Desafio 5×3 – Vencedores do Spiel des Jahres

Esse Desafio tem servido para momentos de escassez. Infelizmente, não tenho trabalhado tanto nos meus jogos e, com isso, o pensamento sobre Game Design decai bastante. Com a quarentena eu trabalhei em alguns jogos, criei até dois do zero, mas desmotiva muito não ter como testar sem ser online. Então, cá estamos com mais um Desafio 5×3 tenso. Daqueles que vocês vão me mandar pro inferno. Vamos falar hoje sobre o Oscar dos Jogos de Tabuleiro: a premiação Spiel des Jahres.

Se você não conhece a premiação, serei sincero aqui: não está perdendo muita coisa. O Spiel des Jahres funciona como qualquer sistema de rank ou premiação aleatória em qualquer lugar do mundo. É completamente subjetivo, pois avaliar jogos é algo subjetivo. Quer você queira admitir isso ou não. Entretanto, o diferencial dele para um Prêmio Ludopedia, por exemplo, é seu alcance e sua fama. É, como comentei no começo, o Oscar dos Jogos de Tabuleiro. As razões disso devem ser sua história longínqua que iniciou em 1979. Sim, a premiação é mais velha que esse que vos fala. Vamos aos cinco melhores?

#5. Alhambra (2003)
Eu demorei para conhecer Alhambra. Você vai reparar que não sou muito um Family Gamer. É como se essa categoria de jogos estivesse no meio do caminho para mim: não são complexos o suficiente para me interessar e nem são leves o suficiente para me divertir. Enquanto que para a maioria do mundo é o peso perfeito, para mim é aquele primo esquisito que não se adequa à nada. Bom, a diferença de Alhambra para a maioria dos Family Games, é que ele é só um passinho acima dos Gateways em geral. Tem alguns aspectos obtusos? Tem. O esquema de realizar ação extra baseado na compra correta soa completamente aleatório? Sim. Entretanto, o jogo funciona muito bem para sua proposta. A interação existe e a disputa está lá para temperar as decisões. Se não conhece, recomendo conhecer. É, literalmente, um clássico. Um jogo de 17 anos que se segura bem diante dos lançados hoje em dia.
#4. Hanabi (2010)
Já até cansei de citar Hanabi aqui no blog. É um jogo que gosto muito da ideia, mas não gosto tanto do resultado final. Tanto é que tenho Bomb Squad e Beyong Baker Street. Dois jogos que usam a mesma dinâmica do Hanabi. Tudo bem que esse segundo eu já quero vender, mas isso é conversa para outro momento. Hanabi é um daqueles jogos extremamente simples, diretos e que tem uma sacada diferente o suficiente para fazer qualquer novato pensar: “putz, que jogo diferente, o que mais há de diferente para você me mostrar?”. E isso é uma excelente reação para angariar novos companheiros.
#3. Villa Paletti (2001)
Mais um queridinho. Esse eu já vendi e apesar das saudades, não me arrependo de termos terminado. Era o momento certo. Villa Paletti veio numa época que eu caçava frenéticamente Jogos de Destreza. Continuo gostando do estilo e sempre estou disposto a conhecê-lo, mas a chama apagou um pouco. Villa Paletti surpreende por ser um Jogo de Destreza praticamente puro, mas que tem um quê minimamente estratégico e tático. O que para sua idade me surpreendeu bastante na época que conheci. Um jogo bem difícil de encontrar, mas que por motivos que vão além da minha compreensão, já foi até vendido no Brasil.
#2. Dixit (2008)
Mais um que comento direto e recomendo fortemente à qualquer pessoa. Dixit é um daqueles jogos universais. Não que funcionem com todas as pessoas, mas é uma excelente maneira de mostrar como o universo dos Jogos de Tabuleiro mudou desde o velho War e Banco Imobiliário. A proposta do Dixit é simples e extremamente cativante. É um daqueles Party Game que não é dedo no … e gritaria. Acho que é uma boa existir esse estilo, pois nem todo mundo gosta dessas coisas.
#1. Codenames (2015)
Disputa um pouco injusta para o restante dos Spiel des Jahres. Codenames é meu jogo predileto. Não começou assim, mas ele cresceu tanto com o acumulo de partidas que chegou até lá com bastante mérito. A ideia do jogo é simplesmente genial. O tipo de sacada que raramente os Game Designers conseguem ter, mas quando tem e é trazido ao público da maneira correta é receita para um sucesso. Muitos dizem que Codenames só faz sucesso por conta de ser do Vlaada. Afirmativa que não faz o menor sentido, já que seus fãs gostam de jogos como Mage Knight, Dungeon Lords e Through the Ages. Na realidade, esse jogo venceu as probabilidades se for desse ponto de vista. É como se um jogador de Xadrez mudasse para o Futebol e conseguisse ser bom.

