Registro #5: Nova versão de Dr Pine

Eu gosto bastante da ideia de Dixit e de todos os derivados que tem surgido dele. Isto é, basicamente jogos que a pessoa tem imagens e precisa de alguma maneira associar elas ou acertar alguma específico ou qualquer coisa envolvendo as imagens. Surgiram daí, Mysterium, Muse, Shadows: Amsterdam, Detective Club, Obscurio. Cada um com suas restrições de comunicação ou particularidades como traidor, times, etc. A ideia de Dr Pine Test surgiu justamente desse mesmo balaio, com a proposta do diferencial ser o tema e o preço. Isto é, um jogo barato que tivesse apenas cartas. Se você ainda não ainda viu sobre o jogo, dá uma olhada aqui. Vai facilitar a compreensão dessa postagem.

Eu nunca estive plenamente satisfeito com o resultado do Dr Pine Test atual, talvez por conta de ser cooperativo ou simplesmente porque a restrição da letra ficou forçada. Não funcionava tão bem quanto eu gostaria. Todo o restante do jogo eu gosto: temática, habilidades especiais, condição de vitória estilo cabo-de-guerra, dificuldade crescente com o decorrer da partida, etc. O problema é que a parte da letra e a cooperação são partes essenciais da experiência e se isso não me agradava, o jogo não iria realmente agradar. Eu sentia a necessidade de ter algo que fosse realmente diferencial maior e que rodasse legal no meu gosto também. Sendo que eu meio que já tinha fechado o jogo e deixado ele de lado por outras criações.

Isso mudou quando tive a conversa (da primeira postagem dessa Coluna) com uma Editora. Ela comentou sobre o Distrito 6 e sobre o Dr Pine Test. Isso me colocou para refletir sobre os dois. Então, fiquei pensando em como criar algo com a mesma temática, mas com alguma jogabilidade diferente. Terminou que recentemente tive uma ideia e comentei no Registro #3, segue trecho:

Nesse mesmo dia, abusei do pessoal e testei uma outra ideia bem crua que tive. Um jogo de palavras, meio que mistura de Codenames com Spyfall com um diferencial. Basicamente, estou tentando elaborar uma outra versão para o Dr Pine Test, baseado também no Feedback da Editora lá da primeira postagem. Sendo que é um jogo completamente diferente, sem as manchas de Rorschach. Durante os testes aconteceu o que eu previa, mas com algumas sugestões o jogo funcionou. Sendo que ainda não é o que eu quero. Ele funciona, mas a rejogabilidade é pequena e o fator sorte é grande. Tudo bem que seria um Party Game, mas ainda não chegou no ponto que eu queria. Tenho matutado bastante sobre esse jogo, cheguei a outras configurações e ideias, mas também acho que não irá funcionar. O problema parece ser conceitual mesmo. É uma ideia até que inteligente, mas sem o mesmo apelo da simplicidade e variabilidade de um Codenames, por exemplo. O que no final das contas só gera um produto problemático, pois as pessoas não vão conseguir jogá-lo. Ainda não estou no ponto de desistir da ideia, mas não estou muito esperançoso que saia algo daqui.

Bom, agora eu já desisti da ideia. Talvez não totalmente, mas deixou de ser prioridade na minha cabeça já. Então, resolvi descrevê-la para colocar vocês a par do que aconteceu. Seria um jogo de times: um jogador representaria o psiquiatra tentando identificar todas as identidades e os demais jogadores seriam as identidades, sendo uma delas a identidade original. A ideia, tematicamente, seria o psiquiatra descobrir a identidade original, enquanto que os demais tentariam ocultá-la. O problema é que acho que o tema ficou pior que o anterior e mais forçado.

Para evitar ficar pensando demais no tema e me focar na mecânica, passei a pensar no jogo como se fosse um novo jogo da linha Codenames. Seria o Codenames Assassin. Um jogador seria o assassino, todos os demais espiões, menos um que seria um civil (alvo do assassino). Então, como funcionaria? Teríamos as palavras (codinomes) igual ao número de jogadores menos dois, pois nem o assassino nem o civil tem um codinome. O assassino tem acesso a todas as palavras e anota elas em um papel. Essas palavras seriam misturada com uma que diria apenas “Civil” e todos os jogadores menos o assassino pega uma. Assim, o jogador sabe os codinomes, mas não sabe seus donos. O objetivo dos jogadores seria dizer todos os codinome em X minutos. Parece simples, mas a questão é que o objetivo do Assassino é descobrir o Civil. Então, se todo mundo disser seu codinome, o Civil é facilmente encontrado. Portanto, a ideia é que os Espiões transmitam seus codinomes entre si, sem falá-los especificamente, para que eles consigam enganar o Assassino. A dinâmica do jogo é conversa aberta, então os jogadores podem ficar conversando sobre qualquer coisa, enquanto o Assassino faz suas anotações. Não sei se ficou claro a explicação, se não ficou é porque o conceito é um pouco ruim de pegar mesmo.

