Top 5 do Michael Schacht

Antes desse ano começar eu só conhecia dois jogos do Michael Schacht, engraçado como as coisas desenrolaram com o Desafio 100N que conheci outros quatro quase que de uma vez. Então, talvez hoje as impressões sejam até mais curtas e com referências, pois já comentei sobre os jogos recentemente. Como joguei tantos jogos em um curto intervalo de tempo, a memória está mais fresca e acho que consegui traçar uns paralelos entre seus jogos. Vamos lá.

Tudo aconteceu em Março, quando conheci 4 jogos do Michael em um único mês. Todos eles tinham a mesma característica e era perceptível demais: Michael Schacht é um criador de jogos de 2 jogadores frustrado. Talvez ele teste demais com dois jogadores e otimize o jogo nessa configuração? Sei que Stefan Feld faz isso, mas não dá a transparecer nos jogos dele (tirando o Burgundy). Mas por qual razão digo isso? Todos os jogos que conheci, alguns mais do que outros, possuem uma interação e modificação constante do tabuleiro de jogo. Com dois jogadores, esse tipo de modificação e interação não causa nenhum problema, na realidade é até interessante. Afinal, um jogo com 2 jogadores, no qual todas as suas decisões influenciam na jogada do oponente é o esperado.

Entretanto, essa característica, tem a tendência de criar jogos táticos. Nada contra jogos táticos, só não é meu estilo favorito. Por enquanto, nenhum problema. A questão é que, quanto mais jogadores são inseridos no certame, maiores as modificações que acontecem. Consequentemente, chegamos aqui em um potencial problema: caos. Eu faço minha jogada, mas nem adianta olhar o tabuleiro até voltar pra mim, pois até lá tudo estará modificado. É isso que acontece nos jogos do Michael Schacht, em sua maioria. Isso, em minha opinião, é um problema sim. Caos tira as decisões estratégicas, lhe deixando refém do mero acaso.

Outro elemento que eu diria ser mais um vício de design do Michael é as grandes variações de pontos. Além dos elementos táticos e caos, em alguns de seus jogos existe aquela jogada ótima que pode cair no seu colo e lhe dar um montante de pontos que vai lhe garantir a vitória. Então, insira aqui mais frustrações acontecendo, pois não é incomum chegar no seu turno e, sem nenhum esforço seu para tal, existe uma jogada excelente disponível. Jogos assim me deixam até tristes.

Então, no final das contas? Qual é a experiência que tive na maioria das partidas dos jogos do Michael? Ou eu chego no final da partida vencedor e não me sinto merecedor ou eu chego no final da partida perdedor e acho completamente injusto o resultado. Então, é como se terminasse o jogo e eu me sentisse injustiçado pela quantidade de caos e variações de pontos jogadas na minha cara pelo mero acaso. Bom, claro que estou falando da minha perspectiva. O caos pode ter impacto positivo também, assim como a variação de pontos. Esses dois elementos existirem possibilita jogar de mesmo nível com pessoas de diferentes idades e experiências. Então, o que acontece? Os jogos do Michael são excelentes jogos para a família. Nisso eu dou o braço a torcer, pois existem algumas boas decisões, mas no final das contas elas podem lhe render ou não a vitória baseado no caos criado pela mesa e no acaso. E para não deixar apenas reclamações, uma coisa é fato: é fácil de jogar um jogo do Michael. As opções chegam até a ser criadas de uma maneira elegante.

Falando assim parece até que odeio seus jogos, mas não é… Até que gostei ou achei os seus jogos interessantes e com boas sacadas. A questão é que o estilo de criação dele não bate com o meu estilo de jogador. Bom, deixando de conversa, vamos para a lista!

#5. Patrician (2014) Um dos que conheci recentemente. Patrician é um jogo de Controle de Área com todos os vícios de design já citados. O único diferencial é que ele funciona melhor com 3 jogadores do que com 2 jogadores. Entretanto, a razão disso é bem simples: jogos de Controle de Área não são legais com apenas 2 jogadores. Como já disse nas impressões colocadas no Desafio 100N: é um jogo bem simples e direto: jogue uma carta, faça o que ela diz e pegue a carta da localização da carta jogada. O “caminhar” do jogo é até elegante, mas a quantidade de sorte é muito grande. Boas cartas podem cair no seu colo, opções péssimas poderão acontecer quando chegar na sua vez, uma única jogada poderá lhe garantir pontos suficientes para ganhar a partida e por aí vai ao melhor estilo Michael Schacht.

