Minha Coleção: Parte 3

Se você chegou até aqui, já conheceu 23 jogos. Se ainda não conheceu, veja a Parte 1 e Parte 2. Vou economizar meus dedos nessa introdução, pois precisarei escrever um bocado para apresentar os próximos 12 jogos.

Hanabi (2010)
Em algum momento já comentei como não sou tão fã de jogos cooperativos, mas Hanabi tem um diferencial: você não pode ver as próprias cartas e a comunicação é restrita às dicas do jogo. Por incrível que pareça, Hanabi é meu jogo favorito do Antoine Bauza, pois sempre faz sucesso com jogadores novatos… “Como assim cooperativo?”, “Como assim eu não vejo as minhas cartas?”. O impacto da novidade ocorre de imediato. Infelizmente o jogo perde o brilho quando descobrem que não há uma condição de vitória, tirando falhar miseravelmente irritando os deuses três vezes. Bauza consegue muitas vezes transmitir uma experiência em seus jogos, mas todos os jogos do Bauza têm problemas com pontuação. Ou a pontuação é sem propósito (como Hanabi) ou são desbalanceados demais (como Takenoko) ou são simples demais (como Tokaido) ou são totalmente na contramão com o jogo (como Rampage). Bom, em todo caso, já enjoei de Hanabi tem algum tempo. Mantenho na coleção mostrar aos novatos o potencial dos jogos modernos e também porque é pequeno.
Hansa Teutonica (2009)
Que jogão, já falei dele no Top 3 jogos que eu gostaria de ter criado, então já deve saber que tenho grande estima por Hansa Teutonica. É um Eurogame extremamente elegante, com mecânicas que por alguma razão incrível funcionam muito bem. Interação é o ponto chave do jogo, um dos poucos jogos que ser “atacado” por um jogador é uma boa jogada. Comprei as duas expansões, mas ainda não joguei nenhuma delas. Acho que em breve estreio alguma, não faço nem ideia do que proporcionam. Raramente compro expansões e muito mais raramente compro expansões às cegas, mas Hansa Teutonica merece. Deve ficar na coleção por um bom tempo ainda.
Keyflower (2012)
Keyflower é um jogo bem inteligente em suas mecânicas, tanto pelo aspecto inovador quanto pelas ideias funcionais. Primeiro que o jogo tem vários meeples coloridos, mas os jogadores não controlam nenhuma das cores; segundo que o meeple pode ser usado como trabalhador ou como “moeda” de leilão; e terceiro é um Eurogame que vai até 6 jogadores, uma raridade. Entretanto, nem tudo são flores. Keyflower com 2 jogadores é ruim, pois é um jogo de memória, com 6 é pior ainda, pois o downtime é gigante. O jogo é dividido nas quatro estações e cada estação tem um “propósito”, o problema é que isso reduz a jogabilidade e estratégias. Assim, toda a criatividade do game design de Keyflower se perde, pois existe uma estratégia vencedora: coletar muitos recursos iguais e ter o tile que dá ponto por aquele recurso. É possível vencer o jogo comprando uns 3 tiles durante toda a partida. Eu já teria vendido Keyflower, mas como ele possui muitos componentes, aproveitei para mantê-lo na coleção e usar esses componentes em um dos meus protótipos.
Mombasa (2015)
Não costumo comprar jogos lançados aqui no Brasil. Não, não sou hipster, mas sou bastante prático. A chance de alguém do meu grupo de jogos ter um jogo lançado no Brasil é grande e para mim não faz sentido ter o mesmo jogo que um amigo meu tem… Especialmente quando é um jogo que jogarei raramente. Esse é o caso de Mombasa, mas gostei tanto do jogo que comprei. Mombasa é o meu jogo econômico favorito. A programação das ações aliada com o descarte alinhado é simplesmente brilhante, mas o jogo não termina aí… São várias mecânicas boas em um jogo só. Até o deck-building, que normalmente não sou fã, achei interessante em Mombasa. Infelizmente, como Mombasa é um jogo pesado, demorado, que funciona melhor com 4 pessoas e que outras pessoas do grupo possuem, a minha cópia ainda está lacrada. Nas minhas últimas partidas tive a impressão de uma possível estratégia forte demais, mas preciso jogar mais vezes para verificar se é a realidade. Em todo caso, não sei se vendo ou se mantenho, mas por enquanto ficará lacrado por aqui.
Patchwork (2014)
Antigamente eu comprava muito jogo na louca, pois o mercado estava em crescimento e era muito fácil vender os jogos que não me agradavam. Hoje em dia a situação está mais complicada e, consequentemente, eu passei a ser mais restrito ao comprar jogos novos. Então, eu pesquiso um bocado antes de decidir comprar. Em geral eu vejo vídeos, em alguns casos eu leio resenhas. Com Patchwork eu vi uns dois vídeos de gameplay e não entendi o motivo desse jogo ser Top #1 abstrato no BGG. Me pareceu muito entediante, mas por algum motivo obscuro eu arrisquei e comprei. Devo dizer que dei sorte. Patchwork não é entediante, muito pelo contrário, é interessante. O problema é que os gameplays não transmitem as decisões que passavam na cabeça dos jogadores: o planejamento de qual peça pegar, quando pegar, quando passar, como montar sua colcha de retalhos. Um excelente jogo para dois jogadores e também bastante acessível.
Quicksand (2003)
