Playtest com Amigos

Depois de tirar os maiores problemas do seu jogo no Playtest Solo, chegou o momento de apresentar seu jogo aos amiguinhos. Ou não… Afinal, se existe uma etapa que muitos chamam de opcional, seria essa. Eu nunca pulei, mas já vi muitos recomendando ignorar a opinião dos amigos, pois nunca receberá um feedback honesto. Eu discordo, em partes. Vamos lá.

Vejo em várias postagens as pessoas discutindo quem são esses “amigos” e constantemente vejo incluídos nessa lista: familiares, amigos não-gamers e demais pessoas de seu círculo social. O único momento que vejo a validade em chamar esse pessoal é se o jogo for voltado para completos iniciantes ou mercado de massa. Então, de modo geral, eu discordo em testar com essa lista de pessoas.

Quando eu digo Playtest com Amigos, eu penso diretamente em Playtest com Amigos Board Gamers, pois este é meu público alvo. Fora que o feedback provido por um board gamer é mais embasado do que uma pessoa que desconhece os jogos de tabuleiro modernos. Ela conseguirá criticar mecânicas, comparar com outros jogos, e quem sabe até dizer jogos similares para você pesquisar soluções para os seus problemas.

Playtest de Mataru Okara com amigos de jogatinas. =)

Então, qual o propósito do Playtest com Amigos? Eu vejo como uma oportunidade de encontrar problemas que não podem ser percebidos no Playtest Solo. Além de verificar variáveis importantes que são difíceis jogando sozinho, sem se expor tanto. Em geral o feedback será muito mais gentil, afinal sempre existe medo em ferir seus sentimentos, mas deixo aqui um recado para todos os playtesters: não tenham pena do nosso jogo, tenham em mente que o game designer não é definido pelo seu jogo, isto é, o jogo ser uma bosta não indica que o game designer é um bosta. Portanto, nós aguentamos críticas e queremos elas, pois só assim podemos evoluir nosso jogo. Esse mesmo conselho serve para você, game designer que não aguenta críticas às suas criações e considera elas ataques pessoais.

Em todo caso, vamos partir do ponto que todos na mesa falam que adoraram o jogo, que está tudo muito bom, que compraria e tudo mais. Não tema, apesar desse feedback aparentemente inútil, a partida não foi uma total perda de tempo. Todo teste é valioso, pois você pode extrair informações extremamente importantes sem que nada seja dito:

  • Verificar o tempo real da partida. É importante adquirir essa informação para realizar modificações de acordo com o seu escopo;
  • Dificuldade de aprendizado do jogo. Durante a explicação e durante a partida, é fácil perceber os pontos que foram de difícil assimilação. Talvez seja o caso de tentar melhorar a mecânica para algo mais intuitivo ou explicar diferente em outra oportunidade;
  • Momentos de diversão. Às vezes é possível detectar a empolgação no rosto de alguém ou ela de fato rir de alguma situação. Esses são momentos-chave e devem ser preservados e mais explorados no seu jogo;
  • Momentos de frustração. Dependendo do jogador, você vai conseguir esses momentos bem claramente, pois é fácil algumas pessoas expressarem raiva ou desgosto por algo de imediato. Se você estiver atento, vai perceber rapidamente. Claro que esses momentos de frustração podem ser momentos úteis no jogo. Afinal, dependendo da proposta do seu jogo, não é possível ser tudo alegre e contente, mas é importante saber quais são esses momentos para analisá-los se devem permanecer ou serem removidos;
  • Momentos de tédio. Se você observar bem, perceberá aquele jogador que está muito distraído com outras atividades (celular, conversas, olhando pro vazio, etc). Como você está testando com amigos, leve em consideração se esse é o comportamento usual ou está além do esperado. Você precisa remover esses momentos ou diminuí-los sempre que possível.

Em alguns casos mais raros, será possível ouvir algumas críticas. Leve todas em consideração, pois se um amigo seu tem uma crítica sobre o jogo, provavelmente é o sentimento real dele sobre o jogo. Pode não ser a realidade, pois pode ser fruto de alguma frustração causada pela partida, mas é algo a ser analisado.

Outro ponto que destaco é que muitas pessoas dizem para não “discutir” com os playtesters. Isto é, não justificar suas decisões, não defender seu jogo, apenas receber o feedback, agradecer e pronto. Quando se trata de amigos eu discordo. Ao final da partida eu sempre peço para que os jogadores contribuam livremente. Dependendo do retorno deles, eu faço perguntar específicas e às vezes até debatemos sobre uma mecânica ou outra. Muitas vezes já lanço ideias naquele momento e pego feedback de imediato. Acho extremamente produtivo e é assim que consigo mais progresso nos meus jogos.

Para fechar. Eu acho essa etapa essencial e provavelmente nunca vou ignorar e pular direto para o Playtest com Desconhecidos. Não por ter medo de expor meu jogo para desconhecidos ou ter medo de crítica. O fato é que eu não disponho de desconhecidos para jogar meus jogos, são raros os casos que consigo colocar alguém que não conheço para participar de um playtest. Portanto, eu preciso aproveitar o máximo do feedback dos meus amigos gamers.

Aproveito para agradecer todos os amigos que jogaram meus jogos no decorrer desses anos: Eduardo Pitt, Emerson Andrade, Luis Henrique Teixeira, Alberto Silva, Leonardo Almeida, Daniel Maida, David Neto, Fernando Lopes, Francisco de Assis, Gleydson Fonseca, Heitor Fernandes, Mateus Borges, José Terceiro, Sara Fogo, Lucas Andrade, André Albuquerque, Bruno Cavalcanti, Edgar Andrade, Agamenon Pedro, André Nascimento, Frederico Silva e Kleber Barbosa. Forte abraço. Se eu esqueci de você, peço desculpas, mas o sentimento é o mesmo.

6 Comments

  1. Emerson
    31 de março de 2017

    De nada =D. É sempre um prazer. Muito bom jogar os seus jogos e ver a evolução deles a cada partida jogada .

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  2. Gleydson
    1 de abril de 2017

    Sempre à disposição para testar! 😉

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  3. Mike carvalho
    3 de abril de 2017

    acho q a ideia é essa mesmo , teste e mais teste assim se tem uma evolução melhor a cada jogo

    Responder
    1. Roberto
      6 de abril de 2017

      Isso Mike, tem que botar o jogo na mesa para ele ser testado e evoluir. =)

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  4. Alain Pierre
    21 de julho de 2017

    Testei o Mataru Okara e gostei bastante. Estive meio sem tempo de ir outras vezes na Taverna (ok, fui uma vez só), mas sempre que for testar pode me avisar que farei um esforço para ir.
    Finalizei o jogo para o TCC (1º jogo, ficou bem fraquinho, mas deu pra concluir o objetivo que era o TCC) e estou criando outro. Conheci seu blog hoje, vou acompanhar, tem dicas muito interessantes.

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    1. Roberto
      21 de julho de 2017

      Oi Alain, seja bem-vindo. =)

      Todo Domingo estou pela Taverna e sempre levo algum protótipo comigo. Ela se mudou para Boa Viagem, junto com a Geek Pit (Av. Conselheiro Aguiar, 3150).

      Lembro do seu jogo (e até joguei!) e acho que vi o seu segundo pelo Facebook, lá no grupo de desenvolvedores. Sempre bom ver mais gente em Recife investindo na criação de jogos de tabuleiro.

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