Top 5 do Reiner Knizia

Tem um bom tempo que estou tendo dificuldade em criar conteúdo. Afinal, estamos falando de algo finito e que surge a medida que você reflete sobre o assunto. Tempo escasso, complicou a situação. Então, estive pensando que este pode ser um bom momento para iniciar uma nova Coluna. Como não tem muito conteúdo sobre Game Design para inserir mais (ideias são bem vindas), resolvi falar sobre os próprios Game Designers. Para começar, vou falar dos meus jogos prediletos dos autores e a partir disso, outras postagens virão. Vejamos no que dá. Claro que para iniciar a brincadeira, trouxe o Game Designer com mais jogos nas costas: o mestre (perdão, Doutor) Reiner Knizia.

Antes de começar com o Top 5, eu gostaria de tecer alguns comentários sobre o que acho do Knizia. Primeiro, tenho grande respeito pelo cara… Afinal, ele está desde a vanguarda, muito antes da explosão em popularidade dos jogos de tabuleiro. E não só isso, ainda está na ativa. E não só isso, ainda está lançando jogos com premissas interessantes. Por exemplo, eu tenho vontade de conhecer o El Dorado, mesmo odiando Deck Building e sem ter grande apreço por jogos de corrida. A combinação me intrigou, vi um Game Play e me deixou empolgado. Isso é bem raro.

Segundo, como ele lançou tanto jogo, é o autor que mais joguei na vida. Conheço 28 jogos do Reiner Knizia e, mesmo conhecendo tanto, não conheço vários jogos famosos dele, como o já citado El Dorado, Samurai ou Amun-Re. Com certeza é um autor que se você gostar, terá conteúdo para uma vida inteira. Afinal, são centenas de jogos lançados. Eu aqui tentando botar um joguinho no mundo e o cara com centenas…

Terceiro, mesmo com tantos jogos e com todo o respeito que sinto pelo Knizia, eu não sou tão fã dos jogos dele. Não que eu ache os jogos ruins, mas em geral eu acho que os jogos dele caem em duas posições: “meh” ou “ok”. Apesar de vários deles terem algumas sacadas excepcionais, não acho os jogos em sua completude como sendo jogos excepcionais. Deve ser o fator “diversão” mesmo. Eles não divertem tanto assim, apesar de serem jogos completamente funcionais, balanceados e até inteligentes. É um sentimento engraçado. Talvez apenas uma questão de gosto. O fato é que tirando o meu Top #1, não acho nenhum dos outros jogos do Knizia excelentes. Tanto é que tive alguns deles na coleção e não mantive nenhum. Curiosamente, mantenho um jogo chamado Sushizock que é de dados. Não é um jogão, mas a simplicidade, portabilidade e qualidade dos componentes fizeram ele permanecer na coleção.

