Lição #50: Não pare

O plano era fazer apenas uma Lição mesmo esse ano, para fechar em 50 lições. Quando digo fechar, não é necessariamente encerrar, mas é um bom número alvo para caso eu queira parar com a coluna. Demorou bastante para fazer essa única postagem, mas ela chegou. Veio de um estalo repentino e eu vi que tinha que escrever sobre isso. Vamos lá.

Talvez você ache que eu já bati nessa tecla antes. Talvez eu até tenha, são tantas lições que remetem a isso… Lição #5 diz para tentar outra vez, Lição #1 diz para jogar vários jogos, Lição #21 diz para você trabalhar um pouco todo dia. A Lição #50 talvez seja uma união de todas essas, mas pretendo ir além.

Lá no começo de 2020 chegou o COVID aqui no Brasil. Se minhas contas não estiverem erradas, já são 21 meses nessa. É bastante tempo. Durante esse intervalo eu fiquei inventando umas coisas pra fazer e não parar. Em 2020 trabalhei na publicação de Regicida, também criei dois jogos novos, um motivado por concurso (The Two Builders) e outro por uma Game Jam (Alien Alarm), também joguei jogos solos, já que não podia de me reunir. Apesar de não ter sido bom, 2020 não foi ruim no ponto de vista de tabuleirístico.

Entretanto, em 2021 eu fiz pouco. O gás estava no mínimo, já eram mais de 7 meses trancado. Basicamente escrevi aqui pro blog. Então, apesar de ter pouquíssima empolgação, eu não parei. Ainda continuei jogando uma vez no mês algum jogo novo solo ou online para ter o que escrever no Desafio 100N. Inventei uma coluna nova sobre mecânicas e acho que elas renderam boas publicações. É difícil para mim desenvolver jogos sozinho, pois preciso fazer Playtest e fazer isso online é extremamente frustrante e cansativo. Sendo assim, foram zero criações novas em 2021.

E qual a Lição aqui, Roberto? Se forçar a ficar fazendo algo apenas para não parar? Não. A lição é aqui é não parar de fazer algo que gosta, pois mesmo que não seja o ideal, você ainda pode conseguir algo. Apesar de não querer publicar por conta própria, fiz isso, aprendi bastante e valeu demais a experiência. Apesar de não estar muito empolgado para criar jogos sem poder fazer Playtest, criei mesmo assim e foram jogos bons, além de terem sido jogos que eu provavelmente nunca pensaria normalmente. Apesar de não gostar de jogar solo, conheci mais de 30 jogos assim, alguns excelentes, e cada um deles é mais uma ferramenta e fonte de energia para meu Game Designer interior. Apesar de não estar totalmente investido na escrita, foi melhor escrever um pouco toda semana do que ter parado completamente. Por qual razão? Parar completamente algo que você gosta vai lhe deixar infeliz, desmotivado e estagnado. E no dia que você quiser voltar para aquilo será muito mais difícil encontrar a mesma vontade e empolgação que você tinha antes, pois tá tudo adormecido por meses/anos.

Pense num carro, se você deixar ele parado por muito tempo a bateria morre e ele não sai do lugar. Ele precisa ser ligado e estar em constante uso para não se acabar por desuso. Nós somos a mesma coisa, com uma diferença crucial: temos uma mente e sentimentos. Se um carro tivesse sentimentos, depois de dois dias sem sair da garagem acho que ele faria birra para sair, viu? Mesmo sabendo que ficar parado, eventualmente, vai acabar com sua bateria. Sim, temos agora um carro com depressão nessa historinha. Será que dá um filme?

Bom, voltando. Então, se você não parou completamente e quiser retornar… Será muito mais fácil. Como sei disso? Recentemente, eu voltei a jogar presencial e as engrenagens todas estão girando novamente, como se nunca tivessem parado. Nesses últimos dois meses conheci uns 10 jogos e me peguei pensando no banho em como criar variantes ou como resolver problemas para alguns dos jogos que não gostei. Também me peguei pensando em como retomar o desenvolvimento de Alters e já pensando em organizar um Playtest para as novas ideias.

Talvez eu esteja me enganando e a empolgação retornaria mesmo se eu tivesse passado esses 21 meses sem tocar em nada relacionado a jogos de tabuleiro, mas eu preferi não arriscar. Caso você tenha arriscado, mas gostava de desenvolver, espero que consiga retomar as atividades. Caso você, assim como eu, tinha quase parado completamente por conta da pandemia, não pare. Diminua a frequência, mas continue. Isso vai alimentar sua bateria e manter as engrenagens ativas. Muito coach, né? Mas é assim que finalizo a quinquagésima lição.