Desafio 100N (2019) Agosto

Férias passaram, jogatinas regularam. Tivemos mais um mês produtivo. Muitos jogos novos, será que foi o suficiente para fechar os 100?

093. Machi Koro (2012)
Engraçado eu nunca ter jogado Machi Koro, é como se fosse Catan só que mais simples, rápido e sem negociação. Talvez pareça até algo que poderia me agradar, não é? Sendo que Machi Koro sacrifica algumas coisas com sua simplicidade. A interação é mínima e automatizada, isto é, você quase nunca tem controle sobre ela. O fator sorte é elevadíssimo, podendo gerar variações gigante no que o jogador recebe. Eu tinha duas estruturas ativadas com 7 (número mais comum ao rolar dois dados) e não saiu uma vez durante a partida e se saísse eu ganharia 24 moedas de uma vez. Eu venci a partida, mas foi um tanto frustrante ter investindo a partida inteira nessa estratégia e ela nunca acontecer. Imagina isso acontecer com um jogador eu perdeu? Deve ser frustrante em dobro. Então, o jogo tem algumas decisões importantes ao longo do caminho, mas que sem a colaboração do dado nada adiantam. Com certeza é um jogo para ser jogado sem compromisso estratégico e que se você for com essa mentalidade descompromissada, dá para se divertir tranquilamente. Com várias opções de escolha, eu não jogaria novamente, prefiro jogar algum Party Game ou algo com mais interação.
094. Rory’s Story Cubes (2005)
Eu não chamaria esse item de jogo. Seria uma atividade, algo para quebrar o gelo ou simplesmente passar o tempo enquanto o restante do pessoal não chega. Não tem condição de vitória e nem de derrota. É basicamente rolar uns dados com gravuras e montar uma história. Claro que o fato de ser uma atividade não impede de ser divertido, pois me divirto com Imagine (por exemplo) sem nem contar os pontos. Entretanto, eu não sou fã de jogos de contar histórias. A vantagem do Story Cubes é que ele realmente não tenta ser um jogo, isto é, proporcionar um vencedor ou perdedor. Então, acho que acertaram na proposta. Tanto que ainda joguei 4 vezes em um único dia. Na quarta partida eu já tinha perdido o interesse. Em todo caso, os dados são belíssimos e bastante duráveis. Se você gosta de jogos com essa pegada de contar histórias, talvez seja uma boa pedida para você. Para mim? Nem de longe.
095. Shut the Box (1750)
Quando vi o joguinho até fiquei curioso, pois é de madeira e tem os vários números. Mas depois de jogar… Nossa. O que foi isso? Shut the Box é um jogo que você joga dois dados e seu objetivo é conseguir fechar todos os números de 1 à 9 usando a soma dos dados para ir fechando os números. Quando você tem apenas números de 1 à 5 visíveis, você joga apenas um dado. Pronto. Esse é o jogo. Não tem decisões, não tem estratégia, não tem pressionar sua sorte, não tem interação, não tem nada. É rolar os dados, ver a soma, fechar os números mais altos possíveis e pronto. Pior jogo do ano, se eu encontrar algum pior que esse vai ser um achado. Minha nossa, ainda estou estupefacto. Bom, ele tem uma vantagem a seu favor: é rápido.
096. Medici (1995)
Jogo antigão do mestre Knizia que teve reprint recentemente. Agora o jogo tá bonitão, mas isso não fez com que ele ficasse moderno. Medici é do tempo que Knizia fazia vários jogos de leilão, todos muito matemáticos. Nesse jogo, todos os jogadores não param de fazer conta de padaria, isto é, toda hora é somando os números ou reduzindo os números. Seja para você saber o quão bem está seu somatório nas cartas (se tiver maioria ganha dinheiro) ou seja para reduzir o quanto você gastou em um lance na trilha de dinheiro. Dinheiro é pontos nesse jogo. Então, se você der um lance de 20 moedas, você perdeu 20 pontos. Então, é importante gastar pensando no seu potencial de ganho. Se exagerar, é certo de você perder a partida. Eu, particularmente, não gosto de jogos assim. Acho que já comentei por aqui e Medici não é exceção. Venci a partida e ela me pareceu praticamente vencida desde a primeira rodada. Existe algum escalonamento na pontuação, quando você começa a avançar nos recursos, mas isso pode terminar não acontecendo o suficiente para que existam viradas durante a