Top 5 do Friedemann Friese

Continuando com mais um Game Designer na série que está cada vez mais impossível desenrolar. Dessa vez é o alemão Friedemann Friese que veio dar o ar da graça. Conhecido por amar a cor verde, Friese é mais um desses autores que conheço apenas seis jogos, mesmo ele tendo publicado trocentos. Até dei um tempo na esperança de jogar alguns de seus jogos recentes, que são pequenos e rápidos, mas parece que ninguém do meu grupo se interessa pelos jogos dele, pois ninguém comprou. Vamos lá.

Friedemann é um cara excêntrico ou talvez um Game Designer excêntrico apenas. O camarada tem uma empresa chamada 2F-Spiele, no qual publica a maioria dos seus jogos. Todos os jogos da empresa em seu idioma original (alemão) iniciam com a letra F e possuem uma capa verde característica. A cor verde também está no cabelo do Friedemann e, provavelmente, deve ser a cor que ele sempre joga nas partidas. Então, a partir desse ponto já dá para perceber o quão diferentão ele é. Talvez seja uma persona criada para chamar a atenção? Não sei… O fato é que chega a ser estranho o esforço com a letra F e a cor verde.

Bom, o Friese é um cara que lança vários jogos por ano. Provavelmente é um desses poucos Game Designers da industria que vive exclusivamente disso. Seu jogo mais famoso é o Power Grid, sendo considerado uma obra-prima por muitas pessoas. Por alguma razão obscura, Friese parece nunca ter alavancado mais nenhum outro jogo em sua carreira. Acho isso bem estranho, pois Power Grid é de 2004 e Friese não parou de lançar jogos. Só ano passado foram quatro, ano retrasado foram cinco. Então, ele é um cara que tá sempre trabalhando e lançando vários jogos por ano.

Dado essa curiosidade, eu parei para pensar e cheguei em uma conclusão. Acho que o problema de Friese é publicar os próprios jogos. Os jogos não passam por um aval de outra pessoa e, querendo ou não, por mais críticos que a gente seja, não somos os melhores julgadores do nosso trabalho. Eu imagino que é isso que acontece. Não faz sentido um Game Designer conhecido internacionalmente lançar 3+ jogos por ano e nenhum deslanchar ou causar um rebuliço. O último grande jogo do Friedemann que teve algum hype foi o 504 e terminou que não conseguiu o sucesso esperado. Ao menos pela minha percepção do que acontece na Internet e no BGG.

Claro que eu posso estar enganado. Entretanto, acredito que podemos extrair uma Lição aqui. Em especial para o pessoal que tá começando e quer fazer tudo sozinho. Publicar seu próprio jogo é uma faca de dois gumes. Você tem controle sobre tudo, elimina vários intermediários e vai lucrar mais no processo. Entretanto, é muito difícil que seu jogo seja realmente o melhor que ele poderia ser. Os Game Designers precisam de desenvolvedores e de vários pares de olhos diferentes para avaliar e aperfeiçoar seu jogo. Infelizmente, vem o revés: aqui no Brasil é raro as Editoras agirem como Editoras, isto é, desenvolverem o jogo do autor. Então, esquece a Lição? Não sei, acho que essa conversa é um assunto maior do que algo contido em um único parágrafo.

Bom, deixando de lado essa conversa, vamos para a listagem do coleguinha.