Quarto, vamos deixar de conversa fiada…

#5. Beowulf: The Movie Board Game (2007)
Já falei desse jogo antes, é um desses que gostei, mas vendi. Beowulf é um jogo bem abstrato e matemático. Apesar de não gostar tanto de ficar fazendo continhas em jogos, eu gostei de Beowulf, pois a matemática não precisa ser feita de fato… Afinal, são “apenas” os pontos que você vai vencer, basta tentar conseguir o máximo possível, em vez de ter uma noção exata de quanto você tem (como Power Grid, por exemplo, que você deve calcular todos seus gastos ou vai jogar porcamente). Pois bem, Beowulf é um jogo interessante e divertido, joguei 13 vezes antes de cansar dele. O motivo do cansaço foi que o jogo tornou-se repetitivo demais. Afinal, a única mudança de partida para partida eram os oponentes e a aleatoriedade dos tiles comprados. Tendo em vista meu baixo limiar para jogos com rejogabilidade baixa, acho que Beowulf tem bastante mérito. É o tipo de jogo que eu recomendo para quem gosta de abstratos com alta interação e decisões interessantes. A sorte está presente, mas não é fator decisivo, conta muito mais o posicionamento e timing do jogador na partida. É aquele tipo de jogo que uma jogada bem acertada pode lhe dar uma chance de vitória boa. Entretanto, o desenvolver durante a partida também importa, pois são muitos pontos adquiridos em cada um dos atos.
#4. Ra: The Dice Game (2009)
Provavelmente o melhor Dice Game do Reiner Knizia. Acredito que existe algum problema com o contrato, pois o jogo está Out of Print tem um tempo e ainda não foi relançado. Apesar de merecer ser relançado. O jogo tem uma pegada meio Euro Game de dados, quase como se fosse um dos primórdios de Dice Placement (apesar de não ser um). Knizia usa a mecânica clássica do Yahtzee (jogar os dados uma vez e poder re-rolar algumas vezes) e coloca vários símbolos com diferentes sistemas de pontuação. A ideia é simples, mas funciona bem. Minha maior crítica é que às vezes você pode sentir que o jogo joga você, pois as decisões sobre as rolagens podem ser óbvias. Ele tem aquele feeling que citei acima, do jogo ser muito bem elaborado, mas não divertir tanto. Recomendo para quem gosta de jogos de dados, mas quer algo com alguma profundidade a mais e baixo confronto.
#3. Tower of Babel (2005)
Esse jogo chegou nessa posição por um simples motivo: o cara conseguiu fazer um jogo de negociação sem negociação. Que coisa genial. Eu odeio negociação em jogos de tabuleiro, pois sempre rola aqueles chorinhos, apelo pro emocional, acordos non sense acontecendo durante a partida. Tower of Babel transforma a negociação em um sistema de Blind Bid, mas quem decide o lance vencedor é o jogador da vez. Isto é, ele não precisa necessariamente escolher o melhor lance, mas sim o que mais interessar ele naquele momento baseado na situação da mesa, pontuação dos oponentes, quantidade de peças em determinadas áreas, etc. Sério, achei genial mesmo. Uma sacada tão simples, mas tão funcional. Claro que digo simples, mas não é simplista… Existe todo um jogo por trás, que se não fosse da maneira que fosse, essa ideia genial não funcionaria. Então, palmas. É um jogo fácil de jogar e simples, mas que tem uma sacada que achei interessantíssima. Gostaria de ver um jogo maior e mais robusto usando a mesma ideia, quem sabe não tem um no forno pelo próprio Reiner Knizia?
#2. Through the Desert (1998)
Adoro jogos abstratos, não sei bem o que me atrai neles… Talvez por gostar tanto de mecânicas, eu simpatizo com a ideia de jogar algo sem tema ou com tema meramente ilustrativo. Eu já falei bastante desse jogo no Desafio 100N e pelo que falei por lá parece até que odiei o jogo. Não amiguinho, a questão é que no Desafio 100N eu teço comentários bastante críticos sobre os jogos mesmo. É simplesmente a maneira que eu resolvi caminhar com os textos, pois acredito que é um tipo de conteúdo em falta. Quem nunca se incomodou em só existirem resenhas positivas por aí? Pois é. Bom, obviamente eu achei alguns problemas com o jogo, mas em geral eu gostei do Through the Desert. É um jogo abstrato com bastante interação, várias decisões táticas e alguns pontos estratégicos. Vale a pena conhecer, até mesmo quem não é tão fã de abstratos, pois os componentes do jogo são um show a parte.
#1. Battle Line (2000)
Melhor jogo do Reiner Knizia, sem comparação. Aqui a fórmula dele funciona. É um jogo simples, matemático e que, por alguma razão obscura, é divertido e envolvente. Acredito que sejam as decisões de cortar o coração que você precisa tomar. Battle Line é um jogo que gera fortes emoções, pois a aleatoriedade é presente de uma maneira um pouco cruel. Você está querendo formar uma sequência, mas já passaram-se 5 turnos e nada da vir a carta que você precisava. Então, você resolve sacrificar a sequência para realizar uma jogada sub-ótima e no turno seguinte chega a carta que você queria. É de arrancar os cabelos, mas de uma maneira que eu me divirto. O jogo lembra muito carteado de baralho mesmo, sendo que com um design moderno por trás. Qualquer pessoa deveria conhecer Battle Line e jogar pelo menos uma partida do jogo. Sério. É daqueles jogos que existe sorte, mas você percebe o quanto de pensamento tático e estratégico você pode ter para aumentar significativamente suas chances.