#4. Coloterro (2003) Primeiro jogo que conheci do camarada. Coloretto é um joguinho bem simples, mas divertido. Basicamente, é um Set Collection com o twist que você só pontua bem em alguns dos seus conjuntos e inclusive perde pontos em outros. Resta, então, você conseguir coletar apenas as cartas que deseja e evitar as que irá lhe penalizar. Obviamente, isso não acontece. A aleatoriedade de entrada das cartas, aliados ao caos da mesa, fazem com que você seja obrigado a realizar jogadas que irão lhe prejudicar. A questão é: como se prejudicar o mínimo possível. Acho a dinâmica do jogo interessante, mas é aquela: o caos da mesa faz com que Coloretto seja um jogo melhor jogado em duas pessoas. Entretanto, existem muitas outras opções de Card Games para dois que são melhores. E é aqui que reside minha crítica ao designer: é melhor criar um jogo de 2 jogadores puro e bom, do que um que permite vários mas não desperta as mesmas emoções e experiências. Coloretto com vários jogadores é caótico, mas com apenas dois jogadores falta aquele saborzinho extra da incerteza. Talvez o número ideal fosse 2.5 jogadores.

#3. Hansa (2004) Talvez esse jogo estivesse alguma posição acima se eu tivesse jogado em outras oportunidades com menos jogadores (especialmente 2 jogadores). Eu vi potencial nesse jogo e ainda acredito nele. Ele sofre de todos os vícios aqui citados, mas acredito que nesse caso temos um excelente jogo para 2 jogadores. Resta jogá-lo com essa quantidade para ter a certeza. Entretanto, posso dizer bem tranquilo que é um jogo elegante, com dinâmicas interessantes e boas decisões. A questão é que joguei com 4 jogadores e você não consegue nem dar a volta à mesa sem algo completamente sem noção acontecer. Com essa quantidade de jogadores se torna um jogo puramente tático. Ah, claro, o outro problema é que não é muito bom para daltônicos.

#2. Isis & Osiris (2001) Esse jogo chegou na segunda posição apenas por falta de concorrência e por ser um abstrato legalzinho. Veja bem, Isis & Osiris não é um jogão nem de longe, mas como o Top 5 é meu e eu gosto de abstratos ele galgou essa posição. Como já cansei de repetir, também é um jogo que sofre de todos os vícios de design citados. É um jogo que eu não esperava funcionar, pois envolve abstração (geralmente informação perfeita) com memória (informação imperfeita). É algo meio paradoxal que o jogo funcione, mas devo dizer que é justamente por essa combinação que ele funciona. Se não fosse o aspecto da memória, o jogo seria completamente previsível e decisões muito obvias. Inserindo o elemento da memória, você coloca a incerteza no jogo. O único problema é que, com certeza, terão pessoas que vão conseguir memorizar tudo e “estragar” a experiência do jogo. Entretanto, jogando numa mesa com pessoas mais relaxadas e sem tanta pretensão, ele funciona bem. Resumindo: mais um Family Game, mas dessa vez com uma pegada abstrata.

#1. Mondo (2011) Outro jogo que conhecia a alguns anos atrás e o único da lista que não sofre dos vícios de design citados. Na realidade, depois de ver os quatro jogos e comparar com Mondo, nem parece que foi criado pelo Michael Schacht. Primeiro: é um jogo em tempo real, isso já muda toda a dinâmica. Segundo: é um multiplayer solitaire praticamente, então todo o caos criado pela interação dos demais jogos não acontece aqui. Terceiro: não tem terceiro. Claro que o jogo não é sem seus problemas, me pareceu que alguns tiles são mais fortes que outros e também parece ser um jogo que cansa rápido. Entretanto, comparativamente, Mondo me divertiu e proporcionou uma experiência mais interessante que os demais jogos.

Um detalhe que observei agora é que a maioria dos jogos do Michael Schacht são de antes de 2005. É isso, apesar dos vícios de design dá para ver que Michael Schacht tem boas intensões. Seu estilo é realmente focado para a família e, consequentemente, jogadores mais propensos à jogos médios como eu podem não se sentir tão atraídos. Um jogo que tenho curiosidade é o Mogul, mas imagino que tenha as mesmas características dos já citados aqui.

E aqui a listagem dos jogos que conheço do Michael até hoje (26/04/2019):

Pois bem, ainda restam alguns Game Designers (ou apenas um?) com 6 jogos conhecidos nas costas. Na realidade, ele tem vários jogos pequenos lançados no Brasil recentemente, será que dou a sorte dos amigos adquirirem e eu ampliar esse portfólio? Mais no próximo capítulo.