Lição #8: Sempre simplifique

Não sei vocês, mas eu tinha uma mania feia de corrigir problemas adicionando novas mecânicas. Com o tempo, acho que aprendi o suficiente para evitar adicionar. Sendo que na época de C3X, eu adicionava sem dó, eram novos componentes, novas mecânicas, variantes, e até fases inteiras novas, eu estava imparável! O pior não era isso, eu achava que estava sendo muito esperto com tudo aquilo.

Não se iluda como eu. Quanto mais mecânicas forem adicionadas em um jogo, mais complexo ele fica e consequentemente maior a probabilidade de ele terminar com algum problema ou pior, virar um monstro. Precisamos lembrar que o jogo deve divertir e, raramente, complexidade é sinônimo de diversão.

É muito comum no começo da criação de um jogo, você ir inserindo mais e mais características no jogo. Ué, não está funcionando o meu sistema de combate apenas baseado nos dados de ataque? Vou inserir dados de defesa.  Eita, esses dados de defesa deixaram o jogo muito lento. Vou inserir um sistema de explosão de dados, para possibilitar muito dano. Droga, essa explosão está muito dependente de sorte… Que tal colocar um recurso que eu posso usá-lo para manipular os meus dados? Só resta saber como obter esse recurso. Já sei! Posso criar um sistema de spawn para que ele apareça na arena esporadicamente. Ah, mas agora que criei esse sistema de spawn, seria interessante ter algo acontecendo todo turno. Vou criar mais outros três recursos. E assim, você pode destruir a proposta do seu jogo, transformando-o em algo completamente diferente. É preciso ter cuidado para não perder o controle sobre sua criação.

Diferentes versões dos tabuleiros dos jogadores de C3X. Em alguns caso há evolução, em outros há apenas mais complexidade.

Qual seria o processo correto? Não sei, mas falarei um processo que acho melhor. Vamos retornar para o problema do sistema de combate apenas baseado nos dados de ataque não funcionam. Como proceder? Primeiro identifique o problema. Não funciona porque o oponente não está tendo chance de defesa. Depois encontre a causa do problema. Ele não tem chance de defesa por qual motivo? Pode nem ser por conta do dado, pode ser simplesmente porque a movimentação está irrelevante, logo é muito fácil se tornar alvo dos ataques. Então, na realidade, não é necessário mudar o sistema de combate, mas sim a movimentação. Assim, você regula a movimentação, talvez até adicione mais escolhas para os jogadores e deixa o jogo mais interessante sem inserir novos sistemas.

Então… Sempre. Sempre simplifique seu jogo. Policie-se com relação às soluções “inovadoras”, pois elas podem levar seu jogo em uma direção ruim. Às vezes você acha que aquela ideia de mecânica se encaixa bem no seu jogo, mas na realidade pode estar destruindo outros dois sistemas que funcionavam perfeitamente. Você não precisa inserir todas as suas boas ideias em um jogo só. Se você for seguir como game designer, você vai criar muitos jogos. Com certeza, outros dos seus jogos poderão usufruir das várias ideias que você tiver.

Simplificar pode não ser o caminho mais fácil ou o mais excitante, mas é capaz de gerar ótimos jogos. Não é apenas deixar um jogo simplório, é preciso inserir complexidade junto com decisões importantes de modo que seu jogo permaneça interessante, divertido e desafiador sem ser difícil de aprendê-lo, ensiná-lo ou jogá-lo.

Mas tenha em mente, que simplificar não é matar todas as regras difíceis ou complexas. Simplificar é criar uma experiência fluída e intuitiva. Criar um jogo complicado é fácil. Difícil é criar um jogo bom.

2 Comments

  1. Emerson
    5 de março de 2017

    Muito boa lição. Sofro com isso muito porque logo no começo é bem empolgante adicionar coisas. ( e bem dificil saber parar)

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  2. Daniel A. Freire
    20 de agosto de 2020

    Interessante!

    Responder

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