Chegou a vez dos Jogos Abstratos. Sei que tanto os Jogos de Destreza como os Jogos Abstratos não são, nem de longe, categorias tão populares e amadas como os Jogos Cooperativos, mas cá estamos nós mesmo assim. Escolhi Jogos Abstratos pelo distanciamento com as outras categorias. A ideia aqui é evitar repetecos de jogos.
O conceito de Jogos Abstratos não é tão sólido assim. Se eu for seguir a definição clássica, talvez essa lista fosse bem difícil de formular. Entretanto, os tempos são outros… Agora, Abstratos podem ser bonitos, ter aleatoriedade e até informação secreta. Soa estranho? Soa, mas os jogos considerados Abstratos mais recentemente são todos jogos puzzle com tema colado. É bem nebuloso, pois tema colado não é ausência de tema. Então, toda essa categoria ficou meio que arbitrária, sem parâmetros.
Sagrada é considerado um Abstrato, mas se você for pensar é bem distante de um Xadrez. Sagrada tem dado, a interação entre os jogadores é indireta, a aleatoriedade é fator presente durante toda a partida, existe até informação secreta (objetivo dos jogadores) e no final os jogadores vencem por pontos. Soa muito mais como um Euro Game leve do que um Abstrato. Em todo caso, eu precisava de alguma base para estabelecer o que é ou não um Jogo Abstrato. Optei por usar a mais popular: Board Game Geek.
Deixando o blá-blá-blá de lado, vamos aos Top!
#5. Patchwork (2014) Jogo do fazendeiro e Game Designer Uwe Rosenberg. Patchwork foi aquele tipo de jogo que eu vi quase uma dezena de vídeos e não entendia como o jogo podia ser bom. Como assim, você pega essas peças e vai colocando num tabuleiro tentando meio que completar um quebra-cabeça? Sério que o jogo é só isso? O jogo parecia completamente entediante. Entretanto, algo na minha cabeça ficava dizendo: compra esse jogo, talvez seja legal jogando. Fui lá e comprei. E não é que o jogo é bom? Patchwork é um jogo que se passa na sua cabeça inteiramente. Parece um simples jogo de encaixar, mas você tem que realizar isso da melhor maneira possível considerando seus recursos, o tabuleiro do oponente e o andamento na linha do tempo. É um jogo que uso até mesmo para apresentar novatos, pois é algo completamente diferente de tudo que viram, mas de regras simples, bastante intuitivo e com uma arte simpática. As partidas podem começar a adquirir um fluxo familiar e similar, mas estou na 15ª partida e ainda não enjoei. Um grande feito considerando o quão chato eu sou. Além disso, Patchwork atende à maioria dos critérios de um “verdadeiro” abstrato, especialmente um bem importante: informação perfeita e sorte (bem próxima de) zero. Digo bem próxima, pois a organização das peças iniciais é aleatória e isso deve influenciar em algo. |
#4. Blue Lagoon (2018) Jogo dessa lista que conheci mais recentemente, mas que já ganhou bastante o meu respeito. Infelizmente, só joguei uma vez, mas achei um excelente jogo. Ia colocar ele na quinta posição, mas os demais jogos estão realmente abaixo dele no meu gosto. Talvez, se eu jogasse Blue Lagoon mais vezes isso mudasse. Talvez ele até subisse posições? Mas estamos falando do agora. Nesse momento, acho justa essa posição para o jogo. Basicamente, Blue Lagoon é mais uma reimplementação de várias das ideias do Reiner Knizia no seu jogo cheio de camelos chamado Through the Desert. A diferença é que Blue Lagoon consegue evitar problemas para daltônico e ter um fluxo ainda mais rápido do que seu predecessor. Diferentemente de todos os outros jogos nesse Top, Blue Lagoon tem vários elementos aleatórios presentes na partida. Tanto na preparação quanto na segunda Fase do jogo. Na preparação é até tranquilo, mas na segunda Fase você sente o peso da sorte. Felizmente a informação ainda é perfeita e todos os jogadores sabem tudo o que está acontecendo durante a partida. Então, acho que o jogo está corretamente classificado como Abstrato. |