Então, depois de ver esse Top #5, você talvez se pergunte: cadê o melhor jogo do mestre (Tigris & Euphrates)? Nunca joguei o físico, mas já joguei o aplicativo e não gostei muito. Obviamente, esse pode ser o motivo de não ter gostado e estou disposto a jogar a versão física para ter uma melhor noção. Na verdade, me interessa mais a versão “remasterizada” do jogo que foi lançada agora em 2018, chamado Yellow & Yangtze, pois o original é um pouco confuso em suas regras de confronto. Que no aplicativo são resolvidas automaticamente, mas no jogo físico não é.

Talvez você também estranhe a falta de um jogo de Leilão. Afinal, são tantos jogos que usam essa mecânica criados pelo Knizia. A questão é que eu odeio Leilão. Especialmente os mais convencionais (vários lances rodando a mesa), que ele utiliza bastante… Especialmente nos jogos mais antigos.

Em todo caso, segue lista com todos os jogos que já joguei do Reiner Knizia até o dia desta postagem (26/10/2018):

Concluindo, eu gostaria de aproveitar a oportunidade para pedir recomendações de jogos que eu não joguei do Reiner Knizia que você diria que valeriam a pena. Fale um pouco sobre o jogo, diga o que poderia me agradar. Ou simplesmente bota o nome que eu mesmo pesquiso. Também aceito críticas e sugestões sobre essa nova Coluna, tanto sobre o formato do Top 5, como as futuras postagens sobre os autores que ainda será elaborada. Espero que tenham gostado da ideia.

10 Comments

  1. Cássio Nandi Citadin
    26 de outubro de 2018

    Fala Roberto!

    Muito bom o conteúdo, pode continuar mandando reviews (como vc disse, com a parte ruim do jogo, são muito úteis) e listas por designer ou estilo são muito boas também para quem é curioso sobre as suas influências.

    Me identifiquei com esse tópico pq Knizia foi o primeiro designer que me apaixonei (cegamente) pelo trabalho. Depois de jogar algumas coisas sortidas dele fui investigando no BGG e cheguei as tais trilogias de tile-laying, trilogias de leilão e vários subgrupos que o pessoal gosta de classificar. Fui comprando jogos dele cegamente só por que tinha o nome dele na tampa da caixa ahaha Claro que me arrependi (financeiramente, espaço e tempo tb). Ele tem ótimos jogos, mas alguns bebem dos mesmos conceitos e geram overlaps na coleção.

    Pensei em pegar Yellow & Yangtze, mas já tenho T&E… Tenho Rá e Medici (meu preferido pela simplicidade e ritmo), sinto conflito já entre eles, nunca pegaria um Modern Art nesse caso.

    Enfim, respeito muito o autor, estou sempre a fim de embarcar numa partida de um Knizia-Qualquer (que já é acima da média da maioria por ai) mas entendo que ele reutiliza alguns tricks de um jogo pro outro.

    Responder
    1. Roberto
      27 de outubro de 2018

      Que massa, Cássio. Eu sempre me disponho a jogar um jogo do Knizia, pois também respeito o cara… E minha esperança é encontrar outros jogos que casem tão bem comigo como Battle Line fez. Fora que os jogos deles são uma aula de Game Design também.

      Essa questão de overlaps e jogos similares, o Knizia faz, mas não é só ele… Na realidade é até raro um autor que não faça. Especialmente no caso do Knizia, acho que a quantidade gigante de jogos só é possível por conta disso. Não tem como ser diferente em todos com tantos jogos publicados hehehehehe

      Pelo visto você jogou um bocadinho dos jogos do mestre. Diz aí teu Top 5. 😉

      Responder
      1. Cássio Nandi Citadin
        27 de outubro de 2018

        Grande Roberto, modestia parte, coloco os jogos do Knizia na seguinte ordem

        1 Tigris & Euphrates – talvez o jogo mais pesado dele (o próprio Yellow & Yangtzee é considerado mais solto e perdoa mais os jogadores). Ele seria a representação da visão dele de um Euro-Raiz pesado dentro do repertório de soluções de design dele. Apesar de confundir muito o jogador inicial com o uso de simbolos no lugar de cores, depois que se pega a manha da coisa e o jogo vira uma guerra a céu aberto, mas sempre com alternativas (dificil ficar preso e incapaz em uma partida). Só tive experiencias boas (App e Presencial).

        2 Medici – Jogo de leilão gostosissimo. Regras simples e aquele lance de usar só cores e numeros. Muito bom em qualquer contagem de jogadores, e as versões mais recentes tem até melhorias pra jogar em 2 players.