Agora chegou o momento da polêmica. Querendo ou não, a premiação coloca vários jogos no mapa, aumentam suas vendas e, consequentemente, deixam o jogo mais popular. Portanto, não tinha como fazer um Bottom do Spiel des Jahres sem gerar controvérsias. É isso, querido leitor, foi um prazer conhecê-lo. Espero que sua raiva passe um dia e você retorne para ler mais uma agradável publicação por aqui.

#5. Ticket to Ride (2004)
Não me recordo plenamente se já falei mal ou não do Ticket to Ride por aqui. Então, apareceu a oportunidade. Não posso perdê-la. Desde minha primeira partida de Ticket to Ride eu não saquei do jogo ser tão popular. E com o tempo minha impressão foi piorando. Me parece que a vitória em Ticket to Ride se resume em pegar uns objetivos que prestem no começo da partida e depois pegar os que você já tiver cumprido. É um jogo que na superfície não parece ter tanta sorte, mas a sorte é bem grande. Talvez se você memorizar os objetivos isso diminua drasticamente, mas se tem um negócio que não faço é memorizar algo só para jogar um jogo melhor. O HD é limitado e guardo para informações mais importantes. Além disso, acho toda a dinâmica do jogo é bem repetitiva e você meio que faz a mesma coisa a partida inteira. O fato dos pontos dos objetivos não cumpridos serem totalmente negativados é algo que até hoje não vi o sentido do ponto de vista de Game Design. Talvez seja para evitar a pessoa abusar de ficar pegando objetivos? Mas nada impede da pessoa que nunca abusou ir buscar um objetivo e só ter coisa impossível de cumprir. Aí, você gastou uma ação para perder 10 pontos por puro azar. Em suma, são vários elementos que me fazem não gostar desse jogo e de não entender seu sucesso tremendo. Vai ver é um daqueles jogos que só fazem sucesso pelo acaso. Talvez o tema agrade a muitas pessoas e unindo isso as suas mecânicas simples tudo engatou. Sei lá.
#4. Hare & Tortoise (1973)
Olha o vencedor mais antigo do Spiel des Jahres presente! Só essa frase já dá uma perfeita noção do motivo do jogo estar no Bottom. Afinal, nem tudo envelhece bem. O problema maior desse jogo é ele ser muito “matemático”. No sentido de você ficar a todo momento fazendo aquelas contas chatas de padaria. É a mesma crítica que faço ao Power Grid, sendo que aqui é mais forte, pois o jogo é bem mais simples. Deixando ainda mais claro a presença da matemática crua na sua frente. No mais, considerando ser um jogo de 73, acho que o prêmio deve ter sido bem merecido mesmo. Afinal, tem bastante jogo atual pior que esse.
#3. Tikal (1999)
Talvez eu esteja sendo injusto com Tikal. Joguei apenas uma vez e eu tenho plena convicção que a partida foi ruim por conta dos jogadores. Tudo bem que o jogo é sim propenso a Analysis Paralysis, mas um dos jogadores da mesa foi demais. Naquele ponto que quando chega na sua vez, você faz uma jogada qualquer só para a partida terminar o mais breve possível. Em todo caso, até joguei Tikal no iOS, mas o jogo ainda assim não me despertou simpatia. Então, ficaremos na dúvida se eu gostaria do jogo ou não, pois as chances de eu jogá-lo novamente são bem baixas.
#2. Catan (1995)
O clássico dos clássicos. O precursor do “movimento” dos Jogos de Tabuleiro Modernos no mundo quase que inteiro. Meu maior problema com Catan é a negociação. Jogos de negociação livre e aberta são Lazy Design. Sim, caguei regra e não tou nem aí. Claramente a dinâmica do jogo não é forte o suficiente para andar pelas próprias pernas, sendo assim vamos colocar negociação para possibilitar um relativo balanceamento de oportunidades e, quem sabe, fazer o jogo fluir um pouco mais naturalmente. Não curto. O que não entendo é ter campeonatos de Catan por aí… Um jogo meio que gerenciado por todo um aspecto social ter premiações? Faço nem ideia de como organizam pra ficar algo “justo”.
#1. Dominion (2008)
E agora o momento mais polêmico. Eu quero que você entenda uma coisa: o fato de eu não gostar do jogo não indica que ele é um lixo ou que não é um clássico ou que não tem um legado. Dominion claramente foi algo sensacional em termos de mecânica e de formar um legado. Mas é um lixo sim. Opa, não esperava por essa né? Dominion entra naquela categoria que me vence no cansaço. Eu até gosto do conceito e no começo da partida até estou de boas, mas depois da 5ª rodada eu já cansei. Baixa carta, compra carta, saca carta, embaralha. A falta de interação aumenta ainda mais esse sentimento de repetição, pois você meio que entra no modo automático. Os turnos são muito rápidos quando você sabe o que tá fazendo. Parece aqueles jogos de Xadrez com timer de 1 minuto. Sabe quando Deck Building é bom? Quando ele é apenas um elemento do jogo. Pfister é o mestre nisso.

Bom, agora que só restaram os Dominion haters lendo, vamos a parte curiosa. Quais jogos eu ainda não joguei e gostaria de conhecer?