#3. Battle Sheep (2010) Battle Sheep já virou um clássico na minha Coleção. Já apresentei esse jogo para tanta gente que já perdi a conta. Por curiosidade, fui contar e cheguei em 40 pessoas nas minhas partidas registradas. Acho que é um bom número, hein? Especialmente tendo em vista que joguei “apenas” 60 vezes. A razão de eu apresentar esse jogo para todo mundo é porque realmente gosto dele. Além, claro, da acessibilidade. É o tipo de jogo que não espanta os novatos. Talvez espante os esnobes (“é jogo de criança?”), mas isso é melhor pra mim. Battle Sheep é o tipo de jogo que eu chamaria de essencial na coleção de qualquer jogador que goste de Abstratos, especialmente se gerencia eventos. Dá pra explicar ele muito rápido, fora ser visualmente bonito e pode manter pessoas engajadas por várias e várias partidas sem seu suporte após a explicação. |
#2. Medina (2001) Medina é um abstrato sangue nos olhos. Apesar de ser para 2 a 4 jogadores, tenho a impressão dele ser melhor com 4 jogadores por conta da interação que existe. A dinâmica de Medina é basicamente leitura de mesa, com boas possibilidades para preparar armadilhas, cair nelas e tentar resistir as tentações, mas sem resistir demais. É tudo uma questão de timing, pois em Medina você pontua pelos Palácios criados na cidade. Sendo que nenhum jogador domina nenhum Palácio a priori, sendo definido no decorrer da partida. E uma vez definido um dono para um Palácio, este não crescerá mais. Logo, é mais difícil conseguir muitos mais pontos com ele. Então, o jogo é uma brincadeira de criar Palácios bons o suficiente para seus oponentes pegarem, mas ruins o suficiente para que você tenha possibilidades melhores. Um jogo com interação à flor da pele. Não se engane pela capa tranquila, Medina é uma briga de faca. |
#1. YINSH (2003) YINSH é meu Top abstrato tem um bom tempo e acho que não vai perder o posto nem tão cedo. Para quem não conhece, esse jogo faz parte de uma série de jogos abstratos do Game Designer Kris Burm. Seu objetivo é simples: ter 5 peças da sua cor em uma linha ininterrupta. Simples, direto e elegante. YINSH é a definição de jogo abstrato: zero sorte com aparência “clássica” no qual existe um duelo de duas mentes tentando atingir o mesmo objetivo, mas como forças completamente opostas. YINSH é aquele jogo que você joga mudo, pois são tantas possibilidades, tantas armadilhas e tantas estratégias viáveis, que você simplesmente fica deliciado pensando em suas ações. Seja no seu turno, no turno do seu oponente. Alguns odeiam jogos assim, compreendo perfeitamente, eu não sou dos maiores fãs. Entretanto, uma partida de YINSH em silêncio, para mim, é a experiência perfeita de um Abstrato. E olhe que eu nem sou bom nesse jogo. Vivo perdendo. |
Apesar de adorar a noção dos jogos Abstratos, pensando de modo geral como jogos focados na mecânica em vez de tema. Ainda existem uns que não desceram bem. Engraçado que para montar essa lista eu dei uma revisada no BGG e tem alguns jogos Abstratos com nota bem baixa, mas que sequer me lembro como era o jogo. Então, montei a lista com base nos que realmente me recordo e lembro que realmente não gostei do jogo.