partida. A única coisa que gostei no Medici é que o leilão é de lance único, isto é, você tem que dar um lance que irá garantir ou apenas para inflacionar o valor para o oponente. Fora isso, só me restam críticas: a ideia de que você pega exatamente 5 mercadorias em um turno parece boa, mas não funciona; a ideia de uma carta não avançar com recursos, mas lhe ajudar a vencer a maioria por valor na rodada parece boa, mas não funciona; a ideia de coletar recursos do mesmo tipo parece boa, mas não funciona. Pode ser engano causado pela primeira partida e os jogadores sem saber muito o que fazer, mas Medici me passou a impressão de ser fortemente regido pela sorte. Talvez o jogo não seja regido pela sorte, mas para tal precisaria de uma mesa composta de pessoas com muito Analysis Paralysis e propensas a ficar fazendo várias contas para otimizar seus lances. Isso para mim na verdade iria piorar ainda mais a experiência, que foi de um jogo animado e até divertido, mas que me pareceu ter vários problemas por conta do excesso de matemática.
097. Interpol (1983)
Verdade, nunca joguei Interpol e olhe que sempre tive curiosidade. Não sei dizer se é o primeiro Hidden Moviment, mas com certeza é um dos primeiros. Então, cheguei uns anos atrasado para a festa mas cheguei! E a festa foi deprimente. Não que o jogo seja terrível, mas eu simplesmente não tive a oportunidade de conhecê-lo apropriadamente. A partida durou exatamente 3 rodadas, tempo suficiente para o Mister X fazer sua primeira revelação e estar à uma distância de metro para ser capturado. Bom, foi isso a partida. Não sei bem o que aconteceu, o Mister X não olhou bem pro tabuleiro? Tava viajando na maionese? Não gosta muito do jogo e queria acabar logo? Nunca saberemos. Jogaria novamente? Jogaria, afinal, não tive muita noção se o jogo é bacana ou não. Me pareceu ser nada demais, mas ainda assim achei a partida quase como uma não-estreia.
098. Matryoshka (2016)
Antes de jogar eu achei que iria ser um jogo similar à Bohnanza, pois existe troca “forçada” no jogo. Eu gosto dessa ideia em jogos, pois corta um pouco a negociação e faz com que você realmente troque o que for mais benéfico para você, claro que também levando em consideração o quanto vai ajudar o oponente. Durante a partida, você irá aumentar sua mão em duas cartas e realizar trocas com os oponentes. Seu objetivo é formar conjuntos de bonecas do mesmo tipo ou de mesmo número. É mais difícil formar os conjuntos do mesmo tipo, pois requer que você tenha ordenado, isto é, não adiante ter 1, 3 e 5 da boneca vermelha, pois não vai ganhar nenhum ponto. A partida se encerra com você usando todas as cartas da mão, menos uma, para pontuar de acordo com seus conjuntos. A ideia é simples, direta e funciona. No final das contas Matryoshka foi até uma boa surpresa. Eu só tenho três reclamações por pura chatice: 1) ele ocupa muito espaço na mesa para um jogo de cartas, se você for dispor as cartas da maneira correta e é importante expor da maneira correta para o pessoal da mesa saber o que está acontecendo; 2) achei o bônus dado por formar conjuntos da mesma boneca pequeno, praticamente ninguém investiu nele por serem difíceis demais de fazer e quem investiu se deu mal; 3) existe muitas decisões automáticas no jogo, como você troca toda hora e várias vezes as cartas não lhe interessam, você manda a sua pior carta no automático, isso pode acontecer durante toda a rodada. Então, aconteceu comigo de eu ofertar a mesma carta para troca 5 vezes. Tirando isso, o jogo tem boas ideias, funciona e eu jogaria novamente. Importante ressaltar, é um jogo nacional. A listagem esse ano tá até boa.
099. Rise to Power (2014)