Era complicado adquirir jogos na época que ainda não existiam editoras trazendo jogo a rodo pro Brasil. Então, a melhor alternativa era participar de trocas para obter novos jogos e se livrar dos antigos. O problema, é que para participar de trocas precisa ter jogos… Então, surgiu uma oportunidade de comprar uns cinco jogos de uma vez por um preço bem camarada. Não hesitei e comprei. Nesse bolo veio Quicksand, que não é um jogão, mas para minha época de iniciante era considerado um ótimo jogo. Joguei até com minha mãe, que não joga nada. Depois de anos na coleção está aqui somente por dois motivos: nostalgia e caso de estudo, pretendo ainda fazer um jogo que utilize a mesma dinâmica de personagens controlado por todos, mas cada jogador é um dos personagens secretamente.
Ra: The Dice Game (2009)
Mais um jogo da série Out of Print que achei que nunca conseguiria comprar, mas consegui com o pessoal do Canadá (vide Clans, o outro foi Blue Moon City, mas esse eu já revendi). Antes de conhecer Ra: The Dice Game eu procurei os outros dice games do Reiner Knizia, testei alguns e mantive um deles na coleção. Sendo que nenhum deles é melhor que este. Engraçado como essas coisas não fazem sentido, como pode um jogo melhor estar Out of Print e outros piores estarem disponíveis? Deve ter algum entrave com relação aos direitos do jogo. Em todo caso, Ra: The Dice Game é praticamente um euro dice game. Isso mesmo, pode parecer esquisito, mas é justamente por isso que gosto dele. É um jogo com uma mecânica estilo King of Tokyo, mas em vez de atacar os outros jogadores você disputa o controle de áreas e tracks diferentes em busca de pontos.
Rattus (2010)
É comum eu realizar trocas e pegar umas bombas, mas em algumas trocas eu dou sorte e pego algumas pérolas como Rattus. Rattus é quase como um controle de área reverso. Já que apesar do objetivo ser focado em ter a maior presença no tabuleiro ao final da partida, durante a partida os jogadores mais presentes morrem mais fácil. É uma dinâmica interessante, mas que por algum motivo eu nunca consegui dominar bem. O maior problema de Rattus é a rejogabilidade. Se você tiver apenas a caixa base, todos os personagens estarão na partida. Isso faz com que você se canse deles rapidamente. Por isso comprei uma expansão, que tem o dobro dos personagens, aumentando demais a variedade de opções a cada partida. Eu pensei em comprar mais expansões, mas não é necessário… Só recomendaria comprar mais se jogar Rattus bastante, o que não é meu caso.
Rialto (2013)
Comprei Rialto somente pela piada do LOL. É não, brincadeira… Rialto é um jogo de controle de área do Stefan Feld. Eu gosto bastante desse game designer, pois os jogos dele sempre tem um twist em uma mecânica batida e o mesmo ocorre aqui em Rialto. É um jogo de controle de área, mas que existe um ritmo estruturado na conquista das áreas. Até agora eu não consegui decidir se esse jogo é extremamente estratégico ou aleatório. Ficará na coleção até eu resolver esse mistério e até eu ter certeza se gosto ou não dele.
Robinson Crusoe (2012)
Desde os meus tempos de RPG eu gosto desse aspecto de sobrevivência e aventura que o tema de Robinson Crusoe proporciona. É um dos poucos jogos que tenho na coleção motivado pela temática. O caso de Robinson Crusoe é um caso curioso. É um jogo lançado no Brasil, caro e demorado, só esses fatores já seriam o suficiente para não comprá-lo. Para completar é um jogo cooperativo fake multiplayer, mais um motivo para manter distância. Sendo que por alguma razão comprei e mantive. Além do tema me agradar, nesse jogo eu gosto da dinâmica aleatória dos dados e das cartas. A chance de dar tudo errado é grande e, por mais que os jogadores planejem, não dá para evitar tudo que pode acontecer. Ficará na coleção até eu pelo menos jogar todos os cenários, joguei apenas os três primeiros.
Rolling America (2015)
Eu costumo ter um problema quando marco as jogatinas e brotam 7 ou mais jogadores. Não gosto de dividir a mesa, mas são poucos os jogos que comportam tantos jogadores. Foi por essa razão que adquiri Rolling America, é um jogo que não tem limite de jogadores! Existem muitos jogos nessa categoria de dice game solitários que jogam infinitos jogadores riscando suas fichinhas. Gostei tanto dessa proposta que penso em criar um jogo nessa linha, mas não tive nenhuma inspiração para criar algo realmente diferente. O problema é que como não tenho muitos jogos para tantas pessoas e Rolling America é tão rapidinho, toda vez que temos muitas pessoas jogamos ele… E isso está gerando a revolta entre alguns amiguinhos. Bom, acredito que Rolling America ficará na coleção até acabar as cartelas que permitem jogá-lo. Nesse momento devo ficar com os dados como lembrança ou para algum protótipo.
Russian Railroads (2013)
Acho que worker placement é uma mecânica fácil de gostar. Ela faz sentido tematicamente, ela garante uma interação indireta muito boa, ela permite planejamento tático e estratégico. Então, quando o jogo é worker placement, tem múltiplos caminhos para a vitória, downtime baixo, combos e dá para fazer 400+ pontos, você tem um Russian Railroads. E não pára por aí, existem os engenheiros que garantem uma variedade na partida e desbalanceia as estratégias (de um modo bom). O problema, é que depois algumas poucas partidas, Russian Railroads se torna repetitivo. Ele não é um sandbox game gigante, feito os jogos do Uwe Rosenberg. Então, os múltiplos caminhos são uns 3 ou 4 caminhos somente. Mas não tema, se você gostou do jogo, a expansão German Railroads adiciona tudo que o jogo base precisava: variedade.