        3 Schotten Toten (familia Battle Line) – como vc disse, um jogo que te faz sofrer com cada decisão. A versão da Iello é muuuito bonita e simpática pro jogador novo (mas ainda prefiro a aparencia de euro com tons pastéis do Battle Line ahhaa)

        4 Loot – O jogo de butéco do Knizia. O cara consegue ir do pesado ao leve usando coisas semelhantes, apenas mudando a dinamica dos jogadores. Novamente cores e números, um “leilão” disfarçado de guerra de piratas.

        5 Samurai – O jogo de fazer combos do Doutor. Da família de Tile-Layings dele, esse aqui permite estocar peças com um simbolo específico (que permite jogar várias de uma vez só) e preparar uma mega jogada que vira o jogo. Satisfatório!

        Responder
        1. Roberto
          27 de outubro de 2018

          Valeu, Cássio. Boas colocações. Acho que desses o que mais me agradaria seria o Samurai. =)

          Responder
  2. Rodrigo Rego
    29 de outubro de 2018

    Fala Roberto. Achei a ideia ótima, justamente porque é uma nova forma de você veicular suas críticas curtas e rabugentas que fazem muita falta no meio mesmo. De sugestão de jogos do Knizia, eu tentaria o Amun Ré mesmo não gostando de leilão, pois a dinâmica do leilão dele é diferente, não fica naquelas rodadas eternas com cada jogador colocando +1 no preço do outro.

    Concordando contigo no top 1, os meus 5 favoritos seriam:
    1. Battle line
    2. Ra
    3. Tigris
    4. Through the desert
    5. Amun re

    Abraço!

    Responder
    1. Roberto
      30 de outubro de 2018

      Fala Rodrigo! Achei excelente sua definição “críticas curtas e rabugentas” huehuehueheu

      Valeu pela indicação, quando tiver a oportunidade jogo o Amun Ré!

      Responder
  3. Fabio
    17 de fevereiro de 2020

    Grande Roberto!

    Por um acaso cheguei ao seu site, então primeiramente gostaria de deixar o meu parabéns, até os posts em que li, estou gostando bastante, embora não concorde com muita coisa que você diz! Rsrs
    Li um pouco do seu material para conhecer os seus argumentos e até os seus gostos e já vi que é bem diferente do meu.
    Mas vamos lá…
    Tem muitos jogos que eu jogo sem saber quem é o designer e depois que descubro me surpreendo.
    Até agora joguei poucos jogos do Knizia, mas gostei.
    Joguei apenas o Lost Cities board game e me surpreendi muito com ele, só achei a versão que tenho muito feia e com o tabuleiro muito grande para o que o jogo pede; e outro foi o battle line, que joguinho interessante, muito estratégico (gosto de jogos que o fator estratégico é maior que outros).
    Tenho muito interesse de conhecer Tigris, desert, amun re, medici, art moderna e genial.

    Responder
    1. Roberto
      17 de fevereiro de 2020

      Fala Fabio,

      Bem vindo! Normal a discordância… hehehehe

      Knizia é bom demais, vale a pena ir atrás dos títulos dele para conhecer. Dado que ele publicou demais tem muita coisa ruim, mas acho que o saldo é extremamente positivo… Especialmente se você for atrás dos mais bens cotados (como os que você citou). Meu único problema com ele é quando usa Leilão. Mas é aquela, é muito de gosto isso.

      Abraço e espero que esteja curtindo o conteúdo.

      Responder
  4. Marcos
    2 de agosto de 2024

    Não tive oportunidade de conhecer muitos jogos do Knizia, mas Lost Cities é um dos melhores jogos ue conheço para 2 pessoas e Abandon Ship considero muito bom, apesar de simples. Gostei da experiência com Kariba,

    Responder
    1. Roberto
      3 de agosto de 2024

      Opa Marcos, se você gosta do Lost Cities, dá uma olhada no Battle Line. É basicamente um Lost Cities retrabalhado. Vão lançar aqui na versão Schotten Totten. Esse post é de 2018, eu já joguei o Kariba também, é legalzinho. Entretanto, esse Abandon Ship nunca nem ouvi falar. Hoje em dia, um que queria conhecer dele é o Babylonia.

      Responder

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