Tal qual Matryoshka, Rise to Power também é um jogo de cartas. Sendo que é um jogo com feeling de jogo de tabuleiro. Vários tipos de cartas diferentes, turnos individuais com várias opções e ações, construção de uma cidade formada pelas cartas, etc. Eu, geralmente, não gosto de jogos de cartas com muito texto e Rise to Power não é exceção, mas preciso dizer uma coisa: esse jogo tem muita ideia boa esperando alguém roubar. Primeiro que existe ataque direto no jogo, mas é feito de uma maneira muito bacana. O ataque aqui é basicamente “roubar” uma carta ainda não construída da cidade do jogador. Para tal, você precisa exibir um somatório de cartas que permita você construir. A questão é que o oponente pode se defender: mostrando que consegue construir a carta antes de você roubar. Então, para atacar você gasta uma ação e tem a chance de não conseguir nada com a ação e beneficiar o oponente, pois ele economizou uma ação. Isso. É. Muito. Interessante. Atacar não vai ser uma mera questão de vingança ou de atrapalhar o vencedor, mas sim uma jogada estratégica com um potencial até do tiro sair pela culatra. Logo, o jogador precisa planejar bem quando e onde atacar. Outro aspecto legal é que o jogador pode usar os poderes nas cartas em vez de construí-las. Em geral, esses poderes são bem forte. Normalmente você realiza ações que lhe economizam um turno inteiro ou até mais. Então, é algo que todos iriam querer fazer, correto? Não. Porque aqui, se você usar a habilidade da carta, no final do seu turno ela fica disponível para qualquer jogador construir de graça. Então, você literalmente dará a carta para um oponente. O jogo parece ter sido desenvolvido pensando nessas dinâmicas de interação e decisões interessantes. O problema para mim do jogo é simples: esse tanto de texto em um jogo que cabe até 6 jogadores é muito ruim. Informação demais na mesa e informação ilegível, pois está muito longe para você ler. Além disso, quanto mais jogadores, maior o Downtime sem acrescentar muita coisa de interação. Na verdade, com esse tanto de jogadores, é possível que algum jogador mais displicente possa até estragar a partida para os demais ajudando muito o jogador à sua esquerda. Suponho que seja um jogo melhor para 2 ou 3 jogadores, uma mesa menor. Jogaria novamente, mas só se for com menos pessoas.
100. Kingdomino (2016)
Eu tava curioso com Kingdomino, jogo simples e direto. Entretanto, Bruno Cathala conseguiu novamente. Bicho, esse cara é um gênio. Como um jogo tão aleatório é ranqueado em 206 no BGG e ganhou o Spiel des Jahres? Perto do final do jogo, a partida vira um festival de sorte, pois os terrenos que chegarem podem lhe render um milhão de pontos ou zero. Os jogadores podem atrapalhar? Claro, mas também depende da sorte da posição de vocês anteriormente. Talvez pela duração e peso do jogo isso seja considerado até uma qualidade do jogo, mas para mim não desceu legal. Novamente existe um sistema de auto balanceamento dependente dos jogadores. Me decepcionei. Foi o jogo que conheci esse mês que tava mais interessado e não chegou lá. Não que o jogo seja terrível, mas eu achei que ia conhecer um jogo que iria me agradar em vários sentidos, pois gosto de simplicidade e boas decisões. Infelizmente, Kingdomino só tem uma dessas duas coisas.
101. Yahtzee (1956)
Eis aqui o pai dos Push your Luck. Pois é, eu nunca tinha jogado Yahtzee. Bom, ao contrário do Kingdomino, eu não estava com muita expectativa para o jogo. Eu sabia que era um festival de sorte, só não tinha plena noção das regras. Eu achei até que Yahtzee era você rolar a sequência completa de 1 até 6, mas você só rola 5 dados no jogo. Errei feio. Yahtzee, se você não conhece, é um jogo de formar “jogos” com os dados rolados. Pode ser usando o mesmo número, usando uma sequência ou usando até triplas/quadruplas/flush. A ideia é bem simples, mas tem mais decisão do que eu esperava que tivesse, pois cada “jogo” só pode ser pontuado uma vez. Então, no começo você da partida você pode ir perdendo alguns “jogos” que não são tão interessantes, para ver se consegue uma pontuação maior mais pra frente com uma boa rolagem. A interação é nula, então tive a sorte de jogar com apenas 3 jogadores. Assim, reduz o Downtime e tem gente na mesa o suficiente para a partida ter alguma graça. Houveram momentos fantásticos na partida, desde um Yahtzee até um outro Yahtzee de zero pontos, pois o coleguinha já tinha gastado o espaço com outra rolagem. Não sei se jogaria novamente, talvez para fechar a noite jogando algo descerebrado com uma quantidade pequena de jogadores?