#5. Zooloretto (2007)
Lá nos primórdios da minha vida de jogatinas, em 2011, eu conheci Coloretto. Pelo  nome, acho que dá para adivinhar que é um derivado do Zoloretto. Eu sempre gostei de Coloretto por sua simplicidade e interação. É um jogo que você ensina para quase qualquer pessoa e o sistema de pontuação é que dita a maneira de você jogar. Tanto é que apenas ao mudar como será essa pontuação, você já muda toda a dinâmica que irá acontecer na mesa. O que, na minha cabeça de Game Designer, é algo bem interessante. Então, eu tenho a curiosidade de conhecer o seu predecessor.
#4. Camel Up (2004)
Eu não faço ideia se gostaria de Camel Up ou não, mas só o fato de comportar tantas pessoas na mesa e ter essa atmosfera meio de apostas já me deixou curioso. Eu gostava da ideia do Horse Fever, mas depois de algumas partidas ele ficava meio repetitivo e manjado. Se Camel Up conseguir a mesma experiência e emoção das apostas do Horse Fever, sem que o jogo se arraste demais e, consequentemente, as partidas sejam muito parecidas. Acho que temos um vencedor aqui. Talvez seja simples demais, mas nem só de jogos complexos vive uma pessoa. Ainda mais eu… Que nem Vital Lacerda aguento.
#3. Torres (1999)
Jogo da dupla mais famosa de Game Designers. Sim, os mesmos que fizeram Tikal. Torres segue a mesma linha com Pontos de Ação. Não basta isso, é do mesmo ano, se brincar um jogo inspirou o outro. Talvez eu esteja diante do mesmo desastre do Tikal, mas estou disposto a dar uma chance. Até porque, imagino que em uma mesa mais razoável o jogo pode brilhar e me convencer até mesmo a revisitar Tikal. Olhaí a oportunidade…
#2. Just One (2018)
Eu gosto desses jogos com comunicação restrita ou comunicação diferentona. Em Just One, todos os jogadores estão cooperando para vencer o jogo dando dicas sobre uma palavra usando outras palavras. Opa, entrou mais um elemento que estou gostando por conta de Codenames: uma dedução e um jogo de palavras no meio. O engraçado é que nunca imaginei que Just One chegasse ao Brasil algum dia, mas acho que o Spiel des Jahres proporciona dessas coisas: visibilidade e interesse. Provavelmente vai ser o primeiro jogo que vou comprar quando acabar a quarentena. Opa, correção: primeiro jogo que vou comprar quando eu conseguir me livrar dos que quero vender.
#1. El Grande (1995)
E agora o inominável, raro e Out of Print. Desde que me conheço como Euro Gamer eu quero conhecer esse jogo. O dito pai do estilo Controle de Área. Eu já vi como El Grande funciona e não pareceu nada demais. Talvez seja só a pressão de um clássico que poucas pessoas tem acesso? Pode ser, mas isso não me fez deixar de ter vontade de conhecê-lo. Sempre que vou no Spa penso em jogá-lo, mas como o pessoal costuma só jogar os jogos mais recentes, termino perdendo a oportunidade.

É isso. Espero que tenha resistido e lido até o final. E quais são os seus prediletos? Ou mais interessante ainda: quais são os que você acha bem ruim?

2 Comments

  1. Philipp Paiva
    23 de outubro de 2020

    Salve, Roberto.
    Rapaz, como assim você colocou Dominion na berlinda?😱😆😆😆Tá tranquilo, é questão de gosto mesmo, não tem jeito… Eu não curto euro pesado, por exemplo, e nem por isso vou deixar de ser amigo dessa galera Eurogamer hardcore underground 👀
    Brincadeira😆😆😆😆. Concordo contigo quanto ao Spiel lançar holofotes sobre os títulos porque o mundo Boardgamer fica de olho, mas é exatamente a sensação do Oscar que fica. Agradou aos jurados. Não significa necessariamente que irá agradar a mim.
    Do último Spiel, quero muito conhecer o The Crew pra saber se concordo com eles ou não. Embora eu tenha jogado o Cartógrafos, que também foi indicado, e não fez muito minha cabeça. Já joguei duas vezes, mas acho que não curto muito jogos Flip and Write. Mas confesso que me diverti mais com Avenue do que com Cartógrafos (eita… Polêmica 👀).
    No mais, parabéns pelo blog sempre ativo e com um bom conteúdo.

    Responder
    1. Roberto
      23 de outubro de 2020

      Eita! No flagra! heheheheh

      Bora Totó, pois é… É até raro do Spiel me agradar.

      Eu gosto da natureza puzzle do Cartográfos, mas é algo bem meu mesmo… Todo jogo puxando pra puzzle já me interessa hehehe Por isso acho ele melhor que Avenue. Talvez jogando com pessoas, Avenue fique melhor. Acho que a graça é ver os outros/você se lascando por pressionar a sorte demais.

      Valeu pelo comentário.

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