#5. Tsuro of the Seas (2012) Eu gosto do Tsuro original. Não é um jogão sensacional, mas é bem interessante e comporta até 8 jogadores. A questão, é que Tsuro é um jogo que suas maiores qualidades estão na interação dos jogadores, com os caminhos que eles criaram e fator sorte não tão elevado. O que resolveram fazer nessa versão? Colocaram dados para controlar dragões que podem comer os jogadores. O dragão se move de modo completamente aleatório, tanto a definição se ele irá se mover quanto para onde irá se mover. Transformaram Tsuro em um Ameritrash sem noção: bastante sorte envolvida e também todo o processo de movimentar os dragões soa bem artificial, repetitivo e chato. |
#4. For Crown & Kingdom (2016) Assim como Tsuro of the Seas, esse é mais um na linha de abstratos que erraram a mão e ficaram muito caóticos. Um elemento que salta logo na vista é que o jogo é puramente tático. Não é um grande problema o jogo ser tático, vários são, mas faltou um mínimo de pitada de estratégia para For Crown & Kingdom ser interessante. Não vale nem a pena prestar atenção durante o turno do oponente, pois se você estiver jogando com mais de 2 jogadores vai tudo ter se modificado quando chegar na sua vez. Talvez, se eu tivesse jogado com 2 jogadores até achasse o jogo razoável, mas como a caixa permite até 4 a gente foi logo nessa quantidade. O jogo também tem um aspecto Take That bem frustrante e pesado. Tão pesado que serviu apenas para acontecer Kingmaking quando joguei. |
#3. Ricochet Robots (1999) Na minha opinião, Ricochet Robots fica por um triz de não ser um jogo. Claro, tem uma condição de vitória, os jogadores realmente disputam algo, mas o sentimento é que o jogo é puramente um quebra-cabeça. Basicamente, os jogadores estão disputando para ver quem resolve esse quebra-cabeça com menos passos e falando isso rapidamente, pois se alguém falar antes de você a quantidade de que você iria dar… Você perdeu o ponto. O jogo é tão estranho nesse sentido que eu uso como exemplo na minha disciplina de Introdução à Programação quando falo de Algoritmos. O jogo realmente é uma boa ideia de quebra-cabeça, mas acho que como jogo não funciona. Geralmente, a pessoa que tem facilidade e joga bem tem a propensão de vencer com uma margem muito grande do que os demais… E isso não gera experiências divertidas. Não que seja um problema perder, mas é um problema você jogar uma partida e nunca conseguir falar um número de passos pequeno antes do que qualquer jogador da mesa, né? Eu imagino que a pessoa termina a partida se sentindo um bosta. |
#2. Quoridor (1997) Jogo antigo e que joguei faz um bom tempo, achei bem sem sal e sem propósito. Resumidamente: na sua vez você ou coloca uma parede ou move seu pino. Seu objetivo, é cruzar o tabuleiro antes do oponente. Pelas regras eu já percebi que não ia gostar e foi uma verdade. Não que eu não goste de regras simples, longe disso. Sendo que aqui a simplicidade é tão grande que se torna simplório. Não parece ser um jogo com jogadas inteligentes ou pensamentos abstratos interessantes. E como a coisa acontece bem lentamente você vê a vitória ou derrota à milhas de distância. |
#1. Quixo (1995) Eu realmente acho a premissa do Jogo de Velha interessante. Essa ideia de ter X peças suas em uma reta é legal. Meu Top #1 é assim. Entretanto, em Quixo ficaram muito próximo do Jogo da Velha de verdade. Ampliaram o gride para 5×5 e a colocação de peça agora não é simplesmente colocar, mas mover linhas e colunas empurrando os bloquinhos com as peças sendo movidas para as pontas do tabuleiro. Acho que a explicação ficou confusa, mas não vou perder muito tempo com isso… A declaração aqui é simples: entediante e possibilidades de loop infinito. |
E agora os Want 5. Taí uma lista que poderia ser bem longa. Jogos Abstratos, especialmente os sem roupagem da moda, são raramente apreciado pelas pessoas. Consequentemente, eu evito comprá-los, pois sei o fracasso que me aguarda ao tentar levá-los para a mesa. Piorando a situação, Jogos Abstratos costumam ser 1×1. Dificultando ainda mais colocá-los na mesa. Então, termina que não compro tantos Jogos Abstratos quando gostaria. Entretanto, estamos aqui apenas para falar de cinco, vamos escolher…