#5. Power Grid (2004)
Aritmética: O Jogo de Tabuleiro. Power Grid para mim se resume à isso: é um jogo de fazer conta. Existe interação no tabuleiro, existe interação com o leilão e existe uma progressão na partida, mas para mim tudo se resume ao fazer das contas. Eu sou de exatas, mas eu nunca gostei de fazer contas. Na realidade, para mim, essas operações básicas não são indicativo de raciocínio lógico ou capacidade mental. São apenas trabalho “braçal” da mente. Por isso não gosto de Power Grid, eu me sinto trabalhando. Fazendo as contas com afinco, pois se faltar um de dinheiro para colocar aquela casinha no tabuleiro, você perdeu o jogo. Por um tempo eu fiquei sem entender o motivo desse jogo ser tão bem cotado, mas depois de um tempo eu entendi: as pessoas gostam de fazer contas. Só pode ser isso. E, claro, gostam de gastar dinheiro e receber dinheiro. Mas Roberto, porque é o Top 5? Bom, só conheço seis jogos do Friese. Esses Top 5 estão cada vez mais sem graça, né? Acho que vou parar…
#4. Power Grid: Factory Manager (2009)
Engraçado que conheci essa versão antes do Power Grid original. Na realidade, eu tive esse jogo. Adquiri por meio de uma troca, na época que era possível realizar trocas com maior facilidade. Eu lembro que li as regras e tive baixas expectativas. Sendo que após jogá-lo, o jogo é até interessante. Comparativamente fica meio óbvio que preferi essa versão ao Power Grid original, mas não muito longe. Existem contas aqui? Com certeza, mas achei elas mais diretas e com menos arrodeios. Jogos econômicos não são meu estilo e esse está longe de ser um dos favoritos, mas até que não é tão mal. Existem uns elementos interessantes que você precisa balancear, como máquinas com trabalhadores ou automatizadas.
#3. Famiglia (2010)
Jogo para apenas dois jogadores, até que bem fácil de explicar e de jogar. Entretanto, por alguma razão obscura tem uma curva de aprendizado perceptível. Basicamente, você vai baixando cartas com números e vai evoluindo aos poucos. Sendo que você precisa ir cadenciando essa evolução de uma certa maneira, ou vai terminar travado. É bem comum quem joga Famiglia pela primeira vez esbarrar nessa dificuldade e ter uma evolução muito lenta no meio para o final do jogo, ou até mesmo no começo. Na época eu gostei e até joguei bastante, mas essa curva de aprendizado me afastou do jogo, pois raramente as pessoas tinham interesse em uma segunda partida. Adicionalmente, existem algumas estratégias melhores do que outras e uns caminhos um pouco manjados a serem seguidos para conseguir uma vitória mais suave. No final das contas, Famiglia é um jogo de cartas para dois jogadores que não chega no mesmo nível dos melhores jogos da categoria.
#2. Black Friday (2010)
Esse foi o jogo que conheci mais recentemente. Já falei dele uns meses atrás no Desafio 100N. Agora sim, um jogo econômico que eu até gostei. Achei a ideia inteligente, apesar de ser bastante fiddly e sacal você fazer as atualizações no tabuleiro. Não vou me estender falando muito, pois já escrevi bastante nas minhas primeiras impressões. Inclusive, aproveitando para dizer que ainda não tive a oportunidade da segunda partida e tenho a impressão que as regras já esvaíram da minha mente. O que é uma pena, pois gostaria de testar o jogo com as regras frescas e tendo perfeita noção do funcionamento do sistema. Se você gosta de jogos econômicos e não liga para um Upkeep chatinho, recomendo dar uma conferida em Black Friday.
#1. Fearsome Floors (2003)
Fechando a lista com um jogo antigo do Friese e até pouco conhecido atualmente acho. Fearsome Floors é um joguinho bem simples, temático e que cabe bastante gente nele. Se não me engano, você pode jogar de 2-7 jogadores. Uma quantidade excelente e que hoje em dia minha coleção sofre um pouco quando tem essa quantidade presente. Bom, eu já tive Fearsome Floors e me desfiz. Aí, você se pergunta o motivo. Eu digo que é pela rejogabilidade, que é bem baixa, e também porque a maioria das pessoas com quem joguei não gostaram do jogo. Então, cai no velho caso do Robo Rally que eu gostei, mas vendi. Se você ficou curioso, o jogo é basicamente uma corrida no qual seus personagens podem morrer. Sim, existe um monstro perseguindo os personagens que estão cruzando o tabuleiro. O monstro possui uma Inteligência Artificial bem direta, mas que funciona extremamente bem nesse jogo.

É isso. Faltaram alguns jogos? Eu tenho um pouco de curiosidade com o 504, sendo que não acho que teria paciência para conhecer os módulos. Pelo pouco que vi é um jogo praticamente experimental que tenta forçar uma rejogabilidade pelo meio da alteração de mecânicas. Existem configurações melhores do que outras, mas com tantas opções para conhecer é mais fácil a pessoa desistir antes de conhecer 10% delas. Eu queria dar uma olhada nos jogos mais simples do Friese. Tem alguns novos que vem sem manual que talvez sejam interessantes. Você teria alguma recomendação?