6 Comments

  1. Cássio
    26 de abril de 2017

    Mestre, obrigado novamente pelo post. Suas considerações são bastante imparciais, mostra o lado bom e ruim de cada jogo. Sobre os jogos do Antoine Bauza temos aqui no grupo o Takenoko e Tokaido, dois jogos lindos. Takenoko jogamos principalmente quando as mulheres estão junto e quando queremos relaxar pois é um jogo muito gostoso de fato. Em certas partidas sinto que o jogo termina de forma um pouco abrupta, com alguém puxando a qtde de objetivos necessária, tornando o jogo pouco competitivo. Queria entender melhor seu ponto sobre desequilibrio da pontuação dele.

    Tokaido usamos como jogo introdutório, enche os olhos, tema fecha com a movimentação das peças. Sempre funciona, mas é um pouco raso estratégicamente, não da vontade de jogar de novo.

    Patchwork não joguei mas tenho vontade de te-lo para jogar com a mulher que gosta muito dessa praia de costura haha

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  2. Cássio
    26 de abril de 2017

    Apenas para complementar o lance do fake multiplayer que está associado ao Robinson Crusoe. Acho que o fator fake multiplayer perde força com o aumento da complexidade do jogo. Quando jogamos Eldritch Horror aqui, é tanta coisa pra administrar na ficha do personagem que o pessoal no máximo da umas idéias gerais de ações “cara, precisamos fechar aquele portal o quanto antes!” ou “quem vai tentar resolver aquele rumo?”. Nessa medida acho que o multiplayer ficaria muito complexo de um cara só tentar comandar tudo.

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    1. Roberto
      26 de abril de 2017

      Opa Cássio,

      Sobre o problema do Takenoko, é que os objetivos do jardineiro são muito mais difíceis do que os demais, pois os jogadores facilmente destroem seus objetivos sem querer (ao comer os bambus que você queria que atingisse certa altura). Além disso, o dado tem ações claramente superiores as demais.

      Sobre o fake multiplayer, concordo com você. A quantidade de possibilidades é tão grande, no Robinson Crusoe, que não existe jogada perfeita e isso reduz o fator fake multiplayer e alpha player, pois as vezes o jogador mesmo sendo mais experiente esquece de um ou outro detalhe que é relembrado pelos demais.

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      1. Cássio
        26 de abril de 2017

        Entendi, de fato no Takenoko, nas rodadas finais o pessoal vai comprando comprando objetivos de tiles pq (na maioria das partidas) tem grande chance de ter objetivos já prontos.

        Obrigado pelo feedback!

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  3. kleber
    26 de abril de 2017

    Hansa Teotônica é muito legal. Não sou fã de Euros mas acho que ele é mais euro puro do que muitos euros de grande sucesso como Terra Mystica.

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    1. Roberto
      26 de abril de 2017

      Concordo plenamente Kleber. Regras fáceis de assimilar e muita estratégia. É um clássico. Apesar de Terra Mystica ser um bom jogo, ele nem de longe é elegante. Terra Mystica segue o padrão dessa nova geração de Euros complicados e cheios de pra-que-isso.

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