Depois da beleza do mês anterior, retomamos a lentidão do Desafio em Junho. Esse mês foi raro em jogatinas, mas até que consegui conhecer uma quantidade razoável.
031. Academia (1989) Vai parecer que estou roubando, mas não, eu nunca joguei Academia. Na realidade, meu conhecimento de jogos de loja de brinquedo é pequeno. Especialmente os jogos de Trivia, como Academia. Tudo bem, Academia é melhor que um puro jogo de Trivia, mas não deixa de ser um também. Se você souber as definições das palavras (improvável) você vai vencer o jogo. Talvez você queira me perguntar por qual razão fui jogar esse jogo agora. Bom, uma amiga da minha mãe, sabendo que gosto de jogos de tabuleiro, trouxe esse para jogarmos… hehehe Pois é. Bom, Academia, se você não conhece, é um jogo estilo Dixit, só que com palavras complexas e pré-definidas. Isto é, o jogador da vez não dá uma dica, ele escolhe uma das 5 palavras de uma carta e os demais jogadores devem escrever sua definição. Depois, no mesmo estilo do Dixit, os jogadores votam na resposta que acreditam ser a correta. Não posso dizer que Academia é um jogo ruim, eu poderia até chamá-lo de Dixit Old School. O problema é que a diferença entre ele e Dixit é notável, especialmente a “deselegância” presente no jogo: em Academia o voto não é secreto/simultâneo, então dá para traçar chutes com base no chute dos outros; o jogador da vez é praticamente um computador, servindo apenas para escolher uma palavra e ler as respostas dos outros; e existe a infame fichinha para escrever, que requer um malabarismo para que ninguém leia. Fora que, ao contrário de Dixit, Academia pode ser difícil de ganhar pontos, pois é difícil ninguém acertar a definição correta (especialmente em um jogo com 5 pessoas) e também é difícil votarem na sua definição se você ainda não tiver pegado a manha. Um dos jogadores ficou uns 4 turnos sem avançar um ponto. Resumindo: entendo o apelo do jogo, mas Dixit faz tudo que Academia faz, só que melhor e de uma maneira mais acessível e familiar. Inclusive, aproveitei o embalo e apresentei Dixit para o pessoal. Gostaram, apesar de terem achado muito “abstrato”, e realmente Dixit é muito mais abstrato do que Academia, mas essa é justamente a graça do jogo. A possibilidade de qualquer um vencer, pois figura é um conceito universal e o twist de precisar que alguém acerte, mas não todos, cria toda a dinâmica interessante do jogo. |
032. Ganz schön clever (2018) Eu acho a ideia de Roll and Write interessantíssima. Não por ver brilhantismo, mas por quatro fatores: baixíssimo custo, simplicidade nas regras, jogabilidade simultânea e infinitos jogadores. Esse jogo não possui 2 dos 4 fatores que acho interessante. Ganz Schön Clever não permite infinitos jogadores, na realidade são apenas quatro e não tem seleção simultânea dos dados. Obviamente, remover essas características bastante comuns em jogos da categoria possibilitaram a melhor mecânica do jogo: interação com os dados e quais dados ficariam disponíveis para os oponentes. Entretanto, pesou demais para mim em termos de diversão. Pesou demais em termos de Downtime. Não achei um jogo “clever” (esperto em inglês), pois seu maior twist de regras tirou as qualidades que eu gosto no estilo. Adicionalmente, esse é um dos jogos Roll and Write com maior elemento de sorte, pois os dados não são de uso comunitário. Isso não significa que o jogo é ruim, só não se adequou aos meus gostos. Se você gosta de Roll and Write e sempre se incomodou com a falta de interação, vale a pena conhecer. A interação não é gigante, mas existe pelo menos influência das suas ações nas opções dos outros jogadores. Se você gosta de jogos solo, talvez também seja ma boa pedida. Entretanto, achei que a pontuação da partida solo não é um mérito seu, mas sim dos dados que você rolou durante a partida. Sem outros jogadores para comparar a pontuação, fica simplesmente esquisito demais. |
