezes sozinho, tentando pensar em uma solução e percebi onde estava a facilidade: poder colocar os tiles em qualquer local. Isso possibilitava os jogadores à travarem uns aos outros direto, pois eram onipresentes. Como evitar isso? Agora os jogadores só podem colocar tiles adjacentes ao espaço inicial ou que estejam a um movimento de distância de alguma peça sua. Resolvido.

O bloqueio tornou-se mais complicado e estratégico, pois o jogador precisa mover suas peças antes do inimigo ter a oportunidade de criar um Trio; o movimento tornou-se extremamente importante, pois só é possível bloquear se movendo bastante. E com tudo isso funcionando, o incentivo de jogar peças do oponente no lugar correto ficou interessante. Fiz algumas modificações em como o jogador ganha movimento, pois antes dava para burlar a ideia de ajudar o oponente e tudo começou a fluir muito melhor.

Eu estava satisfeito com o resultado, mas ainda cético. Testar solo nunca é substituto para um Playtest com amigos, por exemplo. Então, dia 15/07/2017 teve jogatina e pude testar Circulando. Primeiro testei 1×1 e a impressão que ficou é que o primeiro jogador sempre venceria, mas não foi a realidade, pois jogamos duas partidas e o segundo jogador venceu. Entretanto, a vantagem do primeiro jogador é obvia e precisa ser corrigida. Depois testei 2×2 e também funcionou, mas houve críticas com relação aos tiles, pois um jogador pegou duas fichas que todos os semicírculos eram da cor dele. Isso inviabilizou seu movimento, facilitando a vitória do outro time. Resolver esse segundo problema é fácil, pois existem duas peças com todos os semicírculos da mesma cor. Deixando apenas uma essa situação se torna impossível de ocorrer, pois o jogador tem uma “mão” com dois tiles.

Em todo caso, esse Playtest mostrou que o jogo funciona, é rápido e tem decisões que importam. Como as setas entre os semicírculos estavam apenas poluindo o tile, resolvi removê-la e juntar mais os semicírculos para indicar adjacência e movimento válido. E inseri umas retas verdes e azuis para indicar que apenas nesse sentido é que é considerado um Trio, isto é, não é possível formar um Trio com círculos na diagonal.

Comecei a escrever esse Diário dia 17/07/2017, e enquanto escrevia esse trecho decidi colocar a seguinte regra para o primeiro jogador: tem -2 pontos de movimento na sua primeira jogada. Assim, o jogador só consegue se mover se colocar bastante semi-círculos do seu oponente. Não sei se é uma boa opção, mas testarei eventualmente.

Pois bem, escrevi as regras dia 18/07/2017. Infelizmente elas ainda não passaram por Blind Playtest, mas tento fazer isso próximo final de semana.

É isso, foi assim que Circulando foi criado para o Desafio da Caixinha, mas não enviado, em 7 dias. Estou aberto à sugestões, pois provavelmente farei outros Diários e gostaria de saber onde errei e onde acertei.

Para fechar, gostaria de deixar algumas perguntas para vocês:

• Você se interessou em conhecer o jogo?
• O que você acha de ter um Print & Play disponibilizado aqui no blog?
• Você estaria interessado de participar de um experimento de Playtest à distância?

Aguardando suas respostas nos comentários. Obrigado adiantado ao pessoal que comentar.