Lição #52: Você não é seu jogo

Talvez esse título nem faça sentido para você que está lendo. Afinal, é óbvio que você não é seu jogo. Você é um ser humano e seu jogo é, ora, um jogo. Entretanto, você perceberá que há algum sentido nessa frase. E, por incrível que pareça, muitos não acreditam nela.

Essa Lição é apenas para alertar você, colega criador. Que você não é a sua criação. São duas coisas distintas e o que você criou apesar de ser uma parte de você, não é você. Seu jogo é ruim? Não significa que você seja ruim. Seu jogo é burro? Não significa que você seja burro. Seu jogo é feio? Não significa que você seja feio. Primeiro que muitas das decisões finais do jogo partem da Editora. Então, seu filho deixa de ser um pouco seu quando você assina um contrato. Segundo que mesmo você tendo domínio de 100% do que chegará na prateleira do consumidor, um jogo é apenas um jogo. Ele não reflete você como criatura pensante.

Depois de publicar Regicida e Distrito 6, tenho visto os comentários e avaliações realizados pelos usuários da Ludopedia e do BGG. Pude perceber algumas coisas e deixo aqui para você que ainda não passou por essa experiência:

  1. Trolls são reais. Seres humanos podem ser bem mesquinhos e cretinos. Ignore-os.
  2. Haters são reais. Existem pessoas que lhe odeiam em um nível pessoal e vão dar notas baixas para o seu jogo apenas por perseguição. Seja por algum comentário que você fez (sobre um jogo que a pessoa ama), seja alguma posição política sua ou seja por ter lhe conhecido pessoalmente e criado ranço da sua pessoa. Acontece.
  3. Notas sem jogar é algo que acontece. Existem pessoas que assistem um vídeo ou leem as regras do seu jogo e dão nota em cima disso. Às vezes nem é safadeza, a pessoa pode ser simplesmente dessas que usa as notas desses sites para definir se irá comprar, se já viu algo sobre o jogo ou afins. Claro que também existe o que quer aparecer ou procurar confusão, mas acredito ser minoria.
  4. Notas não seguem uma padronização. Cada um avalia como quiser. Para mim, um jogo com nota 7 é bom; para outros é apenas mediano. Para mim um jogo com nota 3 é bem ruim, praticamente nem é jogo; para outros é apenas um jogo que não curte muito jogar, mas jogaria. Para mim, um jogo 10 é a perfeição (nenhum ainda), para outros é apenas mais um dos jogos que gosta. Quem tá certo? Ninguém e todo mundo. Então, cada um pensando de um jeito e dando notas de um jeito torna impossível obter uma média congruente.
  5. Notas em pequenas quantidades não tem valor estatístico. Tem jogo com menos de 300 notas na Ludopedia que é Top 100. Isso não faz nem sentido. Significa que tendo uma ampla rede de contatos é possível ser muito bem ranqueado na Ludopedia.
  6. Notas antes do jogo ser publicado. Algumas vezes são notas dadas por quem testou, o que também não concordo; às vezes é apenas um cliente empolgado que comprou o jogo e está aguardando sua chegada, o que é pior ainda.
  7. Notas após jogar incorretamente. Não é incomum jogar um jogo errado, claramente isso vai acarretar em avaliações negativas. Se isso acontece comigo, que tenho interesse em Game Design, estudo as regras com antecedência e já li vários manuais. Imagina aquele monitor no evento que entrou no hobby faz seis meses, nunca leu um manual na vida e aprende os jogos apenas assistindo vídeo no Youtube? Muita gente joga o jogo errado (e nem sabe) ou simplesmente teve uma explicação tão ruim, ao ponto de jogar sem entender nada que está fazendo.
  8. Notas após jogar apenas uma partida. Eu faço isso, você faz isso, todo mundo faz isso. O que acontece? Alguns jogos bons recebem apenas uma oportunidade e possuem avaliação bem ruim por uma primeira má experiência. Essa experiência pode ter sido resultado de uma má explicação, explicação incorreta, composição na mesa e inúmeros outros motivos. Maioria das pessoas jogam um jogo apenas uma vez e nunca dão uma segunda chance se não gostarem.

Resumindo: notas (de modo geral) não refletem a qualidade real do jogo. Todos os fatores citados acima acontecem e não são tão raros quanto eu gostaria que fossem. Não invista emocionalmente nisso, não se deixe afetar pelos ataques que seu jogo sofre da comunidade. Também não deixa aquele único hater lhe impactar negativamente, sendo que outros cinquenta desconhecidos já falaram que gostaram do seu jogo. Também não dê tanta importância aos ranks, eles podem ser bem frágeis.

Comentário amoroso na Ludopedia sobre Distrito 6.

Aproveitando para dar uma recadinho também para você, colega Game Designer ou você que é dono de Editora. É extremamente deselegante (e chato) ir atrás de quem deu nota no seu jogo e pedir explicações. Seja simplesmente por curiosidade, para evolução em próximos projetos ou até para ver se a pessoa jogou certo. Deixe as pessoas darem suas notas e ignore-as. Foi positivo? Legal. Foi negativo? Legal também. Se, por um acaso, quiser algum feedback por estar elaborando uma segunda edição ou para verificar alguns problemas no manual, envie formulários impessoais aos jogadores ou algo assim, nunca aborde-as diretamente.

Por sinal, apesar de tudo que falei, esses ranks tem grande influencia e impacto na comunidade. Sendo assim, se você já jogou Regicida ou Distrito 6, deixa sua avaliação lá no BGG e/ou Ludopedia. Pode ser uma avaliação real e honesta, alias, eu gostaria que fosse. Segue os links diretos para facilitar sua vida: Regicida no BGG, Regicida na Ludopedia, Distrito 6 no BGG e Distrito 6 na Ludopedia.

Pronto, foi só isso por hoje. Lembre-se: só de ter publicado o jogo, você já tem uma história de sucesso. Falha seria nunca ter se colocado na posição de ter seu projeto criticado. Até a próxima!

2 Comments

  1. Thiago Guido Vieira Ribeiro
    15 de setembro de 2023

    Post excelente!

    Responder
    1. Roberto
      16 de setembro de 2023

      Valeu, Thiago!

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top