Em todo caso, como você deve imaginar… Ficou MUITO difícil para o Civil saber o que fazer e para os demais “transmitirem” seus codinomes sem entregar demais. Testei essa versão que expliquei e não serviu. E testei uma outra versão no qual os codinomes eram temáticos (exemplo: Natureza). Sendo que aí virou um jogo de chutar os codinomes dos outros. Virando um jogo meramente aleatório e de sorte. Resumindo: não gostei do resultado e mesmo pensando bastante tempo nisso, não vi uma maneira de contornar e deixar o jogo funcional, interessante e equilibrado. Acho que existe alguma ideia boa aí no meio, mas não consegui extrair nada por enquanto e meio que escanteei.

Então, dado o fracasso da ideia. Eu passei a testar os outros jogos e fui trabalhando em outras coisas. Até que finalmente me veio uma nova ideia para o Dr Pine, desta vez mais parecida com o jogo original. Fiz uma espécie de Playtest online com uns amigos para ver se estava muito difícil ou fácil. Os resultados me convenceram que dava para criar um jogo a partir dali mesmo. Como a ideia já estava na cabeça faziam alguns dias, eu consegui terminar toda a mecânica do jogo no mesmo dia, preparei o protótipo no dia seguinte e botei na mesa. E não é que o negócio funcionou? Estou empolgadíssimo aqui com a ideia, pensando em novas habilidades e mais conteúdo para o jogo.

Para evitar uma postagem sem imagem nenhuma, trouxe meu esboço tosco que estou usando para preparar um protótipo mais organizado.

Talvez nesse momento você esteja aguardando para eu contar como é a nova versão, mas como a ideia é relativamente fácil de replicar, eu acho melhor manter em segredo por enquanto. Peço desculpas. Entretanto, para não chegar até aqui sem dizer mais nada… Vou colocar alguns pontos de modificação bem relevantes que foram alterados com relação ao Dr Pine Test original. O negócio virou, com certeza, outro produto/jogo:

  • Jogo não é mais cooperativo, é competitivo. Seria até possível eu criar um modo cooperativo, talvez faça quando finalizar;
  • Jogo não usa mais associação com palavras, então aquelas letras não fazem mais parte da nova versão;
  • Jogo agora tem um sistema de pontuação, não sendo mais aquele sistema de ir virando as identidade;
  • Jogo agora está com muito mais componentes, mas todos eles fazem completo sentido de existir;
  • Foram inseridas umas duas mecânicas a mais, no mínimo;
  • Antes um jogador dizia uma palavra e ficava quieto esperando os outros decidirem. Agora todos participam da partida a todo momento, Downtime praticamente zero.

Além disso, aproveitei a oportunidade para mudar o nome do jogo. A priori penso no nome Alters. Acho que é forte, curto e totalmente ligado ao tema. Alters é o termo em inglês para as identidades de alguém com transtorno de identidade dissociativa. É isso, a postagem iria encerrar por aqui, mas aconteceu uma coisa interessante quando eu estava escrevendo essa postagem e acho bom comentar.

Na introdução dessa postagem eu coloquei alguns exemplos de jogos que usam a ideia de imagens do Dixit. Como eu queria refrescar a memória dos jogos nessa linha, eu fui procurar no BGG sobre o assunto. Encontrei uma lista de jogos e não foi só isso. Achei um jogo que usa a mesma ideia que eu tive de múltiplas identidades. Nome do jogo é DANY e foi lançado esse ano na França. O ruim nesse caso, é que como é um tema muito diferentão, a tendência é as pessoas chamarem de plágio. Pois como já citei antes, o povo olha muito pela temática para definir similaridades.

Sendo que não tem pra que desespero. Primeiro que meu vídeo sobre o jogo foi publicado no Youtube em 12/05/2018. Fora que fui verificar como o jogo funcionava. As similaridades estão no tema e no uso de cartas com imagens, mas param por aí. No mais, DANY é um jogo de times, no qual o dono do corpo seria uma espécie de “traidor” impedindo os outros de ganharem. Nenhuma das minhas versões (nem a antiga, nem a nova) possui o elemento do traidor. Engraçado que foi até uma sugestão da Editora que conversei, mas como o jogo deixou de ser cooperativo, eu terminei não seguindo por essa linha. Bom, dado todos esses fatores, eu tenho para mim que está tudo bem. Agora sim, por hoje é só.

2 Comments

  1. Cássio Nandi Citadin
    19 de novembro de 2019

    Grande Roberto!

    Que curioso ver essa transformação nas idéias com o passar do tempo, e mais ainda, as descobertas durante a escrita.

    Obrigado novamente pelo conteúdo. Grande abraço!

    Responder
    1. Roberto
      19 de novembro de 2019

      Fala Cássio, valeu pelo comentário.

      Que bom que está achando interessante. Como estou gostando de escrever é win-win hehehe

      Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Scroll to top