033. Alhambra (2003) Demorei, mas finalmente conheci o famoso Alhambra. Como vocês já devem ter percebido, não sou dos maiores fã de jogos Gateway, mas até que gostei desse. Nunca tive uma expectativa alta para Alhambra, talvez pelo sistema de compra um tanto esquisito (comprar sem troco, mas se comprar pelo valor exato ganha ação extra?), mas essa ideia funcionou melhor do que eu esperava. É possível realizar pequenas jogadas pensando uma ou duas jogadas à frente com base nas moedas e construções disponíveis. A construção que você faz durante o jogo deixa o jogo com uma pegada um pouco mais estratégica, apesar da tática ser o elemento mais presente no jogo. Achei o jogo um pouco repetitivo, mas não atrapalhou tanto na experiência. Talvez se ele fosse mais curto, fosse difícil reverter situações ruins na pontuação e criasse um problema grave de runaway leader, que de certo modo até está no jogo, mas é algo reversível por conta da pontuação que escalona demais durante a partida. Talvez a duração foi pro lado mais longo, pois jogamos com algumas promos, deixando o jogo umas 3 rodadas mais longo. Outro problema que achei foi as restrições com o tile placement, existem apenas 4 tiles disponíveis e pode acontecer de nenhum dele servir para você. Isso aumenta o elemento de sorte do jogo, pois pode ter o tile certo para você ou nenhum que preste. Bom, em todo caso, mesmo com esses vários pontos e gargalos envolvendo sorte e tática, eu achei que o desenvolvimento do jogo funciona. Jogaria novamente e estou em momento de reflexão sobre comprá-lo, assim tenho mais um jogo introdutório. |
034. Ultimate Warriorz (2011) Jogo com ideia bastante similar ao King of Tokyo. São várias criaturas se enfrentando numa arena, sendo que o jogo se desenrola com cartas jogadas simultaneamente. O que dá uma certa agilidade ao jogo. Os personagens são assimétricos e o jogo comporta até 8 pessoas, podendo ser extremamente caótico e imprevisível. Talvez se você conhecer as cartas de todos os personagens, seja possível bolar uma estratégia efetiva, mas de modo geral é tudo muito dependente do comportamento da mesa. Na partida que joguei, por exemplo, o personagem com mais vida (que deveria ser atacado mais constantemente por ter a defesa mais baixa) foi ignorado durante boa parte da partida, pois os demais estavam com medo de retaliações. A resolução dos ataques é feita com dados que são rolados e devem ser iguais ou maior que a defesa do alvo (que varia de acordo com a carta usada), trazendo uma boa dose de sorte. A escolha das cartas também lhe deixam a mercê da sorte, já que são escolhidas em segredo e reveladas simultaneamente. Por exemplo, existem algumas cartas que lhe deixam parado no mesmo lugar, mas você ataca com muitos dados. Elas são bem difíceis de usar, pois requer ou que um jogador no mesmo espaço que você faça o mesmo (jogue uma carta de zero movimento) ou que algum jogador se jogue no espaço que você está (difícil, pois ele poderá ver que seu ataque irá diretamente nele). No final das contas, me diverti mais jogando ele que King of Tokyo, talvez por ter jogado ele apenas uma vez. Ultimate Warriorz é um jogo que deve ser encarado como descompromisso. Você precisa abraçar o caos, especialmente se a mesa tiver muitos jogadores. Concluindo, eu jogaria novamente, para ver se permanece divertindo ou se entra no âmbito de jogos com falta de profundidade que enjoam depois que a novidade passa. |
035. Through the Desert (1998) Primeiro gostaria de falar das cores desse jogo. O jogo conta com 10 cores diferentes e quase todas funcionam muito bem. Como a informação fica toda na mesa, ficava tranquilo eu perguntar para ter certeza. Não é o melhor exemplo de jogo funcional para daltônicos, mas dado a quantidade de cores e confusão no tabuleiro, acho que ele chegou em uma qualidade interessante. Não recomendo um daltônico comprar, mas deve ser relativamente tranquilo de jogar. Sobre o jogo em si, eu esperava mais. Não que eu tenha achado o jogo ruim, mas Through the Desert não é tão “jogão” quanto eu imaginava. Ele me lembrou um pouco o Battle Sheep, um jogo que tenho na coleção, não pelas suas mecânicas, mas pela sua facilidade de decisões e alta dependência de sucesso com base na jogada alheia. Como assim? Bom, no seu turno você tem umas 5 jogadas ótimas, mas só poderá colocar 2 camelos no tabuleiro, isto é, duas jogadas. Você precisa decidir qual realizar com base no que os seus oponentes podem fazer para prejudicá-lo. Então, o processo de decisão é bem simples: colocar elas em prioridade com base no estado atual do tabuleiro, realizar a ação e rezar para que seu oponente não “estrague” as outras 3 jogadas ótimas que você tem. Não me pareceu um jogo muito profundo, mas posso estar completamente enganado, já que alguns