Bom, encerrando aqui com a velha “listagem” com os vários seis jogos que conheço dele até hoje (19/06/2019):

Acho que encerrei os Game Designers com seis jogos, agora ficaram somente alguns com cinco jogos. Acredito que darei um tempo na coluna para explorar mais os horizontes e ampliar o catalogo. Talvez esse seja um bom momento para começar meu Top 50.

7 Comments

  1. Fabio
    21 de fevereiro de 2020

    Bom, espero que você continue com essa coluna, pois gostei muito!
    Normalmente vejo as pessoas fazendo top por mecânica ou de melhores jogos que jogou, mas foi a primeira lista que vejo por designer. Mandou bem nisso! Então, por favor, continue!
    Gosto muito de jogos com arte bonita, por isso faço coleção do Cathala. Mas n tem jeito, os melhores jogos são feios rsrs.
    Estou refazendo meu ranking, mas no antigo, dos 10 primeiros, 8 eram feios.
    Na época de war e banco imobiliário, o meu predileto era o banco imobiliário, então quando conheci Power Grid minha cabeça explodiu! Certeza que vai voltar a ficar entre meu top 5!
    Power grid é muito foda. É um jogo de pura administração de recurso, vc tem q pensar muito bem no que está investindo. Não acredito que vc deixou ele em 5 rsrs.
    Fearsome, como vc deixa esse jg na frente do power grid? Rsrs jg ok, mais nd. Tem uma ideia bem diferente do q td q já joguei, mas n me conquistou.
    Friday, que joguinho solo maravilhoso! Com uma rejogabilidade bem grande. Para quem curti solo pd pegar sem medo.
    Ainda quero conhecer fair e terra.
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    Responder
    1. Roberto
      21 de fevereiro de 2020

      Obrigado por acompanhar Fabio, e pelo incentivo… Tou jogando mais jogos para poder continuar com a série. hehehe

      Acho que com o tempo passando também, vou aproveitar do Instagram para atualizar os TOPs que já fiz. Assim fica algo mais curto e direto.

      O Friese tem muito jogo, queria conhecer mais… Mas é raro os jogos deles serem lançados por aqui e quando são ninguém que eu conheço compra, pois são os jogos menores dele hehehe

      Pois é, decepção pro público esse Power Grid tão baixo. 😀

      Responder
      1. Fabio
        23 de fevereiro de 2020

        Uma outra coisa que esse seu top me fez perceber é que já joguei muitos jgs, mas de vários designers diferentes.

        Responder
        1. Roberto
          24 de fevereiro de 2020

          É difícil mesmo a pessoa jogar vários jogos do mesmo designer… Só quando vai atrás ativamente disso. São muitos designers diferentes.
          Eu consegui fazer esses poucos Top 5, mas já são quase 800 jogos diferentes hehehehe

          Responder
          1. Fabio
            28 de fevereiro de 2020

            800???? Rsrsrs
            Acho q tenho um pouco mais de 100

  2. Hudson Moraes
    3 de maio de 2021

    Você parece ser um game designer bastante dedicado, um analista criterioso, e um jogador exigente. Então gostaria de saber sua opinião sobre essa minha afirmação escandalosa, que chamei de lei de Hudson: “Se um jogo precisa de rejogabilidade, é porque é um jogo ruim! Jogo bom de verdade não precisa ficar mudando as regras a cada partida.” O que você acha disso?

    Responder
    1. Roberto
      3 de maio de 2021

      Obrigado Hudson. =)

      Considerando que “rejogabilidade” seria algo do tipo “variabilidade” (ter mudanças no setup, opções diferentes pra jogar, etc), eu acho que sua lei é válida sim, talvez um pouco exagerada.

      Existem jogos e jogos. Alguns jogos conseguem ser excelentes sem variações, pois a interação entre os jogadores garante que as partidas serão distintas e interessantes. Sendo que existem vários jogos que a interação é baixa. Então, a experiência será bem similar sempre, por isso vale a pena essas variações.
      Então, concordo só que parcialmente. =D

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