E foi isso. Fechamos os 100 jogos! Na verdade, passamos da meta. Vamos dobrar a meta? Não… Tá bom. Daqui para frente serão apenas brindes para o Desafio 100N. Até o próximo mês. Afinal, cheguei nos 100, mas a contagem continua.

6 Comments

  1. Cesar Cusin
    6 de setembro de 2019

    Caramba, só jogos meus… rsrsrs… ei, eu cometi erro sendo o Mister X em Interpol, eu gosto demais dele e me orgulho de ser um bom fugitivo, dei bobeira mesmo naquele dia… rsrsrs. E tire essa mágoa do seu coraçãozinho… Kakakakakaka…

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    1. Roberto
      8 de setembro de 2019

      Mês do Cusin hehehehe Mágoa nenhuma S2

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  2. Cássio Nandi Citadin
    10 de setembro de 2019

    Bahh esse Machi Koro tive uma experiencia bem ruinzinha. Meu amigo pegou uma cópia em alemão (!), fomos tentar jogar e acho que até acertamos, o que foi ruim tb pq o jogo foi beeem sem salzinho. Concordo que deve ser aqueles bacanas de jogar bem descompromissado, mas aquela rolagem de dados constante chega a dar dor de cabeça (velho detected!).

    Fiquei surpreso com sua opinião sobre o Medici, ele é um dos meus preferidos por ser tangível, ou seja, da pra mensurar legal o que se perde e o que se (pode) ganhar. Sendo extremamente acessível, normalmente no meio da primeira partida as pessoas já pegam o jeito e na segunda todo mundo se estapeia na escolha dos lotes e no lance inicial. Abre espaço pra bastante smalltalk na mesa tb, levando os niveis de diversão pra além do jogo.

    Matryoshka joguei apenas uma vez ( ou foram umas 3 seguidas). Gostei da experiência mas meu gosto por jogos com muitas fases me afastou dele (e o amigo que tinha tb vendeu hehe).

    Poxa esse King Domino achei bem legal eheh. Pelo tempo de partida achei bem aceitável. Recomendo a variante pra 2 players onde o grid fica com 7×7.

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    1. Roberto
      10 de setembro de 2019

      É, esse mês foi um misto de jogos mais ou menos com alguns tendo boas experiências por conta da mesa…
      Machi Koro tem realmente muita rolagem, mas é aí que mora o segredo… Se fossem poucas o fator sorte seria ainda maior. Tudo bem que não ajudou muito, mas é uma boa razão hehehe

      Leilão não desce muito bem comigo, essa é a principal razão de não gostar do Medici. Leilões pra mim são muito matemáticos. Apesar de gostar de Euros e Abstratos, eu gosto de jogar baseado em instintos… Sem fazer contas exatas. Em leilão não rola isso. Especialmente esses mais antigos do Knizia.

      Como assim jogo com muitas fases? Você diz fases em um turno ou repetir-se durante a partida fazendo a mesma coisa? Se for o 2º caso, também não gosto. hehehehe Deu pra perceber que o jogo se repete demais e tem umas decisões chave durante a partida. Então, rolou modo automático em alguns momentos.

      Triste o Kingdomino… Fui crente que ia curtir. Talvez eu tenha jogado com o pior número também (3 jogadores).

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      1. Cássio Nandi Citadin
        10 de setembro de 2019

        Então, o Ra do Knizia tem esse acerto digamos, que é jogar bem menos matemático, pois é dificílimo calcular o valor das peças. No meu gosto, é o inverso do seu hehhe por isso botei pra vender.

        Me recordo bem pouco do Matryoska, mas na minha memória ficou que cada rodada é dividida em várias pequenas fases, como recolher as cartas, passar o jogador da vez (não recordo se tem), oferecer as cartas , baixar as cartas etc. Acho q novamente nossos gostos invertem, pois gosto de jogar reto até o final do jogo (GWT, Scythe) e não parar pra cada rodada hehe

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        1. Roberto
          10 de setembro de 2019

          Não gostei do Ra também, mas realmente preferi ele ao Medici.

          Ah sim,entendi. Realmente, o Matryoska é meio “lento” mesmo…

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