dos jogadores tiveram Analysis Paralysis em alguns momentos. Talvez jogando com um grupo mais experiente ficasse mais visível o quanto a estratégia influencia na partida. Na mesa que joguei, apenas o dono do jogo conhecia, os outros 3 jogadores eram novatos como eu. Eu venci a partida, mesmo ignorando um dos camelos, pois eu confundia a cor dele com outro tipo de camelo. Achei também a pontuação por ter a maior caravana de uma cor (aglomerado de camelos) muito alta e com alta variância, pois você pode ter 12 camelos de uma cor, se o oponente tiver 13, você perdeu 10 pontos e ele ganhou 10 pontos. A discrepância é muita por conta de “apenas” um camelo. Para um jogo com tanta interação, achei desnecessário esse outro fator. Jogaria novamente, para ter uma melhor noção da realidade e também pela simplicidade e elegância do jogo. |
036. The Name of the Rose (2008) Não sei se vocês já captaram isso, mas eu gosto bastante de jogos de dedução no qual cada jogador tem uma cor secreta. Jogos desse estilo foram a minha inspiração para criar o ArkMago. É um estilo que tem vida própria, como se não precisasse de muitas regras ou complicações para funcionar. The Name of the Rose vai na contramão dessa ideia. Sendo um jogo do Stefan Feld, faz completo sentido a maneira que o jogo funciona. Entretanto, acho que ele errou feio ao inserir mais complexidade em um estilo que não requer complexidade. Eu digo isso, pois já é complexo o suficiente você precisa observar os outros jogadores para deduzir qual a cor de cada um, se além disso você tiver outros elementos para se preocupar, precisará mudar seu foco durante a partida, se distanciando da parte mais importante: a dedução. Inclusive, um ponto bastante negativo é que a dedução pareceu irrelevante, um jogador que todo mundo acertou a cor venceu a partida. Existe um fator de sorte muito grande na partida, que é na coleta dos Eventos que dão muito pontos negativos. Se você der azar e só sacar cartas de valor elevado, você irá perder o jogo. Como a dedução não é tão relevante, mesmo que você deduza todos os jogadores corretamente, se você deu azar com as cartas, você irá perder. Além disso, o esquema de pontuação por dedução não é dado com bônus para o jogador que acertou, mas com como penalidade para o jogador acertado. Isso transforma o último jogador em Kingmaker. Em resumo, não gostei da experiência por conta desses vários engasgos proporcionados por um jogo deselegante e confuso, quando poderia ser muito mais simples e agradável. Infelizmente, Feld falhou nesse. |
037. Last Will (2011) Last Will já esteve na minha Wishlist. Sendo que como o jogo é uma corrida e eu não gosto de Euro Games com corrida por pontos, terminou que ele saiu da Wishlist. Entretanto, mesmo com esse fator, a curiosidade de conhecê-lo sempre permaneceu comigo. Nesse jogo, o objetivo é um tanto inusitado: os jogadores não estão tentando adquirir a maior fortuna, mas sim torrar a sua fortuna. Esse conceito foi o que me atraiu no jogo, pois é um twist interessante e não lembro de ter visto em outros jogos. Durante a partida tivemos vários engasgos com o jogo, pois o manual é muito ruim para ser consultado. Talvez para aprendizado ele seja excelente, mas tínhamos 2 manuais com 2 pessoas consultando e tivemos bastante dificuldade em encontrar respostas para nossas dúvidas. Sinceramente, terminei a partida sem saber se jogamos tudo corretamente ou não. Entretanto, apesar dos percalços, o jogo é interessante sim. Especialmente em termos de mecânica, mesmo sem existir inovação nas mecânicas. O esquema de ordem do turno com poderes variáveis é muito similar à Fresco, e depois foi re-utilizado em Alquimistas; o Worker Placement é totalmente padrão, sem nenhuma firula; e a fase de ativação lembra os mais variados Card Games com Engine Building. A partida foi bem rápida, levando em consideração que perdemos maior parte do tempo consultando o manual. Isso para mim é um grande extra e me deixou interessado em jogar novamente. Inclusive, depois dessa partida, meu interesse no sucessor de Last Will, um jogo chamado The Prodigals Club, aumentou bastante. |
Finalizado mais um mês, estamos exatamente no meio do ano. Isto é, eu deveria estar com 50 jogos. Então, estou bem atrasado. Será que mês de férias irá contribuir para o avanço ou piorar a situação? Nos vemos próximo mês.