#5. RED (2011) Descobri esse jogo bem recentemente. RED é um Abstrato para exatamente 3 jogadores. O que por si só já me despertou a curiosidade. Talvez seja o tipo de jogo que eu raramente jogaria, pois mais difícil do que juntar apenas 2 jogadores é juntar exatamente 3 jogadores. Basicamente, existem vários Tiles com círculos e fundos coloridos nas três cores: vermelho, preto e branco. O objetivo do jogo é você montar aglomerados da sua cor tanto com relação ao fundo quanto com relação ao círculo. Sua pontuação é a multiplicação desses dois aglomerados distintos. Uma ideia que me pareceu boa, simples e intuitiva. Acho que não compraria o jogo só para testar, fora que parece ser bem difícil de encontrar, mas é um que tenho curiosidade mesmo de conhecer. |
#4. Tak (2017) Recentemente eu li O Nome do Vento, mas isso não tem nada a ver com esse jogo estar na lista… Só falei, para destacar que Tak é um jogo “criado” inicialmente para o universo de fantasia criado pelo escritor Patrick Rothfuss e, agora, possui uma versão real do jogo com colaboração do Game Designer James Ernest. A ideia do jogo parece ser boa e tem aquela cara de Abstratos clássicos mas que são modernos. Não faço a menor ideia se vou gostar ou não, pois Abstratos nessa linha clássica demais geralmente não me agradam tanto, mas estou curioso e gostaria de ser surpreendido positivamente. |
#3. Nova Luna (2019) Jogo feio? Check. Jogo com informação perfeita? Check. Jogo de designer famoso? Check. Jogo de designer não tão famoso mas que eu curto? Check. Nova Luna é um jogo da improvável parceria entre Uwe Rosenberg com Corné van Moorsel. Basicamente, Uwe pegou um jogo do Corné (que ainda não conheço mas tenho curiosidade) e simplificou. O que é sempre bom. Corné, pra quem não conhece, é o Game Designer de Factory Fun. Jogo que eu gosto bastante. Talvez fosse até o caso dele estar nesse Top, mas não sei se tirando apenas o fato do jogo não ter tema nenhum, ele não seria tanto um Abstrato assim. Bom. Nova Luna foi indicado ao Spiel des Jahres e foi assim que soube do jogo. Vi do que se tratava e gostei. Basicamente, é um Tile Placement Abstrato no qual os jogadores fazem vários pontos ao combinar Tiles coloridos. Parece enfadonho? Sim. Parece ruim? Talvez. Entretanto, me pareceu casar bem direitinho com meu gosto pessoal. Fora que vai até 4 jogadores, o que poderia ser excelente para substituir o Patchwork da coleção se for bom. |
#2. Mandala (2019) Mandala é um desses Card Games de 2 jogadores que parece simples, inteligente e elegante. Talvez ele não esteja tanto sentido estar nessa lista para Abstratos. Digo isso, pois os jogadores possuem uma mão de cartas. Isto é, informação secreta durante a partida inteira. Então, tirando a completa falta de tema, acho que de Abstrato esse jogo não tem muita coisa. Sendo que como estamos seguindo o BGG… Cá estamos nós. Ou melhor, cá está Mandala em uma lista sobre jogos Abstratos. Estou bem curioso com esse jogo, acredito que possa ser excelente para fazer complemento ao meu Battle Line na coleção. Não falei como é o jogo de propósito, se ficou curioso, dá uma pesquisada. |
#1. Zendo (2001) Tenho esse jogo na Wishlist tem bastante tempo e agora. O negócio é que agora eu me descobri como amante de jogos de dedução (não dedução social, mas dedução mesmo). Especialmente quando envolve algo mais criativo e um raciocínio diferente do usual. Zendo parece ter tudo isso nele só que é um jogo que não faço a menor ideia se vou realmente gostar. Engraçado é que agora que fui preparar essa lista, eu descobri que Zendo foi criado com base em um jogo que usa cartas de baralho normal! Então, está aí uma boa oportunidade para dar uma testada por cima em um jogo que sempre tive interesse em conhecer. Melhor ainda: sem gastar um tostão. O maior problema é que o jogo de cartas por ser um design muito mais antigo é uma zona, mas quem sabe eu não consigo adaptar para jogar como Zendo? Vejamos… Só pra não dizer que não expliquei a maioria dos jogos da lista Want, vou resumir o funcionamento do Zendo. Basicamente, um jogador elabora uma regra e forma um conjunto válido dessa regra com as peças de pirâmides que existem. As pirâmides são de várias cores e tamanhos, algumas regras poderiam ser: ter mais pirâmides amarelas, ter um par de pirâmides do mesmo tamanho, ter exatamente 5 pirâmides, etc. Os jogadores vão formando padrões com as pirâmides e a pessoa que inventou a regra diz se ela está correta ou incorreta. Pronto, o jogo é basicamente isso. Imagino que existam maneiras de pontuar, mas eu penso nele mais como uma atividade de indução mesmo. |
Fechou. Sei que Abstrato não é um estilo muito apreciado, mas me diz aí os seus Top, Bottom e Want.