6 de julho de 2018
Joguei academia uma vez só e achei excelente haha
A oportunidade fez o jogo, praia, álcool, jogamos bem diferente do que você relatou, não tinha jogador da vez pois era uma pessoa fixa. Acho que o dono do jogo não leu o manual e foi daquele jeito mesmo. Teve situações muito inusitadas e fico imaginando se aquele Telestration seria parecido.
Tenho o Through The Desert aqui, peguei justamente na época que queria jogos jogados 100% no tabuleiro principal (peguei um Mexica tb). A principio achei suuuuper leve, meio bobo e como testei só eu e minha companhia (relatei isso no Instagram essa semana), quase saímos no tapa devido as interações fortes. Depois fui jogando mais, com diversos grupos e comecei a ver formas diferentes de conduzir o jogo em cada partida, com jogadores mais experientes e novatos inventando “modas” hehe Quando jogo no grupo familiar (galera sangue nos olhos) o jogo demora mais na parte de colocação dos camelos iniciais do que na colocação dos camelos das caravanas… jogadas extremamente estratégicos! Posso lhe dizer que o jogo cresce com mais jogos sim.
6 de julho de 2018
É aquele negócio, todo jogo fica legal com a galera certa e no momento certo. Academia é um jogão (dado a idade), mas Dixit é uma evolução em todos os sentidos.
Telestrations é muito diferente do Academia. É basicamente telefone sem fio, só que com desenho + texto. Recomendo você jogar ele com papel, é mais uma atividade do que um jogo, mas bem divertido.
Ficou perceptível no Through The Desert o quanto a posição inicial é importante. É como Battle Sheep, o posicionamento pode render a vitória ou derrota. Obviamente o decorrer do jogo é relevante, especialmente pela interação e ordem das coisas, mas o posicionamento inicial tem um peso bem grande.
18 de julho de 2018
Suas dicas de jogo são muito bacanas. Estou esboçando um jogo que verse sobre compra de alforrias por escravos. Não faço ainda a menor ideia de como será o jogo, mas sinto necessidade de usar o lúdico para transmitir um pouco da vivencia dos africanos escravizados.
Espero encontrar nas suas dicas muitas inspirações.
18 de julho de 2018
Opa Lair, não entendi muito bem o que foi pedido. Você quer recomendações de jogos com temática de escravos? O mais famoso é o Freedom: The Underground Railroad. É um jogo cooperativo sobre a libertação de escravos. Nunca joguei, mas é bem aclamado.
18 de julho de 2018
Não, meu amigo. Quis somente dizer que com suas impressões sobre jogos espero ter inspiração para desenvolver um que aborde a alforria de escravos. E obrigado por mencionar o jogo Freedom: tthe underground railroad. Como sou iniciante, não o conheço.
18 de julho de 2018
Ah, entendi agora Lair. Que bom que as impressões ajudam também no desenvolvimento! Abração.